Mãe de santo denuncia intolerância religiosaFoto: Arquivo pessoal

Rio - A mãe de santo Mam'etu Kavunjenan, 56 anos, registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na tarde desta quarta-feira, de mais um caso de intolerância religiosa. Responsável por um terreiro em Cascadura, na Zona Norte do Rio, ela vem sendo perseguida por um dos vizinhos, que tenta impedí-la de realizar os ritos religiosos. 
"Ele começou a nos aborrecer quando pedimos para ele abaixar o som, que tocava música muito alto. A partir disso, ele não pode ver nenhum movimento aqui sem ser intolerante. Ele grita 'xô, satanás', diz que a gente faz 'magia negra', também fica falando alto para que a gente não consiga fazer nossos rituais. Parece que ele está dentro da minha casa e é tão alto, que em espaço nenhum conseguimos fazer uma reza", contou Mam'etu. 
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O vizinho, que a religiosa preferiu não identificar, se mudou para a vila ao lado de seu terreiro há cerca de quatro anos. Segundo Mam'etu, ele já chegou a ameaçar o local, dizendo que iria fazê-lo sair de lá. "Contanto que ele nos deixe fazer os nossos rituais... Eu tinha uma criança recolhida nesta semana e ela ficou apavorada. Ele não está deixando eu fazer nenhum ritual, nem mesmo os dentro de casa. Sigo os horários do município, já troquei todos os horários [dos rituais] que possa imaginar. Quando ele percebe algum movimento, os meus filhos de santo chegando, ele começa a gritar. Isso é absurdo", constatou. 
Por ser vizinha do homem que denunciou, Mam'etu teme que aconteça alguma violência mais grave com ela ou com algum dos filhos de santo que frequentam o terreiro. "É uma pessoa intolerante. Tenho medo do resultado porque a gente mora muro com muro... Outros terreiros podem estar sofrendo uma intolerância parecida e não saber que é uma violência, já que ela é diferenciada. Ele não vem nos agredir, mas ele nos agride [com os gritos]. Meus filhos de santo estão incomodados, eles vem aqui para ter paz e tem esses estresse. Preciso que ele pare, preciso denunciá-lo. Moro aqui há 20 anos, somos colados com uma igreja, e não temos problema com vizinho algum além dele", afirmou a religiosa, que continuou: 
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"A gente não pode se calar diante das opressões, o povo de terreiro está exausto de ser vilipendiado, maltratado, mas a gente não pode abaixar a cabeça e fingir que não está acontecendo. A gente não pode ficar silenciado. Precisamos lutar, trazer a tona essas situações para que outras pessoas que estejam passando por algo similar encontrem forças".  
Para denunciar as atitudes intolerantes, a mãe de santo contou com a ajuda da Coordenadoria da Diversidade Religiosa. "Lutar pelo direito de expressar sua fé é um ato de resistência e nós estamos juntos nessa construção. Que a Mam'etu fique bem e saiba que essa coordenadoria está pronta para atendê-la e ampará-la em nome do município do Rio de Janeiro", garantiu o órgão.
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Procurada por O DIA, a Polícia Civil afirmou que o caso foi registrado na Decradi e que a investigação está em andamento.