Diversos atos contra a violência no Jacarezinho foram feitos no RioDaniel Castelo Branco

Rio - A força-tarefa do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), criada para apurar as 28 mortes durante a ação mais letal da história do estado, na favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, em 6 de maio deste ano, investiga quatro policiais civis que participaram da ação e a justificativa de legítima defesa dada em diferentes registros de ocorrência.

Os policiais já foram ouvidos na sede do MPRJ, no Centro da cidade. De acordo com a força-tarefa, 24 agentes estatais aparecem nas ocorrências com morte do dia da operação. O Ministério Público procurou por moradores da comunidade que pudessem ajudar a esclarecer o que aconteceu na ocasião. Até esta sexta-feira, foram ouvidas 44 testemunhas.
O MP ainda colocou 27 pessoas em atendimento psicossocial para a ajudar a força-tarefa no contato com testemunhas. Ainda segundo o G1, em 12 locais da comunidade houve mortes com a participação de policiais civis e os cenários com apuração mais avançadas são os de poucas mortes em ambientes fechados. 

Relembre o caso

Uma operação da Polícia Civil no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, deixou ao menos 28 mortos, incluindo um agente da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), cinco pessoas baleadas e seis suspeitos presos no dia 6 de maio de 2021. De acordo com a Polícia Civil, todos os 27 mortos na operação eram traficantes. A ação foi considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro. Moradores do Jacarezinho chegaram a realizar uma manifestação pedindo o "fim do massacre das polícias". Familiares dos mortos também acusaram polícia de matar suspeitos que já tinham se entregado.

A deputada estadual Renata Souza (PSOL) entrou com uma representação ao Ministério Público (MPRJ) e Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a investigação sobre uma operação da Polícia Civil. A parlamentar também enviou informes à ONU e a membros da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que faz parte da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre as violações denunciadas ao mandato.

O Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos condenou a brutalidade e a violência policial ao comentar sobre a operação. O porta-voz do órgão disse estar "profundamente perturbado" com as mortes que ocorreram. Segundo ele, há um histórico de uso desproporcional e desnecessário da força pela polícia.

Jornais de diversas partes do mundo destacaram a operação. Os britânicos The Guardian a rede BBC e o norte-americano The New York Times chamaram atenção para fotos do local, que mostrava sangue e balas cravejadas nos muros, falas de ativistas dos direitos humanos, as mortes que aconteceram na ação, além de afirmar que o estado é um dos mais violentos do país, com diversas áreas dominadas por facções criminosas associadas ao narcotráfico.
Em nota, O MPRJ informou que "os Procedimentos de Investigação Criminal em tramitação no MPRJ têm o objetivo de apurar os homicídios ocorridos e quaisquer outros delitos durante a operação. A investigação apura as condições em que os policiais atiraram e provocaram as mortes, para concluir se eram situações de legítima defesa ou se houve execução no local. Em relação à fraude processual, é apurado se as vítimas foram carregadas ainda com vida ou se já estavam mortas, tendo sido retiradas com o intuito de desfazer o local do crime".