Após reintegração de posse em Itaguaí, terreno recebe funcionários da prefeitura e da PetrobrasEstefan Radovicz / Agencia O Dia

Por Yuri Eiras
Rio - O bairro Ponte Preta, em Itaguaí, lembra um cenário do interior brasileiro: um mercado, uma praça e um posto de gasolina à beira da avenida compõem a região. A aparente tranquilidade contrasta com o que a cidade viveu na quinta-feira (30), quando a reintegração de posse de um terreno da Petrobras, ocupado há dois meses por 950 pessoas, causou conflito com a Polícia Militar, deixou pessoas feridas e escancarou as questões da habitação e da pobreza, problemas agravados pela pandemia e que pouco combinam com a tranquilidade local. Policiais da 50° DP (Itaguaí) prenderam um dos responsáveis pela ocupação, sob acusação de esbulho possessório, desobediência, parcelamento indevido de solo urbano e associação criminosa. A Polícia Civil foi questionada sobre os motivos da prisão, mas a reportagem ainda não obteve resposta.
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O cenário do gigantesco terreno no dia seguinte era de terra arrasada. Lonas e madeiras que formavam as estruturas dos barracos estavam amontoadas para serem jogadas no lixo - funcionários da Prefeitura de Itaguaí e da Petrobras faziam a limpeza do espaço. A empresa afirmou que a reintegração cumpre decisão da 2ª Vara Cível de Itaguaí e que foi autorizada pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas não explicou o que fará com o terreno.
A presença de um complexo petroquímico da Petrobras na região foi a esperança de transformação do município, que cresceu distante das promessas. Vizinhos afirmam que o terreno está abandonado há dez anos. "Moro aqui há 20 anos, e sempre convivi com a promessa de que ia ter emprego para todos, casa para todos e qualidade de vida", disse um morador da região.
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Prefeitura afirma que parte dos moradores tinha casa alugada em outros locais
Na quinta, a secretaria de Assistência Social de Itaguaí realizou um levantamento e estimou que 930 pessoas vivam na ocupação, que cresceu em pouco mais de dois meses - em maio, o DIA publicou o crescimento do assentamento. O município abrigou 350 pessoas, entre crianças e idosos, em uma escola municipal. Elas receberam alimentos e cobertores, mas ainda devem passar por uma análise individual e, por enquanto, não têm para onde ir. A pasta informou que "ainda não houve cadastro para o aluguel social", e que "será feito um atendimento detalhado para entender a necessidade de cada um".
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A prefeitura também tenta descobrir de onde as famílias vieram. A Assistência Social de Itaguaí afirmou que, na maioria dos casos, as famílias têm moradia alugada e emprego de carteira assinada, e "alugaram seus imóveis para morar no assentamento". A maior parte das pessoas são oriundas dos bairros da capital vizinho a Itaguaí, como Campo Grande e Santa Cruz.