Ex-secretário da Seap, Raphael Montenegro, chega na sede a Polícia Federal, na Praça Mauá Reginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio - O agora ex-secretário de Estado de Administração Penitenciária Raphael Montenegro, preso nesta terça-feira na "Operação Simonia", tentava trazer a alta cúpula do Comando Vermelho de volta para o Rio. As conversas do secretário com lideranças da facção, como Márcio dos Santos Nepomuceno, o "Marcinho VP", na penitenciária de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná, revelaram o plano que incluía a manipulação de relatórios encaminhados à Vara de Execuções Penais (VEP). 
De acordo com escutas registradas na decisão que decretou a prisão, Montenegro afirmou que, dependendo da promessa de conduta de Marcinho VP no comando da facção, ele mesmo ficaria a cargo de alterar o teor dos relatórios. O objetivo era conseguir trazer o traficante, um dos líderes do Comando Vermelho, de volta ao Rio — Marcinho VP cumpre sua pena em presídios federais, fora do estado, há quinze anos. 
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"Então Márcio, a gente, a gente tá aqui exatamente para não mandar o mesmo relatório que a gente manda há vinte anos pra VEP (...) O próximo, próximo relatório que o juiz da VEP receber, é o relatório que eu vou confeccionar não pelas informações que eu recebi, é pela conversa que eu tive com você...", disse Raphael Montenegro ao traficante, em visita ao presídio de Catanduvas. 
A conversa com Márcio dos Santos também chamava atenção pela forma respeitosa que o então secretário se dirigia ao bandido quando abordava as contrapartidas esperadas no "acordo de cavalheiros". Em dado momento do diálogo, Raphael chega a dizer que o traficante é tão importante quanto o Secretário de Estado de Segurança Pública do Rio. 
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"Hoje, você, você é um cara fundamental lá, (...) você é um cara fundamental nessa virada de cultura, você é o cara que hoje fala pela maior facção do Brasil, e assim, a gente não sabe cara, e tá tudo certo... Mérito seu, a gente respeita isso. Uma história que você construiu, sabe você a que custo, sabe você o quanto custou construir o nome do Marcinho VP (...) Porra, quinze anos aqui e você ainda fala pela facção, porra, é mérito pra cacete! E a gente respeita isso, como respeita não só o Marcio homem, mas o Marcinho VP, o Marcinho VP, o traficante, esse cara tem que ser respeitado, a gente respeita por tudo que você construiu, agora, a gente quer que o Marcio, como homem volte, e volte num espírito cooperativo", declarou o secretário.
Raphael também deixou claro que não tinha nenhum interesse de intervir nos "negócios" de Marcinho VP e que o objetivo de trazê-lo de volta para o Rio é a redução dos confrontos entre facções rivais. "Ninguém tem expectativa que você vá pro Rio pra largar a vida, a gente sabe, a gente têm consciência dos compromissos que você tem com os seus irmão, a gente têm consciência do compromisso que você tem com a facção, agora, a gente também sabe que você é um cara que no Rio, pô, pode baixar a poeira pra caralho, né?."
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Além de Marcinho VP, o ex-secretário da Seap também conversou com outras oito lideranças do Comando Vermelho dentro de presídios. A lista inclui Fabiano Atanásio da Silva, o FB, Claudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, Luiz Cláudio Machado, o Marreta, e Carlos Eduardo Rocha Freite, o Cadu Playboy — líder do tráfico do Comando Vermelho na Região dos Lagos. Mas Raphael não conversou apenas com integrantes da facção de 'Marcinho VP', ele também agendou uma visita a Carlos José da Silva Fernandes, o Arafat.