Thayson Teixeira estava formado havia 15 dias e foi lotado na UPP do Fallet, onde morreu em serviçoReprodução/ Agência O DIA

Por Beatriz Perez
Rio - Um soldado da PM recém-formado foi morto com um tiro na cabeça enquanto trabalhava na UPP do Fallet, na Região Central do Rio. O ano era 2016. A Polícia Militar tratou o caso como acidente no manuseio da arma por negligência. A família do jovem militar, que havia concluído o curso do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) havia 15 dias, contesta essa versão. Para mãe, irmão e ex-companheira de Thayson Teixeira Santos, o jovem foi morto. Até hoje a investigação, que tramita na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), não foi concluída. Segundo a Secretaria de Polícia Civil, o inquérito está em fase final.
Thayson Teixeira estava formado havia 15 dias e foi lotado na UPP do Fallet, onde morreu em serviço - Reprodução/ Agência O DIA
Thayson Teixeira estava formado havia 15 dias e foi lotado na UPP do Fallet, onde morreu em serviçoReprodução/ Agência O DIA
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Consta em documento da Polícia Militar obtido pelo DIA que Thayson teria morrido após ser ferido com um tiro acidental quando manuseava a arma do colega Sergio Pinto da Silva Junior. Em declaração, o soldado disse que Thayson pegou sua arma para ensiná-lo como limpar a pistola. Em seguida, ouviu o disparo e verificou que Thayson estava ferido na cabeça.
Os familiares contam que na própria UPP, na época, os militares sugeriram informalmente a hipótese de suicídio.
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Foi realizado exame na mão de Sergio para detectar resquícios de chumbo e o resultado deu negativo. Com isso, a PM descartou a hipótese de Sergio ter disparado contra Thayson. A conclusão da PM foi de que houve negligência e imprudência na conduta da vítima e lhe foi imputada transgressão disciplinar. Por isso, a pensão recebida pela filha do soldado não corresponde à morte em serviço.
Algumas contradições da versão da PM são ressaltadas pela família. Thayson era canhoto, e o tiro foi disparado na área de sua orelha direita. Além disso, o jovem soldado havia relatado aos familiares que policiais da UPP haviam lhe oferecido uma semanada de propina e ele recusou. Para os parentes, ele comentou que poderia ser transferido para prestar serviço na UPP do Alemão por ter dispensado a propina. Dias depois, ele foi morto.
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A ex-companheira Mayza da Paz Souza quer que a pensão da filha do casal Maria Clara, de 7 anos, seja revista. Maria Clara recebe R$ 1.300,00 de pensão. "Eles falam que ele transgrediu a disciplina da PM e estou nessa luta para regularizar a pensão dela já vai fazer 5 anos e até agora nada", desabafa a mãe da menina. "A família tem certeza que Thaysson não se matou, mataram ele", completa Mayza.
O especialista em direito militar e advogado Fábio Tobias explica que quando um agente é morto em ato de serviço, a pensão equivale ao soldo da graduação acima. "Se na averiguação constar que foi ato de serviço procede os direitos de pensão. Se você é soldado e os familiares, após a morte, comprovam o ato de serviço, recebe-se o soldo da graduação acima, no caso de soldado, o soldo seria de cabo", exemplifica. Mas, Thayson não foi morto em 'ato de serviço' pela averiguação da PM.
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A mãe do soldado, Jandira Teixeira de Assis, sofre e toma cada dia mais remédios controlados para seguir a vida. Ela quer que a causa da morte do filho seja esclarecida e rejeita a hipótese de que Thayson tenha morrido por imprudência. 
"Thayson amava a vida. Ele não queria se matar. Antes de morrer ele me pediu 'ora por mim porque eles me ofereceram propina e eu não aceitei', lembra. Querem botar na nossa cabeça que meu filho se matou. É muito triste conviver com essa dor. Pelo menos vou ficar mais tranquila com meu coração se o caso for esclarecido", lamenta a dona de casa.
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Irmão do PM, o gari Márcio Feitosa Santos, 42 anos, luta para que a morte do irmão seja esclarecida. Ele lembra como a aprovação de Thayson elevou a autoestima da família. "Somos de origem simples. Meu irmão, do bairro todo foi o único que passou no processo. As pessoas hoje dizem que ele é suicida. Só quero que seja feita a perícia", cobra.
Márcio denuncia que a perícia foi feita apenas pela PM e que o chão já estava lavado e sem sangue. "Quando o pessoal da PM voltou ao local, o chão já estava lavado. Isso alterou o local do crime. Todos envolvidos estavam com mão lavada e o caso foi registrado como autolesão. Como o local foi alterado, não dá pra saber a realidade. Quem fez a perícia, foi a PM. Então, até hoje, não houve perícia da Polícia Civil. Precisa de uma reconstituição dos fatos para que seja esclarecido o que aconteceu", afirma Márcio. 
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A Defensoria Pública acompanha o caso de Thayson, mas não conseguiu atender pedido de entrevista da reportagem.
A Polícia Civil informou que o inquérito está em fase final na Delegacia de Homicídios da Capita e que, após relatado, será encaminhado ao Ministério Público. Questionada sobre a realização de perícia, a polícia não retornou até a publicação deste texto. O espaço está aberto para manifestação.
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A Polícia Militar não repondeu à reportagem.