Raphael Montenegro (no detalhe e de camisa azul) chega à sede da Polícia Federal, na Praça Mauá Reginaldo Pimenta

Rio - A intenção inicial do ex-secretário da Administração Penitenciária Raphael Montenegro na negociação com presos de alta periculosidade do Comando Vermelho (CV) era mobilizar capital político com pessoas próximas aos criminosos, segundo apontou as investigações da Polícia Federal. A instituição apura agora se a alta cúpula da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) também recebia dinheiro de integrantes da facção. A operação apreendeu aproximadamente R$ 200 mil na casa de Montenegro.
"Se verificou uma capitalização política. Com o cumprimento do mandado de busca é que vai se aprofundar em relação a esse ponto (vantagens ilícitas em dinheiro)" explicou Tácio Muzzi, superintendente da Polícia Federal no Rio. Os líderes da investigação ainda não sabem se Montenegro tinha intenções políticas eleitorais.
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"Seria antecipado dizer de forma concreta e definitiva qual ou quais as vantagens que esses agentes públicos estavam buscando. Há indícios concretos de determinadas vantagens, que ainda está sendo apurado", explicou Heziel Martins, delegado da PF.
Raphael Montenegro visitou o presídio federal de Catanduvas, no Paraná, e foi gravado negociando com Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP, a transferência do criminoso para o Rio de Janeiro. VP é um dos líderes nacionais do CV. No fim de julho, Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, outro membro da cúpula da facção, saiu pela porta da frente mesmo com mandado de prisão em aberto.
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"Esses presos se comprometeram a ter um bom comportamento dentro da unidade prisional em troca do regresso desses presos. O que a gente nota é que a estrutura de fiscalização montada em unidades federais está se mostrando eficaz, efetiva. É algo que a gente não pode enfraquecer, nem menosprezar. Havia, sim, uma atuação consistente para favorecer essas lideranças", afirmou Carlos Aguiar, procurador regional da República. Segundo ele, apesar das negociações e de pedidos em análise, nenhum preso que negociou com Montenegro regressou efetivamente ao Rio.
O Governo do Rio publicou no Diário Oficial (DO) desta terça-feira a exoneração de Montenegro. Em seu lugar, assume o delegado da PF Victor Hugo Poubel. 
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Em nota, a Seap disse que a "substituição já havia sido decidida na semana passada e aguardava os trâmites da cessão do servidor público federal. Com relação à operação deflagrada nesta manhã pela Polícia Federal, o governo se compromete a auxiliar no aprofundamento das apurações. Nesta manhã, o governador falou com o ministro da Justiça, Anderson Torres, colocando o Estado à disposição e reforçando que o governo é o maior interessado no esclarecimento dos fatos".
Duas pessoas identificadas como membros do Sindicato dos Servidores do Sistema Penal do RJ estiveram na coletiva de imprensa da Polícia Federal e chegaram a interromper a fala do superintendente, Tácio Muzzi. Um dos membros, que se identificou como Gutemberg de Oliveira, chegou a chamar de "ilações" as apurações da operação.
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