Ex-secretário da Seap, Raphael Montenegro, chega na sede a Polícia Federal, na Praça Mauá Reginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio - No dia 4 de maio, o então secretário de Administração Penitenciária do Rio, Raphael Montenegro, enviou um e-mail ao juiz federal da Seção de Execução Penal de Catanduvas (PR) pedindo uma visita ao presídio federal para fazer entrevistas com criminosos considerados de altíssima periculosidade, como Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP. O argumento de Montenegro era colher informações para relatórios, mas o objetivo final, segundo investigações da Polícia Federal, era fazer acordos com os presos, em troca de vantagens indevidas. A PF apura se o ex-secretário recebia dinheiro do Comando Vermelho - cerca de R$ 200 mil foram encontrados em sua residência, na Urca, Zona Sul do Rio. 
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Carlos Aguiar, procurador regional da República, que representou o Ministério Público Federal (MPF) no caso, explicou que não é comum a visita de secretários a criminosos, e que a atitude inusitada de Montenegro despertou o início da investigação, em maio.
"O secretário encaminhou e-mail solicitando entrevistar presos classificados de altíssima periculosidade, a pretexto de colher informações para que essas informações instruíssem relatórios ao juízes que decidiriam sobre o retorno ou não daqueles presos. Em que pese o caráter incomum, mesmo assim com esse nível de interlocução, isso se deu de forma inédita", explicou Aguiar. "Em vez de colher informações, o que se estabeleceu foi um movimento de acordos. O secretário tentava obter daqueles presos um compromisso de que adotariam um determinado comportamento dentro da unidade prisional", completou.
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Além do secretário Raphael Montenegro, Sandro Faria Gimenes, superintendente operacional da Seap, e Wellington Nunes da Silva, subsecretário, também foram presos. Os agentes cumpriram também cinco mandados de busca e apreensão. A segunda fase da investigação vai apurar se a cúpula da secretaria recebia dinheiro em troca de benefícios a presos - como a transferência para o Rio, ou a soltura, mesmo com mandado de prisão ativo. É o caso de Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, de 49 anos, revelado com exclusividade pelo DIA: no fim de julho, o chefão do Comando Vermelho saiu da cadeia pela porta da frente, apesar de ter mandado ativo.
Raphael Montenegro conversou com alguns dos maiores líderes nacionais do Comando Vermelho, como Claudinho da Mineira, Marreta e Marcinho VP. O diálogo com o último, preso em Catanduvas, foi o estopim das investigações. O Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) registrou gravações ambientais do presídio federal, nas quais o secretário negociava a transferência do preso para o Rio. O departamento tem autorização para gravar conversas entre presos e visitantes no parlatório e em outros locais da penitenciária.
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"Essa operação é estrutural porque envolve lideranças de organização criminosa violenta. A gente já conseguiu utilizar essa estrutura do DEPEN. Essa operação deixa claro o enfoque que a gente tem buscado, que é a questão do sistema penitenciário. De nada adianta a polícia investigar, o Ministério Público denunciar, se no âmbito do cumprimento de penas não tiver o rigor necessário. O sistema penitenciário não deve ser complacente", afirmou o superintendente da Polícia Federal, Tácio Muzzi. "Apesar da sensibilidade do tema, o Poder Público souberam lidar com o tema e reagir à altura".
PF encontra cerca de R$ 200 mil na casa de ex-secretário da Seap
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A intenção inicial do ex-secretário da Administração Penitenciária Raphael Montenegro na negociação com presos de alta periculosidade do Comando Vermelho (CV) era mobilizar capital político com pessoas próximas aos criminosos, segundo apontou as investigações da Polícia Federal. A instituição apura agora se a alta cúpula da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) também recebia dinheiro de integrantes da facção. A operação apreendeu aproximadamente R$ 200 mil na casa de Montenegro.
"Se verificou uma capitalização política. Com o cumprimento do mandado de busca é que vai se aprofundar em relação a esse ponto (vantagens ilícitas em dinheiro)" explicou Tácio Muzzi, superintendente da Polícia Federal no Rio. Os líderes da investigação ainda não sabem se Montenegro tinha intenções políticas eleitorais
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