Beatriz Marinho foi diagnosticada com a Síndrome de Arnold-ChiariFoto: Arquivo pessoal

Por Larissa Amaral
Rio - A estudante Beatriz Marinho, 23 anos, acusa equipe médica do Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê, São Gonçalo, de negligência e maus-tratos durante o período em que passou internada. Antes de receber o diagnóstico de Síndrome de Albert-Chiari, a técnica em enfermagem passou sete dias internada, entre os dias 3 a 9 de maio deste ano. A doença rara é uma má formação congênita do sistema neurológico que pode causar sequelas e, se não tratada, morte súbita. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) rebateu as acusações de Beatriz e afirmou que ela recebeu os cuidados necessários durante o período no Heat. 

Em conversa com O DIA, Beatriz contou que chegou ao Heat, local em que trabalha como técnica em enfermagem, para entregar um atestado médico por ter faltado. Lá, ela precisou ser internada por sentir dores de cabeça muito fortes e ter crises convulsivas.

"Tudo começou quando comecei a sentir fortes dores de cabeça, mas até então eu achava que não era nada grave. Procurava atendimento no SUS, mas nunca era nada, segundo os médicos. As dores foram se agravando, até eu ter a primeira crise convulsiva. Nessa primeira, eu acabei faltando ao meu plantão no Hospital Estadual Alberto Torres, local onde trabalho. Quando fui entregar o atestado, me senti mal novamente e fiquei internada por sete dias", lembrou.

A estudante considera que os dias em que passou como paciente do Heat "os piores" da vida dela. "Além de ter convulsionado diversas vezes seguidas, eu tive um problema chamado bexigoma, que é a ausência da urina de forma natural, sendo necessário fazer um procedimento através de uma sonda pra esvaziar minha bexiga. Eu implorava para que o procedimento fosse feito, porque sentia muitas dores", afirmou.

Depois dos pedidos de Beatriz, o procedimento foi feito de forma incorreta. "Apesar de eu estar com a sonda para urinar, ela não foi posicionada corretamente e vazou. Eu dormi na minha própria urina. Chamava por ajuda e era ignorada, porque eles alegavam que era frescura e fingimento", relatou a estudante, que continuou: "Eu convulsionava e ficava lá, sozinha. Tinha equipe que até ia até meu leito, mas somente observava e não fazia nenhum procedimento".

Quando foi transferida para a enfermaria do Hospital Estadual Alberto Torres, segundo a estudante, a equipe que a atendeu afirmou que ela estava fingindo convulsões por, supostamente, ter tido um distúrbio psicótico. Sem a prescrição médica, decidiram fazer um procedimento chamado contenção mecânica, que consiste em amarrar o paciente com ataduras. 
"Chamaram uma psiquiatra, que só me perguntou coisas completamente sem nexo. Ela me perguntou se eu havia saído na rua agredindo pessoas alguma vez, ou se eu sentia vontade de agredir pessoas. Após essas perguntas, ela me diagnosticou com Transtorno Bipolar tipo 2 e agressividade", contou.
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No dia anterior ao da alta, a estudante chegou a ligar para a polícia para tentar ter acesso à equipe médica. "Foi necessário que eu ligasse pra polícia pra conseguir falar com a médica plantonista. Isso já eram 18h, e eu solicitei o dia inteiro. São médicos de intercorrência, contratados justamente para intercorrências. Eu convulsionava, ela não vinha. Eu agonizava de dor, ela não vinha", lembrou.
No sétimo dia de internação, a família de Beatriz decidiu tirá-la do hospital por entender que ela havia sido maltratada pela equipe, que desaconselhou a alta. "Eu estava em condições horríveis. Depois disso, começamos a procurar ajuda no particular e foi quando um neurologista começou a pesquisar através de diversos exames para saber qual seria a doença, porque ele também não sabia o que poderia ser", relatou. 
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Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde explicou que a técnica de contenção mecânica costuma ser usada para evitar "a utilização de altas doses do sedativo, diante do quadro de agitação do paciente". A pasta se disponibilizou a prestar esclarecimentos à Beatriz e à família dela. 
Apenas um mês depois da internação, após recorrer a médicos particulares, a técnica em enfermagem descobriu o diagnóstico correto para a causa dos sintomas, que ficam cada vez mais graves. Para conseguir fazer o tratamento da síndrome rara em um hospital especialista na Espanha, Beatriz precisa arrecadar R$ 180 mil. "Para que haja o controle da síndrome e a cura total de todos esses sintomas e eu possa levar minha vida normal, a cirurgia só poderá ser realizada em Barcelona, em um hospital especializado nisso", explicou.
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Confira nota completa da Secretaria de Estado de Saúde: 
"A direção do Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT) informa que a paciente Ana Beatriz Neto Marinho deu entrada na unidade em 03.05 com quadro de crise convulsiva. Foi atendida, medicada e submetida a exames laboratoriais e de imagem, tendo acompanhamento médico e psicológico durante o período de internação. A paciente também foi avaliada por neurocirurgião e psiquiatra, tendo sido indicada a necessidade de investigação clínica complementar.

Apesar dos esforços da equipe de assistência, a paciente seguiu apresentando crises convulsivas. Em 09.05, por solicitação da família da paciente e contra a orientação da equipe médica, a alta da paciente foi realizada no sistema. Assim, a investigação foi encerrada e não houve qualquer diagnóstico fechado.

A equipe do hospital prestou todos os cuidados à paciente, tendo acolhido também seus familiares com informações sobre a assistência. Há casos em que é indicado o uso da técnica de contenção mecânica, como alternativa para evitar a utilização de altas doses de sedativo, diante do quadro de agitação do paciente. A direção do HEAT permanece à disposição para outros esclarecimentos que se fizerem necessários aos familiares da paciente".