Policia - Familiares de Samuel Vicente de 17 anos e Willian Vasconcelos, 38 anos, mortos ontem, em Ricardo de Albuquerque, zona norte do Rio, estiveram no IML, no centro do Rio, na manha de hoje, para liberaçao dos corpos. Na foto, da esquerda para direita, Ana Lucia Vicente, de mascara preta, tia do Samuel; ao centro, Adriana Maura Vicente, tia do Samuel e a direita, Sonia Bonfim Vicente, mae do Samuel e esposa do Willian.Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - O porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, informou, na manhã desta segunda-feira (27), que a Corregedoria da corporação investiga a morte do estudante Samuel Vicente, de 18 anos, e de William Vasconcelos, de 38 anos. "A Corregedoria da PM já está no caso desde sábado, por determinação do secretário Luiz Henrique Pires". William e o enteado morreram após serem baleados em uma ação do 41º BPM (Irajá), em Anchieta, na Zona Norte do Rio, no sábado (25). A namorada de Samuel, Camily da Silva Polinário, de 18, e uma quarta vítima também foram alvejadas. 
"É muito importante deixar claro que tanto a nota produzida pela assessoria de imprensa da PM quanto as informações repassadas ao noticiário foram baseadas nas declarações dos policiais do 41º BPM (Irajá). Esses agentes, que fizeram o registro na delegacia, apontam que após esse confronto, várias pessoas apareceram ali feridas e foram encaminhadas para o hospital", informou o major em entrevista ao Bom Dia Rio, da TV Globo. 
Em nota, a PM diz que foi atacada a tiros por criminosos armados enquanto estavam em patrulhamento pela Rua Alcobaça. Após cessar o confronto, a equipe diz ter encontrado três suspeitos feridos. Com eles, a corporação afirmou ter encontrado duas pistolas, carregadores, munições, um conversor para submetralhadora, dois rádios comunicadores e drogas. A família nega esta versão e relata que Camily e Samuel estavam na garupa da moto de William e voltavam de uma festa na região do Complexo do Chapadão. A menina estava passando mal e era levada para uma UPA da região. 

O major ainda caracterizou a região do Complexo do Chapadão como "complexa" e com forte domínio do tráfico. "Eu fui subcomandante do 41º BPM, é uma área bem complexa, que tem uma expansão dia após dia do tráfico que opera no Chapadão. Tem o baile funk, que é promovido pelo tráfico, conta com a participação de inúmeros criminosos e faz subir o número de roubos de veículos e cargas, assim é necessário colocar um policiamento estrategicamente posicionado no entorno do Chapadão, já que o batalhão por si só não consegue interromper esse baile, porque é muito no interior da comunidade". 
Ele explicou que os policiais que atuam na região são "atacados" constantemente. "Não é uma questão somente de padronizar a abordagem a uma moto, mas também de entender a realidade daquele policial que trabalha naquela localidade. Ali a gente tem um policiamento que sofre ataques constantes e que surgem de diferentes formas".
"Precisamos agora entender o que de fato aconteceu ali naquela abordagem, se a fala dos policiais é real, se está ligada diretamente aos acontecidos. Agora é fundamental ter a perícia", ressaltou o major. 

Blaz ainda falou sobre a questão das câmeras de segurança em uniformes de agentes, e defendeu que o projeto viabiliza "sustentação nas alegações". "Essas câmeras serão ferramentas fundamentais para a defesa dos policias. Serão equipamentos que irão fazer toda a diferença, uma vez que elas vão registrar aquilo que só o policial no centro de operações consegue observar. então. Serão 22 mil equipamentos adquiridos para diferentes setores do governo, prioritariamente a PM, que vai ter mais de 50% dessas câmeras no seu efetivo".
Família nega versão da PM
No domingo (26), a família de Samuel esteve no Instituto Médico Legal do Rio, na Região Central e voltou a contestar a versão apresentada pela polícia, que alega ter sido atacada por traficantes do Chapadão. Segundo familiares, Camily e Samuel estavam na garupa da moto de William e voltavam de uma festa na região do Complexo do Chapadão. A menina estava passando mal e era levada para uma UPA da região.

Camily está internada no HEGV e apresenta quadro de saúde estável. A família diz que a jovem aguarda por cirurgia. A moça não está sob custódia.

"A mãe dela me procurou e disse que a família está sendo coagida dentro do hospital. A garota não era do tráfico, nunca foi. A irmã pagava pra ela cuidar da sobrinha", diz a tia de Samuel, namorado de Camily.

"As mortes do meu filho e do meu marido não vão ficar em vão, eles não eram bandidos. Meu filho ia se apresentar no Exército e meu marido trabalhava em uma farmácia ao lado da nossa casa", disse a dona de casa Sonia Bonfim, esposa de William e mãe de Samuel.

A dona de casa contestou a versão apresentada pelos policiais militares.

"Não havia operação, eles entraram atirando. Chegaram para matar", desabafou Sônia, afirmando que os documentos do maridos ainda não foram localizados. "Eu quero os pertences e documentos do meu marido. Eles (policiais) falaram que bandido não tem documento. Ali não tinha nenhum bandido".
A polícia não divulgou o nome do quarto baleado na operação. A Polícia Civil informou ao DIA que as armas utilizadas na ação foram apreendidas e que testemunhas estão sendo ouvidas. Além disso, informou que outras diligências serão realizadas para esclarecer os fatos e a origem dos disparos que atingiram as vítimas.