Absolvido violoncelista preso por reconhecimento fotográfico em setembro de 2020
Orquestra da Grota, da qual faz parte, protestou contra o caso desde sua prisão e esteve presente no Fórum para manifestar solidariedade ao colega; confira vídeo!
Luiz Carlos Justino tem audiência na tarde desta quarta-feira no Fórum de Niterói - Arquivo pessoal
Luiz Carlos Justino tem audiência na tarde desta quarta-feira no Fórum de NiteróiArquivo pessoal
Por Beatriz Perez
Rio - O violoncelista Luiz Carlos Justino foi absolvido na tarde desta quarta-feira da acusação de roubo que o levou à prisão em setembro de 2020. A audiência de instrução e julgamento do caso foi realizada nesta quarta-feira no Fórum de Niterói, Região Metropolitana do Rio. A Orquestra da Grota, da qual faz parte, protestou contra o caso desde sua prisão, e hoje esteve presente no fórum para manifestar solidariedade ao colega. Após a absolvição, Luiz Carlos se disse aliviado e afirmou que espera que seu caso se transforme em referência para evitar outras injustiças.
"Tô muito aliviado. Graças a Deus foi tudo esclarecido de uma forma correta. Da forma que me condenaram, não tiveram as provas suficientes. Isso é puro racismo. Espero que mudem um pouco o jeito de julgarem os outros. Não sei nem te explicar a sensação que estou sentindo. Estou respirando mais leve. Acho que consigo até pular mais alto.", afirmou Luiz Carlos.
O jovem foi preso após ter uma foto sua apresentada em delegacia a uma vítima de roubo, que o reconheceu em 2017. O músico teve a prisão preventiva revogada por uma liminar no plantão judiciário, mas o processo não foi arquivado e apenas hoje Luiz Carlos foi absolvido.
A advogada de Luiz Carlos explica que o caso foi encerrado por falta de provas. "O juiz ficou convencido de que a prova era absolutamente ilícita e sequer poderia ter sido utilizada para oferecer a denúncia. Esse álbum de fotografias sequer poderia existir. A gente encerrou o processo e ele foi absolvido sumariamente diante da inexistência de prova de autoria", afirma Maria Clara Mendonça.
Na audiência, foram ouvidas as testemunhas que confirmaram que Luiz Carlos estava tocando em uma padaria no bairro de Piratininga, em Niterói, no momento do crime pelo qual foi acusado. O juiz ressaltou que havia câmeras nos locais dos fatos que não foram diligenciadas pela polícia.
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"Se o próprio reconhecimento policial está eivado de vícios, e se o reconhecimento em sede judicial não será possível em razão de a vítima ter se mudado para o sul do país, não se mostra razoável e proporcional se eternizar um processo criminal", anotou o juiz Gabriel Stagi Hossman ao absolver Luiz Carlos nesta quarta-feira.
O presidente do Espaço Cultural da Grota, Paulo de Tarso, espera que o caso seja um marco para que jovens negros e pobres não tenham imagens expostas em álbuns de delegacias. "Hoje está sendo feito Justiça. A Orquestra da Grota lutou para que um músico fosse reconhecido como um músico. Amanhã a Orquestra da Grotas vai celebrar no Solar do Jambeiro o dia de hoje com muita música", afirmou
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Em 2 de setembro, Luiz voltava de apresentação da Orquestra de Cordas da Grota, quando foi abordado numa blitz e preso em cumprimento de mandado de prisão. Três dias após a prisão, o músico conseguiu uma liminar no plantão judiciário e teve prisão preventiva revogada, em uma decisão emblemática do juiz André Luiz Nicolit.
"Por que um jovem negro, violoncelista, que nunca teve passagem pela polícia, inspiraria 'desconfiança' ao constar de um álbum? Como essa foto foi parar no procedimento? Responder significa atender a reclamo geral chamado 'cadeia de custódia da prova", questionou o magistrado à época.
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No último dia 7, a Justiça do Rio determinou que a Polícia Civil retire a foto de Luiz Carlos da Costa Justino do álbum de suspeitos da 79ª DP (Jurujuba), em Niterói, Região Metropolitana do Rio.
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