Rio - O Ministério Público do Rio (MPRJ) deflagrou nesta quinta-feira (23) a Operação Desmonte, que mirava um grupo acusado de furtar e receptar peças de veículos acautelados em um depósito do Detro (Departamento de Transportes Rodoviários) em Mesquita, na Baixada Fluminense, administrado pela empresa Rodando Legal. O objetivo era cumprir cinco mandados de prisão por associação criminosa; quatro dos integrantes da quadrilha ainda respondem por furto qualificado. Quatro homens foram presos e o alvo identificado como Bruno de Farias está foragido. Além disso, celulares, um caderno de anotações e diversas peças de carros foram apreendidas.
O terreno era utilizado pelo Detro até 2018, mas o contrato foi encerrado e os carros permaneceram no local aguardando leilão. Segundo as investigações do Ministério Público, o grupo furtava as peças dos veículos e repassava para os receptadores. Para não serem flagrados, as peças eram jogadas através de um muro nos fundos do depósito, ou colocadas em mochilas e bolsas. Assim, funcionários negociavam as peças dos veículos diretamente com os clientes. Alguns eram ameaçados com armas de fogo no momento da cobrança.
"A atuação da empresa não estaria regularizada, porque não teria a autorização do Detran para funcionar no local. Além disso, os funcionários se aproveitavam das inúmeras irregularidades que aconteciam ali e praticavam esses crimes, que eram a subtração das peças e a receptação também", explicou a promotora do Gaeco, Mariana Segadas.
O MP identificou que a retirada das peças era comandada por Bruno de Faria, o Bruno Bomba, funcionário do depósito. Anderson Vilarinho, o Péia, era intermediário nas negociações. Helton Reis Cordeiro, o Pastor, e Josiel Pereira da Silva, o Juninho, eram vigias e responsáveis pela portaria do depósito, mas facilitavam a saída das peças furtada. Gemilson Valente Pires, o PQD, era segurança e foi flagrado portando arma de fogo. Dos denunciados, Anderson, Helton, Josiel e Gemilson foram presos, já Bruno de Faria se encontra foragido.
"Tinha porteiros, vigias, seguranças e os próprios funcionários que comercializavam essas peças para outras pessoas. O Helton Reis, que foi preso, atuava como vigia e segurança, tinha uma dupla função no depósito. Ele facilitava, como o outro porteiro que também já foi preso, a entrada dessas pessoas no local e também a saída dessas peças, que eram subtraídas", informou Segadas.
O MPRJ informou que celulares, um caderno de anotações e diversas peças automotivas foram apreendidas na ação.
A promotora ressaltou que provas que foram compartilhadas a partir da investigação e a operação "Direção Perigosa", realizada em junho deste ano, contribuíram para dar inicio a ação contra o grupo acusado de furtar e receptar peças de veículos acautelados.
'Direção Perigosa'
A operação Direção Perigosa, realizada em 1º de junho deste ano, contra a milícia que atua em Mesquita, na Baixada Fluminense, prendeu doze pessoas. Um dos alvos da ação, o policial militar Daniel Monsores foi preso com a farda da PM, dentro do 20º BPM (Mesquita).
De acordo com as investigações, o grupo liderado pelo policial militar Márcio Lima da Cunha, conhecido como "Zebu", explora o comércio ilegal de transporte alternativo. A polícia diz que, mesmo de dentro do Batalhão Prisional da Polícia Militar (BEP) desde 2018, ele exerce poder de controle em três cooperativas nos bairros Jacutinga, Santo Elias e Vila Emil, em Mesquita, através de cobrança de taxas para circular livremente pelos bairros. Oito policiais militares foram denunciados e presos.
Entre os civis presos está a mulher de Zebu, Sandra Gonçalves Pacheco. Ela é apontada nas investigações como a pessoa que passa todas as informações e a propina para o marido, no Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar, em Niterói.
A milícia recebia taxas de três cooperativas de transporte irregulares. Os respectivos gerentes das companhias também foram alvo de mandados. "Essa milícia cobrava taxas para que as cooperativas circulassem livremente. O dinheiro ia para Zebu, que recebia o montante na cadeia", conta a promotora do Gaeco Mariana Segadas.
Os policiais militares envolvidos recebiam uma semanada de propina para que o esquema funcionasse. Os dois PMs do 6º BPM, que já tiveram passagem pelo 20º BPM, cumpriam ordens expressas de Zebu. Além deles, foram presos quatro militares do 20º BPM (Mesquita) e um do 21º BPM (São João de Meriti), por recebimento de propina.
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