"À medida em que o maestro regia a sua orquestra como um verdadeiro líder, que sabe dividir os aplausos e reverenciar a sua equipe, eu pensava em quantas pessoas ali mantinham a arte de pé"Arte: Kiko

'Vou pedir muitos aplausos hoje. Estamos carentes', foi logo avisando o maestro Felipe Prazeres. Assim, o regente deu o tom do reencontro da Orquestra Petrobras Sinfônica com o público, no dia 17, após um ano e quatro meses de afastamento por conta da pandemia. E, antes de começar a apresentação de 'Bohemian Rhapsody', tocando as inesquecíveis canções do Queen, no Vivo Rio, Felipe ainda pediu: "Cantem, mesmo de máscara. A arte é maior do que isso".
Começou o espetáculo e, curiosamente, eu, minha irmã e a minha amiga Tainara estávamos sentadas bem atrás da mesa de som. E o que poderia ser uma localização ruim virou um ponto de observação para mim. À medida em que o maestro regia a sua orquestra como um verdadeiro líder, que sabe dividir os aplausos e reverenciar a sua equipe, eu pensava em quantas pessoas ali mantinham a arte de pé. Como aqueles funcionários, que cuidavam de tudo para que o som saísse impecável.
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Ao ver, num laptop, um programa que parecia registrar a frequência do som, eu logo me lembrei da imagem que temos de aparelhos que medem os batimentos cardíacos. E senti que a arte ainda pulsava forte. No telão, era possível ver algum músico sendo focalizado pelas câmeras. Alguns estavam separados por uma divisória de acrílico. Mas o talento deles se unia e ecoava por todo o local.
No palco, o maestro regia não só a orquestra, mas também o coro da plateia, de tal forma que se harmonizassem. Também reparei na sintonia perfeita entre os instrumentos. Em determinado momento, um deles silenciava para que outro pudesse ser o centro das atenções. Uma bela lição da música que deveríamos levar para a nossa vida. Os aplausos, pedidos logo no início do concerto, não apareciam somente ao fim das músicas. Mas também surgiam naturalmente, sendo o compasso perfeito durante as canções. Como em 'Radio Ga Ga'.
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Ao entrarmos no carro de volta para casa, tentamos buscar na memória qual teria sido a última vez que havíamos assistido a um show. E foi difícil ter a resposta certa de primeira. E talvez você também não se recorde imediatamente. Mas, quando o reencontro diante de um artista acontecer, apenas aplauda: o retorno, a resistência e a arte.