Vereador Marcelo Diniz, que assume a vaga do ex-vereador Jairinho, cassado pela Câmara do RioFábio Costa/Ag.O Dia

Por Aline Cavalcante
Em meio a polêmicas e a histórica cassação por quebra de decoro parlamentar, o recém empossado vereador Marcelo Diniz (Solidariedade) chega à Câmara de Vereadores do Rio para assumir o mandato no lugar do ex-vereador Dr. Jairinho, que foi acusado e preso pelo envolvimento na morte do menino Henry Borel.
Evangélico, pai de uma menina de 4 anos, o agora vereador tem 35 anos e foi, de 2019 a 2020, presidente da Associação de Moradores da Muzema, onde nasceu e mora até hoje. Se candidatou pela primeira vez e teve 6.315 votos. Empossado há uma semana, Diniz recebeu a equipe do O DIA para uma entrevista exclusiva, a primeira após sua posse. Ele falou sobre projetos para o futuro, sobre polêmica de entrar no lugar de Jairinho e esclareceu não ter envolvimento com milicianos. Na última semana, o nome de Marcelo Diniz foi relembrado pelo envolvimento na venda de prédios da milícia, inclusive no prédio que desabou na Muzema e matou 24 pessoas, em 2019. O então presidente da Associação de Moradores prestou esclarecimentos na época, mas não respondeu inquérito.

- O senhor entrou em momento conturbado, no lugar de um vereador que é acusado de envolvimento na morte de uma criança. É difícil esta situação? Você teme que isso possa lhe prejudicar de alguma forma?
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Toda essa situação não me prejudica. Estou muito tranquilo, gosto de trabalhar e quero fazer o melhor para o município do Rio de Janeiro. Como pai, eu me sinto ferido e entendo a dor do pai daquela criança (se referindo a Leniel Borel, pai do menino Henry que morreu em março deste ano. Crime do qual Jairinho é acusado). Mas, como vereador eu não julgo. A Justiça é quem vai dizer e trazer a resposta e punição necessária. Tanto antes (da cassação) quanto agora, eu poderia aproveitar e acusar o Jairinho, isso seria até benéfico para mim, mas deixo para a Justiça. Eu estou assumindo meu lugar de direito, conquistado com os votos que recebi. 

- Como o senhor foi recebido na Câmara de Vereadores do Rio?
Assumi na sexta-feira (último dia 2), inclusive era o dia do meu aniversário. Deus é tão bom que me deu a oportunidade de assumir meu lugar no dia do meu aniversário. Meus colegas vereadores me receberam muito bem. Já conhecia muitos deles, outros não. Mas, todos foram muito solícitos comigo, estão dispostos a me ajudar no que eu tenho dúvida, porque eu estou chegando agora e as dúvidas aparecem. Tenho certeza que vai ser muito bom para a Câmara a minha chegada.
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- O senhor postou nas suas redes sociais uma foto ao lado do vereador Alexandre Isquierdo (DEM), presidente da Comissão de Ética da Câmara. Vocês já se conheciam? Qual a ligação de vocês?
Eu já tinha sido apresentado a ele em outra ocasião, mas foi um contato muito rápido. Mas, desde a minha posse temos feito contato e ele tem me orientado e ajudado muito. O presidente da Câmara, o vereador Carlo Caiado, também tem sido excepcional comigo. Tenho certeza que vou aprender muito com eles.
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- O seu eleitorado é da Zona Oeste, principalmente. Quais os projetos o senhor tem para esta região?
A minha ideia agora é nesses primeiros dias montar minha equipe com calma e começar a ver quais são as demandas locais. Por mais que eu seja um vereador do município do Rio de Janeiro, minha área, onde tive meus votos, é no Itanhagá, Rio das Pedras, Jacarepaguá e Muzema. Então, quero primeiro ver as demandas dentro desses locais e trabalhar o mais rápido possível junto com a prefeito e todos os órgão possíveis para dar uma melhor condição de vida para os moradores.
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A Zona Oeste tem muitas demandas, principalmente nestas regiões. Tem muita coisa pra fazer e tenho bom diálogo com o prefeito Eduardo Paes, ele já me recebeu muito bem e tenho certeza que juntos podemos melhorar as condições de vida da Zona Oeste. Tenho muito coisa na minha cabeça desenhada, mas não quero me precipitar. Em 60 dias já terei tudo pronto e me comprometo a mostrar esses projetos.


- A região de Rio das Pedras e Muzema, por exemplo, sofre com condições precárias de moradia e falta de serviço público. O que fará para mudar este cenário?
Meu olhar vai ser de início para estas regiões. Estas regiões sempre foram muito abandonadas, é um descaso que vem de décadas que o poder público não se faz presente. Hoje, como vereador eleito pelo povo, principalmente desta região, vou lutar com todas as minhas forças para colocar tudo que o poder público puder colocar para melhorar a condição de vida das pessoas.
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Em relação a moradia, já conversei com o prefeito Eduardo Paes e estarei junto com a Defesa Civil. Vamos ver o que está errado e o que representa um risco à vida porque não queremos que tragédias como as que aconteceram na Muzema e no Rio das Pedras se repitam. Nosso intuito é melhorar o que puder ser melhorado e se não tiver jeito, se realmente for necessário retirar as pessoas de suas casas, será feito. Não podemos negociar vidas. Mas, vamos acompanhar para que o morador receba um aluguel social ou um local para essas famílias ficarem. É uma situação complicada, estamos falando de trabalhadores que investiram tudo o que tinham em suas casas, então, eles não podem ficar desassistidos. Tenho certeza que o prefeito é sensível a isso.

