Carnaval fora de época pode ser o primeiro evento-teste na cidade em tempos de pandemiaALEXANDRE MACIEIRA/DIVULGAÇÃO

Por O Dia
Rio - A Associação de Moradores de Paquetá (Morena) recebeu com surpresa o anúncio do prefeito do Rio, Eduardo Paes, sobre a possibilidade de realizar um evento-teste na Ilha. A Morena entendeu como "desrespeito" a população local saber do carnaval fora de época pela imprensa. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (14), pelas redes sociais, e o evento pode acontecer em setembro, apenas com os moradores do bairro. A região faz parte da ação "PaqueTá Vacinada" da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) com apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que vai imunizar os paquetaenses maiores de 18 anos contra a covid-19 a partir do dia 20 de junho.
Segundo Paes, este pode ser o primeiro evento-teste na cidade em tempos de pandemia. Procurada pelo DIA, a prefeitura não passou mais detalhes de como será realizado esse evento e informou que serão dados em "momento oportuno". Também não foi informado como será feito o controle de turistas na Ilha. Moradores informaram que irão realizar uma transmissão ao vivo na página oficial da Morena no Facebook e no Youtube, às 20h desta segunda, com o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, e pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). "Esperamos ter informações mais consistentes do que o mero anúncio feito à imprensa", informaram em nota.
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A notícia provocou preocupação na população local. Morador da Ilha há 36 anos, João Ferreira acredita que ainda não é o momento para realizar eventos. "Não tem que ter nada. Primeiro, pensar na população que está aí morrendo. Deixa para fazer carnaval no ano que vem, quando a população toda estiver vacinada. Pra mim é um absurdo”, declarou ele, que teve apoio de Maria de Fatima Amorim, moradora da Ilha de Paquetá há 11 anos. "Com esse evento nós corremos risco", disse ela.
"Sou contra esse carnaval fora de época. É um absurdo. Com as novas variantes é um risco. Sempre vai ter pessoas de fora que irão para Paquetá, ou de véspera ou em lanchas, Sou totalmente contra", afirmou uma moradora, que não quis se identificar. "Não sou a favor desse evento", completou um outro morador, que também não quis revelar a sua identidade.
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Para o gestor do restaurante Zeca’s Paquetá, Mauricio Castelhano, o evento seria uma oportunidade para aumentar as vendas, que vêm sendo afetadas desde o ano passado, com o início da pandemia. Mas, ele teme que as medidas que serão adotadas para evitar que pessoas de fora entrem na Ilha não sejam suficientes e provoque danos para a saúde dos moradores e trabalhadores de Paquetá.
"Obviamente, para o setor seria interessante aumentar as vendas. Nós estamos com muitas preocupações, mais de um ano amargando diversos prejuízos. Porém, nós temos muita preocupação também com a saúde, saúde está em primeiro lugar. É ruim o prejuízo financeiro, mas muito maior o prejuízo da saúde da população de Paquetá. Até lá, teremos que ver se todas as medidas foram tomadas, se a imunização foi efetiva. Vamos aguardar. Temos que aguardar esses resultados e as estratégias de como fazer um carnaval em Paquetá em setembro, sem prejuízos maiores", disse o gestor.
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Trabalhando com EcoTáxi há 12 anos em Paquetá, Ednard Lima, de 38 anos, diz que o setor foi muito afetado pelo novo coronavírus. Segundo ele, todos que atuam na área sofreram com a queda nos rendimentos. Apesar disso, o anúncio do evento-teste causou a ele mais temor do que animação com o possível aumento de clientes.
"Na minha opinião, acho que não deveria acontecer. Não vejo a necessidade de um evento desse. Nos imuniza e depois nos bota no fogo. Risco total, ainda não é o momento. Acho que quando estiver com pelo menos 80% do Rio de Janeiro vacinado, aí sim podemos fazer", disse Ednard.
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A psiquiatra e geriatra Roberta França teme que o evento possa abrir brechas para outras festividades. Segundo ela, ainda que seja feito só para moradores de Paquetá, seria necessário que todos tivessem recebido as duas doses do imunizante contra a doença e já respeitado os quinze dias após a segunda, para que haja o máximo possível de segurança em um espaço de aglomeração. Além disso, França também acredita que os participantes deveriam fazer o uso de máscara, porque ainda podem contrair e transmitir o vírus, mesmo que de forma assintomática.
"Eu acho que todo evento de grande porte nem deveria ser aventado em um momento em que nós temos ainda uma condição mínima de vacinas no país inteiro. O nosso número de vacinados na sua totalidade com duas doses é extremamente pequeno e o de primeira dose, também. Neste momento, nossos casos ainda são muito significativos, nós não temos uma população efetivamente vacinada. A realização desse tipo de evento acaba abrindo brechas para que outros eventos comecem a ser realizados, para que outros comecem a exigir que eventos sejam feitos. A gente vai acabar perdendo o controle e deixando a situação se tornar pior do que ela já está atualmente", explicou França.
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População participa de experimento e será vacinada
A vacinação contra covid-19 de toda população a partir de 18 anos da Ilha de Paquetá terá início no dia 20 de junho. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a ação faz parte do projeto "PaqueTá vacinada", realizado com o apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo a SMS, diversos pontos da ilha contarão com postos de imunização, para facilitar o acesso dos moradores e evitar aglomerações. Além disso, apenas a população residente será vacinada na ação, seguindo os cadastros da Estratégia Saúde da Família. A participação de turistas que tenham ido passar o domingo na ilha será vetada.
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Paquetá tem uma população de 4.180 moradores, dos quais 3.530 são maiores de 18 anos cadastrados na Estratégia Saúde da Família. Os moradores que são regularmente atendidos na unidade de saúde da ilha já são cadastrados no sistema, com todo o histórico clínico acompanhando pelas equipes.
Até 31 de maio, foram aplicadas 2.923 doses da vacina contra a covid-19 pelo calendário do município para os grupos prioritários, sendo 1.853 primeiras doses e 1.070 segundas doses. No dia 20, todo o restante da população elegível será vacinado. Mas antes, os moradores da ilha passarão exame de sangue sorológico, que será repetido ao longo da duração da pesquisa.
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O projeto irá avaliar os efeitos da imunização em larga escala. Com a cobertura vacinal total da população alvo, o monitoramento epidemiológico será feito por um período que ainda será estabelecido.
A SMS informou que o acompanhamento da população da ilha terá por objetivo avaliar a segurança do imunizante e como a vacinação em massa atua na proteção também das pessoas que não foram vacinadas, como é o caso das crianças e adolescentes. Além de observar se a primeira dose da vacina será capaz de evitar a transmissão dos casos na região ou se isso só acontece efetivamente após a aplicação da segunda dose.

A pesquisa a ser realizada na Ilha de Paquetá tem semelhança com a experiência desenvolvida na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, que demonstrou efeitos positivos de uma campanha de vacinação em massa. Após atingir o percentual de 75% da população vacinada, o município, de 45 mil habitantes, apresentou uma redução significativa na identificação de novos casos de covid-19 e óbitos relacionados à doença.

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