Guilherme Martins, de 20 anos, morto em ação policial na favela Gogó da Ema, no Complexo do Chapadão, era ex-militar das Forças ArmadasReprodução do Instagram
Celular de jovem morto em ação da PM no Chapadão encontrado dentro de Caveirão será periciado
Aparelho vinha sendo rastreado pela família desde que o caso aconteceu, em março, mas só foi entregue à Polícia Civil 40 dias depois
Rio - O celular de Guilherme Martins, de 20 anos, morto durante uma ação da PM na favela Gogó da Ema, no Complexo do Chapadão, Zona Norte, em março deste ano, foi encontrado dentro de um blindado da corporação e passará por perícia da Polícia Civil. De acordo com o pai do ex-soldado do Exército, Flávio Erasmo, o telefone só foi localizado 40 dias após a morte do filho. A investigação foi dividida em duas delegacias, o auto de resistência ficou na 27ª DP (Vicente de Carvalho) e as mortes com a 31ª DP (Ricardo de Albuquerque).
Flávio questionava a localização dos pertences do jovem desde o dia da operação policial. Os prints com a localização do aparelho teriam sido compartilhados por ele com agentes da 31ª DP (Ricardo de Albuquerque), onde a morte é investigada como auto de resistência (morte por confronto com agentes de estado). Nas imagens do rastreador, o celular que o jovem usava quando foi morto aparece em três endereços.
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O primeiro ponto seria em uma rua próxima à 31ª DP, o que levou os parentes do militar até a unidade. Em seguida, o aparelho localizado em uma entrada do Gogó da Ema, local onde o blindado da Polícia Militar costuma ficar baseado. Por último, o Iphone também teria sido localizado na Vila da Penha.
"Após eu ter dado a minha oitiva lá na delegacia, no dia 24 de março, eu mostrei a localização do telefone e tudo mais. Mas só, mais ou menos, no dia 15 de abril, que eles me informaram que o telefone havia sido enviado à delegacia", explicou o pai do jovem. Ainda segundo ele, o aparelho segue na distrital e será periciado pelos investigadores. "Ele foi localizado, mas ainda está sob poder da polícia e vai para o Instituto Carlos Éboli", afirmou Flávio.
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Segundo a Polícia Militar, o Iphone encontrado no blindado foi entregue à delegacia responsável pelas investigações do caso. A corporação, no entanto, não explicou a demora na localização do aparelho e nem o motivo dele estar no veículo.
"Eu não consigo visualizar o motivo para o sumiço do celular. Mas, a princípio, acho que eles pegaram o telefone porque ele estava bem novinho. Não sabemos se foi na intenção de se apropriar do bem, ou se ali tem alguma prova. Em todo caso, é importante que ele seja vistoriado. Pode provar que o Guilherme não tinha nenhum envolvimento com o crime", disse Flávio.
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Na ocasião da morte de Guilherme, outras duas pessoas foram atingidas durante a operação da Polícia Militar: Gabryel Marques de Oliveira, 21 anos, que não resistiu aos ferimentos e João Marcos da Silva Lima, de 19 anos, que sobreviveu e foi preso por suspeita de tráfico. João Marcos só foi inocentado das acusações pela Justiça do Rio em decisão publicada na última sexta-feira (25).
Segundo o pai de Guilherme, os três eram amigos e estavam bebendo cerveja em um bar na comunidade quando foram atingidos. Gabryel e Guilherme se conheceram no Exército.
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"O que a gente espera agora é que o caso que estava sendo investigado como auto de resistência, passe a ser investigado como homicídio. Então, o que a gente espera é que a investigação mude. Se a Justiça mesmo comprovou que o João não tinha envolvimento, espero que os policiais sejam responsabilizados e que venha essa retratação do Estado. A gente precisa dessa posição do Estado e que esses policiais possam ser punidos, culpados e responsabilizados", comentou Flávio.
Quarenta disparos
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A ação que levou à morte dos jovens aconteceu no dia 04 de março. Em depoimento obtido com exclusividade pelo DIA à época, um dos policiais militares do GAT (Grupamento de Ações Táticas) que participou da incursão revelou ter disparado 40 vezes na direção dos ex-soldados.
"Pelas provas deles, é como se o meu filho fosse sentenciado a ser um marginal. Agora eu tenho que provar que o meu filho era um menino trabalhador, com sonhos, de família, e que não tinha nada a ver com o tráfico. Isso é muito triste", desabafou o pai de Guilherme, durante o sepultamento do filho.
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Além da falta do celular, a família também questionou, na época, a falta do exame de pólvora nas mãos dos jovens, para comprovar que nenhum deles portava armas e disparou contra os policiais. Os testes serviriam para contestar a versão divulgada pela PM de que os jovens seriam criminosos: "Na ação, três criminosos foram feridos, sendo socorridos para o Hospital Estadual Carlos Chagas. Foram apreendidos uma pistola, munições, um radiotransmissor, uma granada, drogas, e dois aparelhos celulares. Registro feito na 31ª DP", informou a nota.
Apesar da nota inicial divulgada em março, a Polícia Militar informou à reportagem que um Inquérito Policial Militar (IPM) está em andamento no 41º BPM (Irajá) para apurar as circunstâncias do caso.
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A Polícia Civil foi procurada para comentar o prazo para a devolução do aparelho aos parentes de Guilherme, mas respondeu apenas que o caso foi concluído na 31ª DP e que segue para a Justiça.
Sonhos interrompidos
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Segundo Flávio Erasmo, o filho tinha sonho de fazer faculdade de Educação Física. Ele prestaria o Enem pela segunda vez neste ano para conseguir uma vaga na universidade. Bem quisto no meio militar, Guilherme também teria conquistado dias antes de ser morto uma oportunidade de trabalhar como civil no quartel onde serviu durante o serviço militar.
"É, a vida do meu Gui foi arrancada pelas mãos do estado, mas com a certeza de que foi acolhido por Deus e agora descansa nos braços do Pai. Quem me conhece sabe que meus filhos são tudo pra mim, sempre lutei por saúde, uma boa educação e um bem estar familiar mais por eles do que por mim, não ligo pelo oque a PM está dizendo, até mesmo porque ninguém no Rio de janeiro acredita em suas informações infundadas", comentou o pai em uma postagem no Instagram.
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