Após perícia no local, peças são enviadas para hangar, onde aeronave é reconstituídaReprodução/Carlos Eduardo Alvim/TV Globo

Rio - Os destroços do avião que caiu e matou a cantora Marília Mendonça e outras quatro pessoas em Caratinga, em Minas Gerais, serão periciados e a aeronave deve ser reconstituída e ter seus motores inspecionados. As peças foram enviadas na noite de terça-feira ao Rio. Já os motores, foram levados a Goiânia, em Goiás, na madrugada desta quarta-feira.
O especialista em riscos e segurança Gerardo Portela explica que após a perícia no local do acidente, o próximo passo da investigação é encaminhar o material para o hangar onde começa a fase de reconstituição da aeronave.
Este processo, costuma ser feito no mesmo local. Mas, no caso do avião de matrícula PT-ONJ, os motores foram para o Centro de Serviços Aeronáuticos (CSA) em Goiânia, que dispõe de estrutura e disponibilidade necessárias para que os técnicos realizem a análise dos equipamentos. O táxi aéreo tinha um motor turbo-hélice, portanto a perícia demanda um conhecimento específico em turbina. 
Os demais destroços foram encaminhados para a sede do Serviços Regionais de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA), no Rio de Janeiro, onde as análises continuam. O engenheiro mecânico Gerardo Portela acrescenta que futuramente, os investigadores do Rio podem solicitar o envio dos motores, já inspecionados, para completar a reconstituição da aeronave.
"O objetivo da investigação da Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) é identificar cada fator que contribuiu para o acidente e depois recomendar correções para cada um dos fatores. Não é descobrir o culpado ou a causa principal. É preciso tratar todas as causas", explica o especialista.
No primeiro momento do acidente, em que o contato com a aeronave é perdido inicia-se a busca, localização, socorro e resgate dos tripulantes. Ao chegar ao local da queda, investiga-se a cena do acidente. Neste momento há registro de imagens, inclusive com drones, medições, buscas por peças espalhadas na região e são colhidas eventuais imagens de câmeras externas à aeronave. Na sequência, o material é liberado para o hangar, galpão situado em um aeroporto ou heliporto, no qual estacionam-se as aeronaves para manutenção.
No Hangar, dá-se início à inspeção nos destroços em que as peças são checadas. Gerardo Portela explica que nesta fase os técnicos vão reconstruiu o que provocou a falha com base na observação e na experiência com acidentes anteriores.
"Vão reconstituir a aeronave e verificar uma série de condições dos materiais. É realizado teste metalográfico. Os técnicos observam se tinha algum componente com defeito. Além de checar peça por peça, os danos também são verificados", afirma o engenheiro.
Em paralelo, a equipe também investiga as condições dos pilotos e copiloto: se estavam regulares, se tiveram tempo de descanso antes do voo. O objetivo é descobrir se fatores humanos também influenciaram para a queda. "Toda a papelada é verificada. Checam, por exemplo, se o plano de voo foi entregue em cima da hora, se as peças estavam com a manutenção em dia. É um trabalho enorme, minucioso e detalhado", acrescenta Gerardo Portela.
Não há um prazo para que a investigação seja concluída. Mas, pelo porte do avião, o especialista estima que as causas para o acidente possam ser identificadas entre seis meses e um ano.
A Força Aérea Brasileira afirmou em nota que a conclusão das investigações terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade de cada ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os fatores contribuintes.
Segundo o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), a investigação será dividida em três etapas:
. A primeira etapa será a de coleta de dados, onde todas as informações do acidente serão reunidas.
. A segunda será a de análise de dados, onde serão investigados os sistemas da aeronave e se fatores humanos e operacionais (como a rota da viagem e as condições climáticas) tiveram influência no acidente. Nesse etapa, pilotos, mecânicos, médicos legistas e psicólogos podem ser entrevistados pelo órgão para auxiliar no embasamento de informações.
. Por fim, após a conclusão do relatório final, terá a última etapa da investigação, que será a de apresentação dos resultados.
O órgão confirmou, no último sábado (6) que a aeronave não tinha caixa-preta, mas foi encontrado um spot geolocalizador, que será confrontado com o plano de voo e poderá ajudar a entender as causas do acidente. Um cabo de energia foi encontrado enrolado em uma das hélices do avião.
O trabalho de retirada da aeronave começou no sábado (6). O avião já havia sido retirado da correnteza da cachoeira, onde caiu. Durante a operação, as equipes contaram com o apoio de um guindaste para içar o avião até um terreno mais alto. As asas do avião bimotor também foram cortadas para facilitar o deslocamento.