"Céu e mar se entrelaçam nesses pensamentos, que ainda teimam em ancorar na esperança. Como cada barca rumo a Paquetá zarpando no nascer do sol..."Arte de Kiko sobre foto de Daniel Castelo Branco

Por ANA CARLA GOMES
Desde antes da pandemia, tinha planos de visitar Paquetá. Já até me imaginava pegando a barca na Praça XV, no Centro do Rio, e fazendo a travessia até a ilha, com o vento batendo no rosto e eu segurando o chapéu de sol, para não voar. Namorava cliques na Internet no charmoso lugarejo e idealizava umas voltas de bicicleta. Não sei explicar ao certo por que a programação não saiu do mundo dos sonhos para a realidade.
Fato é que Paquetá virou centro das atenções no dia 20 de junho, quando sua população recebeu a vacinação em massa como parte de um estudo científico. Trabalhando em casa, no meu plantão no jornal, vi as fotos feitas por Daniel Castelo Branco rumo à cobertura do evento.
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Imagens lindas, capturadas bem cedinho, que contrastavam com a dor coletiva pela triste marca de mais de 500 mil óbitos por covid no país, atingida no dia anterior. Enquanto a barca das 7h zarpava pela Baía de Guanabara, o sol nascia como símbolo da esperança.
Curiosamente, o destino era uma ilha. E me pego pensando que, há mais de um ano, quando fomos confrontados com o isolamento social, a sensação de estarmos confinados em nossa própria casa nos pegou de surpresa. A clássica pergunta "Quem você levaria para uma ilha deserta?" ganhou novo sentido. Instintivamente, passamos a nos perguntar: "Com quem vale a pena estar na nossa ilha interior neste momento?". Enfim, que estoque de bons sentimentos fizemos para seguir em frente?
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Refletindo sobre tudo isso, ainda no plantão daquele dia, uma informação numa matéria do jornal me chamou a atenção. Acostumada a ouvir, em casa, a passagem dos aviões rumo ao pouso no Aeroporto do Galeão, fiquei impressionada com o significado doloroso que os sons vindos do ar tinha para os moradores de Paquetá na pandemia. Afinal, através de helicópteros, os pacientes mais graves eram transferidos para as CTIs dos hospitais do Rio.
Céu e mar se entrelaçam nesses pensamentos, que ainda teimam em ancorar na esperança. Como cada barca rumo a Paquetá zarpando no nascer do sol...