Cristiano Girão Matias, à esquerda, e Marielle, à direitaReprodução/TV Globo | Reprodução/Anistia Internacional

Rio - O ex-vereador Cristiano Girão Matias, preso nesta sexta-feira em São Paulo durante uma operação da Delegacia de Homicídio do Rio, comentou, em entrevista à Veja antes de sua prisão, as acusações que recebeu da Polícia Civil do Rio, do Ministério Público Estadual e da viúva do miliciano Adriano Nóbrega, Júlia Lotufo. Girão foi detido acusado de ser mandante do duplo homicídio do PM André Henrique da Silva Souza, o Zóio, e de Juliana Sales de Oliveira, ocorrido em 2014, em Gardênia Azul, bairro da Zona Oeste.
O suspeito de executar o crime é o PM Ronnie Lessa, que também é acusado de executar a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, em 2018. O elo entre Girão e Lessa foi constatado através de pesquisas do policial documentadas pelo Google sobre o duplo homicídio e testemunhas que afirmam terem visto o militar realizando os assassinatos em Gardênia.
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Atualmente, devido a ligação com Lessa, o ex-vereador é o suspeito número um de ser o mandante do assassinato de Marielle Franco. Segundo essa linha de investigação, o crime seria motivado por uma vingança ao partido PSOL, principalmente contra Marcelo Freixo, padrinho político de Marielle, que presidiu a CPI das Milícias em 2008.
Em entrevista à Veja, quando perguntado se havia mandado matar Marielle Franco, o ex-vereador devolveu o questionamento abordando o fato de ter comparecido à Câmara dos Vereadores, sete dias antes da morte de Franco. "Você acha que se eu tivesse envolvimento em querer matar alguém eu iria lá na Câmara dos Vereadores para botar a minha cara? Não fui escondido, passei normalmente como qualquer outro cidadão. É a casa do povo. Não estava impedido de entrar em nenhuma repartição pública. Acho isso uma covardia. Se não tivesse ido à Câmara, ninguém saberia que eu estive no Rio de Janeiro, não iria aparecer", defendeu Girão.
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Questionado sobre o que sabia sobre Marielle, Cristiano Girão afirmou que 'nunca ouviu falar da moça' e ainda deixou um recado para a família da vereadora. "Queria deixar um recado para a família de Marielle: se eu for preso como mandante, que eles continuem buscando o real mandante, porque não fui eu. Vão dar uma resposta errada para a sociedade. Uma resposta errada. Nunca mandei matar Marielle ou ninguém", contou.
De acordo com o ex-vereador, ele não faz ideia de quem teria matado Marielle e as acusações de Júlia Lotufo seriam apenas para acobertar alguém, que ele não soube dizer quem era. "Ela é mulher do Adriano. Ou realmente ela está querendo acobertar alguém ou não sabe de po*** nenhuma. Está querendo se beneficiar na Justiça, porque é fácil pegar os nomes que estão sendo batidos hoje", revelou.
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Perguntado sobre sua ligação com Ronnie Lessa, Girão disse que não o conhecia e também negou conhecer Zóio, vítima do duplo homicídio em Gardênia, o qual o ex-vereador foi preso como mandante nesta sexta-feira. "Não sei o que aconteceu ou o que ocasionou isso. Não posso ser o mandante de todos os crimes do Rio de Janeiro", argumentou.
De acordo com Girão, atualmente ele vive como uma pessoa 'pacata', que trabalha em uma confecção de roupas e pretende cuidar de sua filha de 11 meses. "Sou um ser humano, tenho sentimentos também. Você sabe como é São Paulo, uma cidade muito difícil. Evito sair. Temo pela minha família e de repente me vejo pensando: “será que vão entrar aqui em casa e matar todo mundo?", completou.