Agressora vai ser ouvida na 72ªDP (Mutuá)Reprodução/Internet

Rio - A Polícia Civil investiga um caso de injúria racial contra uma criança de 9 anos e uma bebê de apenas dois anos de idade, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. O caso aconteceu no último dia 3 de agosto, depois que a mãe das vítimas publicou uma foto delas nas redes sociais. O caso foi registrado na 72ª DP (Mutuá) na quinta-feira passada (5) e segundo o boletim de ocorrência, ao acessar seu perfil, a mãe das crianças foi surpreendida por ataques contra as filhas.
Em um comentário, uma mulher as chamou de "feias, melequentas e com cabelo duro" e disse que ela deveria levar as meninas ao salão de beleza e aproveitar para "limpar elas, tirando suas melecas". Em uma conversa entre as duas, a mulher pergunta se a criança tem a raiz do cabelo "um pouco dura" e a mãe das crianças responde que é crespa.
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A mulher então reafirma que a raiz da menina é dura. "Se está nas redes sociais, eu falo o que eu quiser. [...] em vez de ficar aqui querendo ou achando alguma coisa, leve suas filhas ao salão e aproveita e tira a meleca delas", diz a mulher. A mãe diz que a agressora precisa ter cuidado para falar sobre outras pessoas e alerta para que ela não opine, se não tiver "coisas produtivas" para dizer.
"Não existe cabelo duro. Se você estudar um pouco, vai ver que o que existe é cabelo crespo [...] Não entendi o porquê da pergunta e muito menos a maneira ofensiva a qual se relacionou ao cabelo da minha filha", respondeu. A mulher excluiu a mãe das meninas de suas redes.

"Quem é você para me mandar tomar cuidado? Se enxerga. As pessoas tem livre arbítrio para fazerem o que quiser. Se não exposse tanto suas filhas no Facebook, você não ouviria opiniões alheias. Tudo tem preço. Suas filhas são feias, melequentas e raiz de cabelo ruim e 'tá' acabado [...] Vai se cuidar também, porque você também não é nada bonita."
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A mãe das meninas conta que sua maior motivação para lutar contra o racismo são suas filhas e que sentiu muita tristeza e revolta pelos comentários ofensivos feitos sobre suas filhas. "No primeiro momento, veio um estado de choque, de não acreditar naquilo que eu estava passando, ainda mais se referindo a minha caçula. Depois me veio muita raiva, muita revolta, até que a ficha foi caindo e me deparei com muita tristeza", desabafou. Ela ainda relata que chegou a ficar sem dormir por dois dias, após os ataques. 
"Isso ter acontecido diretamente com elas, me tocou de uma forma muito ruim como ser humano e como mãe, a ponto de eu ficar sem conseguir dormir, só pensando naquelas palavras tão agressivas na minha mente. Eu olhava para elas e pensava "meu Deus, o que seria se eu não estivesse aqui para lutar por elas?".
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As meninas são incentivadas e elogiadas com frequência, segundo a mãe, para que saibam se amar do jeito que são, e não acreditem em ofensas e ataques racistas. Além de registrar o caso, ela ainda pretende processar a agressora. 
"Eu conversei com a minha mais velha e ela me perguntou como eu estava. Eu falei que estava muito triste por isso ter acontecido, mas que ia correr atrás de Justiça. Ela me disse "mamãe, você lembra o que você fala para mim? Que eu sou linda, maravilhosa, inteligente? Então, não fica assim, não." São coisas que eu falo muito para elas, para se alguém um dia chegar e falar "você é feia, sua cor é feia, seu cabelo é duro", para elas não escutarem e ouvirem a minha voz." 
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