Apenas 25,5% da população carioca recebeu a primeira dose do imunizante contra a covid-19. Na foto, Alan Brasil Vieira, de 32 anos, diz que deve visitar sua tia após a vacinação
Apenas 25,5% da população carioca recebeu a primeira dose do imunizante contra a covid-19. Na foto, Alan Brasil Vieira, de 32 anos, diz que deve visitar sua tia após a vacinaçãoEstefan Radovicz / Agência O DIA
Por Jorge Costa*
Rio - Sem otimismo, nem pessimismo. Foi assim que a população carioca recebeu, com cautela, na manhã desta quinta-feira (13), o anúncio de vacinação em massa feito pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, que divulgou o calendário de vacinação até o mês de outubro com o plano de imunizar todos os adultos entre 59 e 18 anos. Especialista ouvida pelo DIA afirmou que - desde que seja cumprido a entrega de doses - o cenário é positivo, pois seria possível garantir uma maior previsibilidade em relação ao contexto da pandemia no município.

A pandemia prejudicou a vida de muitas pessoas, entre elas, a da cabeleireira Eliza Stofell, de 36 anos, que teve uma perda da metade de sua renda devido à redução de clientes que procuravam os seus serviços. Seguindo o calendário atual da prefeitura, sua vacinação pode acontecer no dia 19 de agosto, e ela disse ter expectativas de poder se sentir mais protegida após a sua imunização.

"Que venha logo essa vacina para que possamos ficar protegidos, mas a verdade é que não estou muito ansiosa, porém, entrego tudo nas mãos de Deus. Se a campanha fosse feita antes, teríamos uma quantidade muito menor de mortes, sem contar os prejuízos que eu tive de pelo menos 50%, mas espero que isso mude logo para que eu possa voltar a ter a minha rotina normal", ponderou.

Mesmo considerando os problemas que ela teve na pandemia, ela mencionou que se sentiu aliviada com o anúncio da vacinação da população adulta. "A minha vida parou e muita coisa aconteceu, eu tento viver um dia de cada vez com essas restrições e tento lidar com o medo. Eu interrompi muitas atividades, e depois de ser vacinada, se tudo melhorar, eu pretendo viajar, passear um pouco e me libertar dos problemas", disse.


Para quem trabalha em casa o impacto da pandemia foi um pouco menor. Essa é a opinião de Allan Brasil, de 32 anos. Ele, que atua na área do Marketing Digital, disse que o home office já fazia parte de sua rotina desde antes do surgimento da covid-19, mas que a doença prejudicou suas atividades de lazer e contato com a família.

"A minha vida não mudou muito em relação ao trabalho porque eu já estava em home office antes. Mas no lazer afetou sim, deixei de sair, passear no shopping, o que eu acho importante também além das responsabilidades. Tenho uma filha de seis anos e após a vacinação eu gostaria de levar ela para visitar a minha tia, que tem mais de 80 anos e para proteger ela nós evitamos o contato presencial", mencionou.
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O que deve mudar na vida da população após a vacinação

Para a pesquisadora em saúde da UFRJ, Chrystina Barros, o anúncio do calendário de vacinação até outubro é uma notícia positiva, pois ele permite a possibilidade de uma vacinação mais organizada, transparente e evita tumulto entre aqueles que ainda devem receber o imunizante.
De acordo com os dados do Painel Coronavírus da prefeitura do Rio, até o momento, 25,5% da população carioca recebeu a primeira dose do imunizante, que foi distribuída entre idosos e pessoas dos grupos prioritários. A partir dos próximos meses, a prefeitura deve vacinar a população seguindo a ordem de idade, com os mais velhos se vacinando primeiro e por último os mais jovens, dos 59 até 18 anos.
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"É uma notícia positiva se a prefeitura conseguir manter essa previsão. Tanto o Instituto Butantan quanto a Fiocruz declararam que possuem a capacidade de produzir até 1 milhão de vacinas por dia se todas as condições necessárias para a fabricação sejam cumpridas. Ainda não temos aqui a tecnologia própria para a produção do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), que é a base da vacina, ela não é nacionalizada e isso nos torna dependente de importação. O que nós vemos hoje é uma campanha sendo feita de maneira irregular, com interrupções e descontinuidades, resultado da falta de autonomia para que possamos produzir os imunizantes. Isso prejudica a execução dos cronogramas", afirmou a pesquisadora.
Para Chrystina Barros, após a vacinação em massa de 70% da população e uma redução considerável da taxa de transmissão pela doença, será possível pensar nos primeiros passos para a retomada da vida e o retorno com segurança de algumas atividades.
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"O risco biológico existe e sempre vai existir. Muito provavelmente depois que nós vermos os números da disseminação da doença diminuindo, nós ainda assim vamos ter rotinas alteradas. Alguns biologistas já falam que os aeroportos talvez permaneçam como um lugar em que a máscara seja indicada, pelo cruzamento de pessoas de diversos lugares, o que propicia a troca de riscos biológicos de uma maneira mais intensa. Mas, talvez, assim como já acontece na Europa, pode ser que as máscaras não façam parte do nosso cotidiano ostensivo, e que possamos voltar a nos reunir, mas somente depois que a vacina chegar", mencionou.
Apesar da previsão de vacinação para a maior parte da população carioca, Chrystina alertou para os riscos, tanto antes quanto após a imunização.
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"Não podemos afrouxar nos cuidados. Infelizmente o que temos visto é que as flexibilizações vêm a despeito de números altíssimos que se refletem na perda de vidas, na sobrecarga do sistema de saúde em números que a gente não consegue recuperar. Até que haja do ponto de vista epidemiológico números menores da transmissão da doença, é fundamental que a população continue consciente da sua responsabilidade. Que é o cuidado com a sua própria saúde, usando máscaras, evitando aglomerações, lavando as mãos, evitando lugares fechados, principalmente agora, estamos às vésperas do inverno quando doenças circulatórias aumentam em frequência", concluiu.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes