Prefeitura do Rio publica edital de licitação do novo sistema de bilhetagem digital do transporte públicoMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - A Prefeitura do Rio publicou nesta sexta-feira o edital de licitação para o novo modelo de bilhetagem eletrônica do transporte público na cidade. Segundo o texto, este novo sistema dará ao município o controle da arrecadação tarifária e o monitoramento da demanda de passageiros em todas as linhas, e permitirá maior transparência financeira, planejamento com dados confiáveis e melhoria dos serviços.
A licitação está prevista para acontecer no dia 6 de dezembro e não poderá contar com empresas ligadas ao transporte público na Região Metropolitana. O valor estimado do investimento é de R$ 1 bilhão e a concessão será válida pelo prazo de 10 anos, podendo ser prorrogada por, no máximo, igual período.
A secretária municipal de Transportes, Maína Celidônio, disse, em entrevista ao 'Bom Dia Rio', da TV Globo, que o sistema vai acabar com a "caixa-preta", oferecendo assim mais transparência sobre a arrecadação nos transportes.
"Ela (a caixa-preta) vai deixar de existir. O município vai ter total controle da arrecadação tarifária. A gente vai saber exatamente a localização de cada entrada de passageiro. Isto é importante por dois motivos principais: primeiro, o planejamento da rede. A gente vai saber quais são as linhas de desejo, onde as pessoas estão embarcando, quais estão mais cheias. Isso é importante para calcular a frota. A segunda é a transparência, saber qual a arrecadação, o que falta e se está deficitário o sistema e se precisa de aporte. Aí a gente vai poder fazer essa conta, pagar e garantir que os ônibus estejam na rua", explicou a secretária.
Vantagens para os usuários
De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), o novo sistema vai proporcionar mais benefícios para os passageiros. "No sistema de bilhetagem digital serão aceitos diversos meios de pagamento, como cartão bancário, QR Code, celular e pix. Há também a possibilidade de utilização de todos os cartões na integração com qualquer outro tipo de transporte, cuja integração será ampliada gradualmente, incluindo Bike Rio, Taxi Rio, além do metrô e trens urbanos. Haverá ainda facilidade na recarga e na troca de cartões e também na recuperação de créditos. O usuário poderá controlar a sua conta de forma 100% online e em tempo real, por meio de aplicativo e receberá o primeiro cartão gratuitamente".
Para facilitar o atendimento, a concessionária vai disponibilizar 15 pontos de atendimento presencial e triplicar a rede de venda e recarga hoje existente. Além de fazer a recarga em máquinas de autoatendimento (ATM), o usuário poderá utilizar a recarga online, por meio de site e aplicativo. O crédito irá entrar no momento da recarga e não mais em 48h, como acontece atualmente.
Celidônio disse que as conversas com a SuperVia e o MetrôRio estão bem adiantadas para uma futura integração entre os modais nesse novo sistema.
Em nota, a SuperVia informou que "aguarda a contratação da empresa responsável para avançar com as negociações". 
O Rio Ônibus afirmou que a medida não resolve o problema das empresas de ônibus. "O Rio Ônibus aguarda análise do edital por suas equipes técnica e jurídica para poder se pronunciar em definitivo, mas informa que a solução proposta pela Prefeitura para a Bilhetagem, que levará no mínimo um ano para ser implantada, não resolve o problema imediato, que é dar condições econômico-financeiras às empresas para que prestem o serviço esperado pela população. Esse é o verdadeiro problema: a urgência de viabilizar a operação do sistema", pontuou.
A reportagem de O DIA procurou o MetrôRio para comentar o assunto, mas até o momento não obteve resposta.
Opinião dos passageiros
A novidade está gerando controvérsia entre alguns usuários. A moradora de Realengo, Zona Oeste do Rio, Conceição Nascimento, de 24 anos, questiona a segurança do novo sistema.

"O transporte público do Rio já não é ótimo. As linhas que circulam na Zona Sul podem até ter vantagem com isso, mas quem usa o transporte sucateado, sem segurança e perigoso mas outras partes da cidade, acaba ficando mais exposto, dando mais um motivo para quem sabe aumentar o número de assalto nos ônibus, uma vez que é óbvio a necessidade de celular para usar o QR Code ou Pix. Mais uma vez a prefeitura do Rio esqueceu que existe uma cidade após o túnel Rebouças e que ela necessita de outras melhorias, principalmente na segurança, antes de mudarem a maneira de pagamento no transporte público", disse a vendedora. 
O morador da Vila Valqueire, na Zona Oeste, Filipe dos Reis, de 22 anos, acredita que o sistema pode dar certo, mas também faz ressalvas quanto ao uso do pix no transporte. 
"Tem que ser muito bem feito para poder facilitar a nossa vida. O QR Code eu acho uma boa ideia e o cartão também, porque vai funcionar como se fosse o RioCard e o Bilhete Único. Essa questão do pix que está me deixando um pouco preocupado, porque eu acho que pode atrapalhar na hora de entrar no ônibus. O pessoal vai querer parar, abrir o celular e vai depender da internet para funcionar".
Em contrapartida, Gabriel Fareli, de 28 anos, afirmou que esse é um grande passo para a modernização do transporte público no estado. "Gostei da novidade. Acho que vai facilitar muito a vida do usuário e pode até tornar a viagem mais segura e rápida com o menor uso de dinheiro físico. Com a possibilidade de diversas formas de pagamento, o cidadão não precisará mais pagar para comprar um bilhete único, principalmente, o que não usam o transporte com frequência. O pagamento da tarifa se tornará prático e conveniente ao passageiro".
Melhorias a curto prazo
De acordo com Celidônio, entre as medidas mais imediatas para melhorar o sistema está a pressão sobre as empresas de transporte para que linhas que deixaram de circular por causa da pandemia da covid-19 sejam retomadas. 
"A gente está criando um sistema que aumento muito na capacidade de fiscalização e de multa. Nossa capacidade de pressionar para que as empresas voltem com as linhas, aumentando o custo delas de não rodarem com as linhas. Antigamente, a gente precisava de um fiscal para multar manualmente cada linha, e a partir de novembro vamos estar multando todos os 500 serviços da cidade automaticamente duas vezes ao dia. Isso é uma forma de pressionar para uma mudança. Além disso, temos uma perspectiva de melhora com a vacinação, com o aumento da demanda, esperamos que mais ônibus possam rodar, ainda vamos estar fazendo a licitação do BRT em dezembro também. A gente também prevê outros tipos de reformulação, como a revitalização dos BRS, grande expansão da malha de BRS e uma melhora na informação para o usuário. A gente vai ter um QR Code em todos os pontos que vai falar quais linhas passam em quais pontos, em quanto tempo o ônibus chega. Sabemos que são medidas paliativas, mas esperamos que dê uma melhora para o usuário no seu dia-a-dia".
A prefeitura espera que o contrato do sistema de bilhetagem com a empresa vencedora seja assinado ainda em dezembro. A concessionária terá seis meses para iniciar a operação. Durante este período, a empresa deve fornecer os novos validadores aos operadores, emitir cartões de transportes e novas mídias aos usuários, como QR Codes, disponibilizar a rede de venda, treinar funcionários e realizar os testes necessários.
Após esta fase, a concessionária começará a operar em uma etapa de transição de seis meses, em que o novo sistema de bilhetagem digital e o sistema atual coexistirão. Ou seja, os usuários e operadores de transporte poderão conviver com dois cartões e dois validadores para garantir uma transição de sistemas com maior tranquilidade.
Crise no transporte
Em setembro, o Consórcio Santa Cruz entrou em recuperação judicial. Responsável por 19% de todo o volume de passageiros de ônibus da cidade do Rio, a empresa é a mais afetada pela invasão do transporte clandestino por vans e já é o segundo dos quatro consórcios a solicitar o recurso legal para não ser obrigado a encerrar suas atividades, o que deixaria os passageiros da Zona Oeste sem linhas de ônibus.
O grupo já contabiliza cinco empresas fechadas em decorrência da crise financeira, sendo elas Andorinha, Top Rio, Algarve, Rio Rotas e Bangu e, das seis companhias que se mantêm em operação, a metade já está em regime de Recuperação Judicial, Campo Grande, Pégaso e Palmares. Desde março de 2020, as empresas de ônibus cariocas acumulam déficit financeiro de R$1,9 bilhão e já foram fechadas 16 empresas, além da demissão de 21 mil profissionais rodoviários.