- O que podemos esperar do seu mandato como vereador?
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Estou estudando bastante e este tempo de recesso parlamentar tem me ajudado para isso. Estou conhecendo mais sobre o Rio de Janeiro porque entendo que que sou vereador não só da minha região, mas da cidade toda. Vou fazer estudo prévio, apresentar projetos de lei e analisar as contas do executivo. Sou um vereador da rua e não abro mão disso. O Marcelo não vai ficar enfurnado em gabinete, eu quero estra na rua, ver as necessidades dos moradores e cobrar das autoridades melhoras para o cidadão. Podem esperar um Marcelo atuante.

- Em alguns bairros da Zona Oeste, a atuação da milícia é muito forte e muitos serviços públicos não chegam. Como lidar com esta situação?

Eu sou a favor do Estado presente. Se tem milícia ou tráfico é porque o Estado não se fez presente. Eu vou trabalhar, pode ser área de milícia, área de tráfico de drogas, área que tenha qualquer coisa, eu não quero saber o que acontece. Eu estou aqui para trabalhar com o povo. As mazelas que tem em todas as comunidades do Rio de Janeiro são por falta do poder público e estou vindo para me fazer presente.
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- De presidente da Associação à política. O que te levou a se candidatar a vereador?
Sou filho de nordestinos e ajudar sempre foi um exemplo dentro de casa. Fui nascido e criado na Muzema e não pretendo sair de lá. Sempre ajudei as pessoas, sempre fiz trabalho comunitário, acredito nisso. Vi que tinha muita coisa com a qual eu podia ajudar, então fiz isso como presidente da associação de moradores. Com o tempo, eu vi que as pessoas da comunidade me olhavam como se eu fosse um vereador um político, mesmo eu não sendo. Com ajuda de amigos eu comecei a levar aulas gratuitas de violão, tênis, futebol e sempre com objetivo exclusivo de ajudar a comunidade. E para fazer acontecer esses projetos na comunidade eu comecei a ter contato com políticos, prefeito e acabei pegando gosto. Eu era o elo de ligação da comunidade com a prefeitura. A vontade de ser vereador veio ao perceber que como vereador eu vou poder acrescentar ainda mais para a minha comunidade.
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Mas, hoje sei que sou vereador de todos e sei da minha responsabilidade. Farei um mandato para todas as classes sociais, grupos, religiões... Por exemplo, eu sou evangélico, mas eu não posso olhar com indiferença para o cara que é de outra religião. Meu papel é ajudar a todas e vou fazer isso da melhor forma possível.

- O senhor chegou a depor e ser investigado por participação na queda dos prédios na Muzema, que terminou com 24 mortos. Na época, o senhor era presidente da Associação de Moradores do bairro. Como ficou esta situação?
Primeiramente, eu nunca fui intimado e nunca respondi nenhum processo. Tenho uma certidão do Ministério Público que me garante isso. Eu não devo nada a ninguém. Nunca fui convocado a depor, eu fui como testemunha por ser o presidente da Associação de Moradores da Muzema e só. Todos os presidentes das associações daquele região do Itanhangá até a Gardênia Azul foram convocados, mas como a tragédia foi na Muzema só o meu nome apareceu. Não tenho nenhum problema com a Justiça.
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Acho que o que aconteceu comigo foi um preconceito. Sou um jovem de 35 anos de idade e venho de uma comunidade muito pobre e me orgulho muito disso. Por algum motivo começaram a me associar aos problemas da minha região (milícia), mas isso é inverídico. Eu provei na época que não tive nenhum envolvimento e quero encerrar esta história.
- O senhor responde a um processo eleitoral onde é acusado de favorecimento de votos por conta de entrega de cesta básica. Isso é verdade?
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Eu fui condenado a pagar multa de R$ 5 mil e na minha concepção foi uma injustiça, mas estou fazendo o que a Justiça determinou. Na época da campanha, divulgaram fotos minhas entregando cesta básica. Mas, essas fotos foram feitas antes do período eleitoral, quando eu era presidente da Associação de moradores da Muzema. Como presidente da associação, recebemos muitas doações e entregamos tudo para a comunidade. Estamos falando de um período de pandemia, em que muitas pessoas perderam o emprego e precisam matar a fome. Essa entrega aconteceu antes de abril de 2020, período em que eu era presidente, e não estava em campanha.
Me acusaram de me favorecer da entrega de cesta básica para ganhar voto, mas isso não aconteceu. Quando estava como presidente da associação eu nem imaginava vir candidato. Quando resolvi me candidatar eu decidi me afastar da presidência, mesmo sem esta obrigação, para evitar qualquer problema.