Espaços como cinemas e teatros estão liberados, mas deverão ainda obrigar o uso de máscarasFoto: Divulgação.

Rio - A decisão da Prefeitura do Rio de liberar a lotação de espaços como teatros, cinemas, museus e centros comerciais dividiu especialistas nesta segunda-feira (18). Em outra medida de relaxamento, a previsão é que na terça-feira da semana que vem (26) a população carioca alcance 65% de cobertura vacinal completa e com isso seja dispensado o uso de máscaras em lugares abertos sem aglomeração.
Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, a flexibilização das medidas restritivas são condizentes com os índices de covid-19 na cidade. Com o avanço da cobertura vacinal, os riscos passam a ser mais individuais do que coletivos, na avaliação do médico.
"A gente já está numa fase de flexibilização. Os índices estão muito bons. É claro que existe um risco. Mas, não se justifica mais ter todas as medidas restritivas. Ainda assim, cada um tem que se cuidar e usar máscaras de boa qualidade. As pessoas mais frágeis ainda devem evitar aglomerações em ambientes fechados", afirmou o médico.
Já o epidemiologista da Fiocruz Diego Xavier considera arriscado realizar sucessivas medidas de relaxamentos sem antes observar os efeitos de cada uma delas na Sáude Pública. Ele observa que a liberação de lotação em ambientes fechados deveria vir depois da liberação do uso de máscaras em ambientes abertos, que têm menos risco de contágio de covid-19.
"Falta um pouco de critério nesses relaxamentos. O que a gente sabe até agora é que existem situações de risco para a transmissão da covid-19. São exatamente espaços fechados, sem circulação de ar, como cinema e teatro. Vemos a liberação desse tipo de espaço, e não vemos liberação do uso da máscara em parque. Há uma confusão de critérios. Talvez por pressão de setores econômicos", avalia o especialista em Saúde Pública e Epidemiologia da Fiocruz.
O pneumologista Hermano Castro, pesquisador da Fiocruz, também entende que a liberação de lotação em ambientes fechados pode ser precipitada. Ele defende que o distanciamento social seja mantido para possibilitar a queda dos casos e mortes por covid-19 na cidade e no Estado do Rio.
"O Estado e o município estão com situação de queda de casos e mortes de forma sustentada há uma semana. Isto se deve principalmente à vacinação e às medidas sanitárias. Ocorre que o ideal é atingirmos 80 % da população adulta vacinada para atingirmos a imunidade coletiva para a variante Delta. Além disso, as medidas sanitárias precisam ser mantidas como uso de máscara e distanciamento social para continuar nessa queda de casos e mortes", afirmou Castro.
O pesquisador ressalta que a liberação de capacidade máxima em ambientes fechados reduz o distanciamento necessário para cortar a transmissão ambiental aérea do vírus. Ele orienta que seja reforçado o uso de máscara com maior proteção, tipo cirúrgica tripla ou a PFF2, como forma de reduzir o risco de contágio.
O epidemiologista da Fiocruz Diego Xavier acrescenta que há uma demanda de atendimento represada, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS), que poderia deixar pacientes sem assistência em caso de um aumento no número de casos de covid-19.
"É arriscado liberar tudo ao mesmo tempo sem esperar para observar o efeito de cada medida. Ao mesmo tempo, a gente tem uma demanda represada, de cirurgia eletiva, por exemplo. É um passivo muito grande que o SUS está tendo que correr atrás. A folga que a gente ganha com a diminuição da covid tem que ser ocupada com outras doenças. Qualquer aumento que a gente tiver da covid, mesmo que não seja tão expressivo, gera desassistência", afirma Xavier.
Em publicação no Diário Oficial do município, o prefeito Eduardo Paes alterou o decreto que limitava a 70% da capacidade nesses espaços. Agora, as atividades poderão ser retomadas em 100% da capacidade de público, sem necessidade de distanciamento. O uso de máscaras, no entanto, segue obrigatório.
O decreto liberou a capacidade total nos seguintes espaços:
- shopping centers, centros comerciais e galerias de lojas;
- museu, biblioteca, cinema, teatro, casa de festa, salão de jogos, circo, recreação infantil, parque de diversões, temáticos e aquáticos, pista de patinação, entretenimento, visitações turísticas, aquários e jardim zoológico;
- atividades em casas de espetáculo e concerto, apresentações artísticas em espaços de evento, drive-in, feiras e congressos, exposição
Academias de ginástica e estádios, além de bares, restaurantes e lanchonetes ainda não entram na lista de liberados por estarem em outro artigo do decreto.
Em todos os espaços, abertos ou fechados, todos os cariocas devem manter o uso de máscaras. Em alguns espaços fechados, como museus, teatros e cinemas, a apresentação do comprovante de vacinação é obrigatória para entrar.
Dados oficiais do Painel Rio Covid, da prefeitura, apontam que a capital já atingiu, nesta segunda-feira, 61% da população adulta vacinada com as duas doses ou com a dose única da vacina contra o coronavírus. Segundo o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, a expectativa é que esse número chegue a 65% até terça-feira da semana que vem e a partir daí, seja possível acabar com a obrigatoriedade do uso das máscaras faciais em locais abertos.
Soranz explicou que as máscaras passarão a ser optativas e que os cariocas que decidirem continuar utilizando a proteção, não precisam deixar de usar. A medida não valerá para locais fechados.
Segundo o secretário, esta é a oitava semana de queda nos números de casos de covid-19. Além disso, dados do portal de monitoramento da prefeitura também mostram que a capital tem o menor índice de internação pela doença desde o início da pandemia, com menos de mil hospitalizações em outubro.
A dose de reforço para idosos de 67 anos foi suspensa nesta segunda-feira por falta de doses. Segundo Soranz, o Ministério da Saúde enviou 300 mil doses a menos do que a capital previa para continuar com a campanha de reforço dos idosos. O secretário explicou que a previsão é que novas doses cheguem na quarta-feira (20) e a vacinação seja retomada na quinta (21).