"'Agora sou eu com eu mesma': foi o que passou na minha cabeça numa noite de agosto de 2008, na China"Arte: Kiko

Quem me conhece sabe como eu gosto de ter a casa florescendo de vida. De flor em flor, meu pensamento volta à época em que uma floricultura em Duque de Caxias virou um ponto rotineiro no meu dia a dia. De vez em quando, eu saía de lá com uma gérbera para enfeitar uma garrafa de vinho, que a essa altura já havia se transformado num vaso.
Certo dia, com a gérbera em mãos, um vendedor de capas de celular me abordou no trajeto até o carro. "Vai levar uma capa hoje?", perguntou-me. Respondi que não e agradeci pela oferta. E ele prosseguiu: "Leva uma capa, já ganhou a flor". Com um sorriso nos olhos, eu disse: "Não ganhei, comprei!"
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Saí pensando no simbolismo de eu ter me presenteado com uma flor. Automaticamente, recordei um dia das minhas férias de 2019, quando, após um compromisso no Centro do Rio, fiz um passeio na minha própria companhia. Entrei na Igreja da Candelária, visitei a instalação 'Forever Bicycles', na área externa do CCBB, fui ao Museu de Arte do Rio e ainda entrei no Mosteiro de São Bento. Lá de cima, aliás, há uma bela vista do Rio de Janeiro, com o Museu do Amanhã imponente na paisagem. Passei um dia somente com os meus desejos e as minhas ideias.
Há instantes em que paramos para refletir ou até mesmo listar na mente os afazeres que temos a cumprir. E alguém pode até nos chamar insistentemente que nem nos damos conta. Ficamos uns minutinhos ali, acompanhados somente dos nossos pensamentos.
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E há ocasiões em que realmente estamos a sós. Um desses episódios não sai da memória. "Agora sou eu com eu mesma": foi o que passou na minha cabeça numa noite de agosto de 2008, na China. Eu havia acabado de desembarcar sozinha no aeroporto de Shenyang, rumo ao hotel onde ficaria hospedada para a cobertura do torneio olímpico de futebol da Olimpíada de Pequim. Muito longe de casa, num país tão diferente, com inúmeros desafios no coração.
Os momentos solitários, na verdade, dão o contraponto e a beleza da volta para casa, da companhia dos amigos e do chamego de quem se ama. E realmente somos melhores em grupo quando aprendemos a conviver com os ruídos e as belas melodias da nossa própria companhia.