SMS analisa cerca de 15 casos suspeitos de ‘flurona'Marcos Porto/ Agência O Dia

Rio- Preso há nove meses, acusado de matar o enteado Henry Borel, o ex-vereador Jairo Souza Santos Junior, o Jairinho, escreveu uma carta com sua versão sobre as acusações de tortura e homicídio. No texto, ele nega as agressões, contesta a investigação da polícia e laudos da perícia e fala da relação que tinha com o menino.
Em toda a carta Jairinho nega e repete, várias vezes, que não houve agressão. "Se não houve lesão, não houve agressão, isso foi visto por todos. Sendo assim, não existe qualquer indício que eu tenha feito absolutamente nada com Henry", defende-se.
O texto principal de Jairinho começa relatando a sua versão sobre a convivência com o enteado. "Conheci o Henry, e todos os médicos apontam para que nunca houve violência. Depois que Monique foi morar comigo, Henry continuou ficando no mínimo 4 dias dos 7 dias da semana na casa dos avós. Nos dias da semana que ele ficava na minha casa, o avô Fernando vinha para dormir com ele, e a avó D. Rosângela também".
Ele argumenta que nunca houve qualquer reclamação de familiares, profissionais e professoras sobre eventuais agressões sofridas por Henry. "Todas essas pessoas foram categóricas em dizer que nunca viram nada de anormal com Henry, no comportamento em relação a mim, ao contrário, disseram que eu o tratava muito bem e ele nunca reclamou de mim!".
Sobre episódios anteriores de agressão, relatado em conversas divulgadas entre a babá e Monique, Jairinho detalha o que aconteceu.
"O resumo da tortura é, eu chego mais cedo em casa, abro a porta, ele vem correndo e diz: 'Tio Jairinho, tio Jairinho?'. Vem correndo e me dá um beijo, pula no meu colo e me dá um beijo, vai no quarto comigo, fica menos de 10 minutos e vai para a rua novamente. Isso virou um episódio de tortura! Depois, o que a babá fala com a Monique, é coisa das duas".
Questionamentos sobre a investigação
Na carta, Jairinho questiona os laudos e a investigação. "O delegado não tinha motivo algum para desconfiar de mim. O que houve foi uma espetacularização da investigação criminal e criação de um enredo de condenação antecipada, incitando a ordem pública!".
Ele aponta ainda que não houve testemunhas de agressões no dia da morte. "Nenhum vizinho escuta barulho algum, mesmo com os apartamentos colados um no outro!".
O ex-vereador retoma a versão sobre os remédios que diz tomar para dormir. Ele relata que foi acordado por Monique para socorrer o menino.  "Eu tomo remédio comprovadamente há 15 anos, durmo igual uma pedra, nem que eu quisesse conseguiria levantar para agredir ninguém" .
Jairinho afirma que os laudos são contraditórios. "Os laudos não trazem a materialidade, são contraditórios, são feitos seis laudos, e aí um vem "desdizendo" o outro, o que caracteriza uma perícia falsa, das pouquíssimas fotos que o perito tira, ele coloca mais lesão no desenho esquemático".
Versão da chegada ao hospital
Em um trecho da carta, Jairinho afirma que quando Henry chegou ao hospital não havia sinais de nenhuma lesão.
"Em momento algum no hospital, senão teriam chamado a polícia ou conselho tutelar, as médicas viram qualquer sinal de violência. Tanto que foi dito em sede policial e em juízo. Nenhuma das três viu qualquer sinal de lesão, nem a assistente social, que era a função dela, viu nada!".
Na carta, Jairinho também questiona a falta de fotos da laceração no fígado do menino — apontada como uma das causas da morte — e a produção de novos laudos sem exumação do corpo. 
Em uma parte da carta, Jairinho levanta hipóteses para a morte de Henry. "Não se sabe se foi morte natural. Infarto? Doença no fígado? Não se sabe se ele já veio doente do pai (Leniel), bateu em algum lugar, foi envenenado, emboscado. Se ele passou mal no dia, no apartamento. Não se sabe a causa da morte", escreve o ex-parlamentar.
Relatos do cárcere
Com o título 'A carta grito de um inocente', Jairinho relata ainda como tem sido seus dias no presídio. "Desde que iniciei minha 'via crucis' do caso envolvendo o pequeno Henry minha estada provisória no presídio Petrolino Werling de Oliveira me deparo com preso contendo doenças graves e contagiosas sem acompanhamento médico, alimentos azedos, falta de água potável e toda sorte de ocorrências".
O ex-vereador relata que tem ouvido 'angústias, necessidades e anseios' de outros detentos nos dias em que sua irmã e filho mais velho o visitam na prisão.
Jairinho e a mãe da criança, Monique Medeiros, estão presos desde o dia 8 de abril de 2021 e são acusados pelo homicídio triplamente qualificado de Henry Borel e fraude processual. A próxima audiência do caso está marcada para o dia 9 de fevereiro. A expectativa é que, nesta data, o ex-vereador Jairinho e a professora Monique sejam ouvidos pelo tribunal.