Tiago Marques de Oliveira, 28 anos, foi ferido por estilhaços durante um confronto entre policiais da UPP Salgueiro e bandidos no Morro do Salgueiro e presoDivulgação

Rio - Familiares do estoquista Tiago Marques de Oliveira, 28 anos, ferido por estilhaços durante um confronto entre policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Salgueiro e bandidos no Morro do Salgueiro, no Andaraí, Zona Norte do Rio, afirmam que ele foi preso injustamente. Tiago tem um filho de quatro anos e trabalha como estoquista num colégio particular da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. A Comissão de Direitos Humanos da Alerj e a Defensoria Pública do Rio de Janeiro estão acompanhando a família para oficiar os órgãos responsáveis e pressionar a Justiça para que a família receba algum retorno. Em audiência de custódia, na tarde desta segunda-feira, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) negou o pedido de liberdade para Tiago. A família vai entrar com o pedido de habeas corpus ainda hoje.
Segundo o tio do estoquista, Leonardo de Oliveira Leite, que também foi ferido por estilhaços no confronto que ocorreu no sábado (31), Tiago mora em Madureira e foi ao Morro do Salgueiro para buscar uma cesta básica com um outro tio. No caminho, ele foi convidado a ir para um bar da sua família para confraternizar com alguns parentes que não via há um tempo. No entanto, a confraternização foi interrompida no início do tiroteio. "Ele não frequenta o local havia dois anos, desde a última vez que ele veio aqui nos visitar", conta o tio, que mora no morro há 40 anos.
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Durante o confronto entre policiais e criminosos da região, a adolescente Emily Carvalho de Oliveira, 14 anos, prima de Tiago, foi baleada na perna quando tentava se proteger dos tiros no bar da família. Ao ver que a prima estava ferida, Tiago tentou ajudar Emily usando o seu casaco para estancar o sangue e Leonardo foi em direção à uma equipe da PM para avisar que a jovem havia se ferido. No entanto, segundo Leonardo, um dos policiais teria dito que era para "ele se virar com o socorro da jovem". Após insistir no pedido, os militares colocaram a menina em um camburão da corporação e Tiago a acompanhou até o hospital, já que também estava ferido. Eles foram encaminhados ao Hospital Federal do Andaraí, no mesmo bairro.
Após o atendimento, Tiago foi notificado a comparecer à 19ª DP (Tijuca). O estoquista seguiu então até a delegacia, onde foi ouvido e preso. O tio do rapaz tentou explicar na distrital que o sobrinho era inocente e que não possui antecedentes criminais, mas, ainda de acordo com Leonardo, os agentes teriam debochado dele.
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O delegado titular da 19ª DP (Tijuca), Gabriel Ferrando, disse ao DIA que Tiago foi preso porque os policiais militares da UPP Salgueiro o apontaram como participante do confronto e ainda apresentaram armas supostamente utilizadas por ele. "No que se refere ao procedimento flagrancial, a prisão já foi remetida para análise do Judiciário, a quem caberá analisar sobre a versão apresentada pelos PMs em sede policial", explicou Ferrando.
O delegado informou ainda que Tiago prestou depoimento na presença do seu advogado, dando amplo acesso a todo procedimento, inclusive com as oitivas solicitadas pelo advogado que acompanhou todo o processo.
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A Polícia Civil informou ainda que "foi instaurado, também, um procedimento para apurar o evento que feriu a adolescente de 14 anos, ocasião em todas as informações serão analisadas, e novas oitivas realizadas, inclusive dos policiais militares que atuaram na ocasião". Todos serão ouvidos novamente.
A família então pediu ajuda da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, que acompanha o caso. "Não é sobre ser inocente ou se é envolvido. O que atendemos é a violação de direitos humanos sucessivas e sistemáticas em territórios periféricos. Nós, da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, nunca atendemos um caso igual ao do Tiago em bairros nobres. Se há domínio do tráfico nas comunidades, a polícia pode e deve intervir a partir da sua investigação e inteligência, mas de maneira nenhuma pode rifar e colocar na mira do alvo milhares de trabalhadores e jovens humildes e favelados que moram nessas regiões", disse a deputada Dani Monteiro, presidente da comissão.
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Assustado e desapontado com o tratamento dos policiais, o tio de Tiago conta que o sonho do sobrinho era se tornar policial civil.
PMs teriam utilizado 'cavalo de tróia' na comunidade
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Segundo testemunhas, os policiais da UPP Salgueiro estavam de tocaia na casa de um morador para conseguir capturar criminosos do Morro do Salgueiro. A prática conhecida por "cavalo de tróia" foi a mesma utilizada na ocasião da morte de Kathlen Romeu, 24, no Barro Vermelho, no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio, segundo familiares da designer. O recurso já teria sido usado outras vezes no Morro do Salgueiro, de acordo com moradores da comunidade.
Versão da PM
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De acordo com a Polícia Militar, agentes da UPP Salgueiro foram atacados a tiros durante patrulhamento na comunidade. Após o fim da troca de tiros, os PMs encontraram três homens armados caídos. Na ocorrência, os policiais dizem que Tiago estava em posse de uma pistola 9mm, um carregador com 11 cartuchos intactos. Os agentes também socorreram uma adolescente, que foi ferida na perna. Questionada sobre o uso da prática "cavalo de tróia", a PM não respondeu até o momento.
Confira a nota na íntegra:
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"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, na tarde deste sábado (31/07), policiais militares da UPP Salgueiro foram atacados a tiros por criminosos durante uma missão de patrulhamento e houve revide.

Após a estabilização do terreno, três homens armados foram encontrados feridos caídos ao solo e socorridos ao Hospital Federal do Andaraí. Um dos feridos, conhecido como Belo, gerente do tráfico local foi a óbito. Os policiais militares também socorreram para a mesma unidade de saúde uma adolescente, ferida na perna por estilhaços.

Foram apreendidos um fuzil, duas pistolas e quatro carregadores, além de farto material entorpecente. Caso registrado na 19ª DP. Todas as circunstâncias da referida ocorrência serão devidamente apuradas pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil e, no âmbito da Corporação, em Inquérito Policial Militar. Os dois procedimentos apuratórios serão acompanhados, como de praxe, pelo Ministério Público do Rio de Janeiro."

Confrontou deixou outros dois feridos e um morto
Um criminoso, identificado como Cleiton Teixeira da Silva, conhecido como "Belo", foi morto no tiroteio. Fábio Dias Lopes, de 30 anos, foi um dos baleados na ação. Ele foi socorrido para o Hospital do Andaraí, mas foi transferido para o Hospital Miguel Couto, onde está sob custódia.
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A adolescente Emily Carvalho de Oliveira foi socorrida para o Hospital Federal do Andaraí e transferida à noite para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier. Segundo a Polícia Militar, a jovem não é considerada suspeita e o estado de saúde dela é estável.
*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes