Pais e responsáveis: unidos contra o negacionismoFABIO COSTA

Rio - Organizado por alunos e pais de alunos do Colégio Pedro II, do Campus São Cristóvão, um protesto do MoVac, Movimento pela Vacina para Crianças, acontece nesta quarta-feira, 5, em frente à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. A manifestação reivindica o direito da vacina contra a covid-19 para as crianças, assunto tratado de forma polêmica pelo governo federal, que queria exigir prescrição médica para a imunização dos pequenos.
Cláudia Souza, uma das organizadoras do evento, disse ao DIA que, diante de "um cenário de negacionismo", é importante reivindicar a aplicação da vacina. "Por mais que seja redundante a gente ainda estar pedindo vacina nessa altura do campeonato, em 2022, essa é a nossa realidade diante de um governo negacionista. Esse foi o início de um movimento que a gente quer que cresça. Tem outras questões envolvidas, como o passaporte vacinal. Tem muita luta pela frente".
Preocupados com as falas e exigências do governo, pais e responsáveis decidiram manter a manifestação mesmo após a confirmação pelo Ministério da Saúde de que a vacinação das crianças começará nas próximas semanas. As lideranças do movimento pediram uma posição mais efetiva do ministério sobre como será a campanha de vacinação, incluindo data de início e exigências.
No protesto, Luiz Rodrigues Carvalho, 70 anos, pai e avô, manifestou sua preocupação com a vacinação das crianças. "A vacinação da minha filha e da minha neta é a coisa mais importante", reforçou. "Sem a vacinação nós não somos nada, não temos segurança. As crianças precisam se vacinar, são o futuro do país. O que será delas lá na frente se elas não se imunizarem?"
O debate pela vacinação das crianças
Grande parte das discussão sobre a imunização infantil começou no dia 16 de dezembro, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou que crianças entre 5 e 11 anos poderiam tomar as doses da Pfizer. No site da agência, é possível encontrar informações sobre os resultados da vacina nesse público-alvo, que, segundo ela, incluíram "uma análise técnica criteriosa de dados e estudos clínicos conduzidos pelo laboratório".
A Anvisa também destacou que a dosagem da Pfizer para crianças é menor, mas manteve o intervalo de 21 dias entre as doses. Para os maiores de 12 anos, é aplicado 0,3mL em ambas as doses, Já para as crianças entre 5 e 11 anos serão administradas doses de 0,2mL. 
Doses para adultos e crianças são diferentes. Anvisa afirma que imunização dos pequenos é eficaz - Reprodução Anvisa
Doses para adultos e crianças são diferentes. Anvisa afirma que imunização dos pequenos é eficazReprodução Anvisa
Apesar disso, a vacinação depende do Ministério da Saúde para começar. Em 23 de dezembro, o órgão abriu uma consulta pública para entender a opinião da população quanto a imunização infantil. A medida foi duramente criticada por especialistas, que a consideraram desnecessária, já que a Anvisa já tinha feito testes, analisado documentos e o risco das doses para as crianças, chegando a conclusão de que a vacinação era eficaz para este público. 
A consulta pública terminou no domingo, 2, com cerca de 24 mil contribuições. Como resultado, a maioria votou ser contra a obrigatoriedade da vacina, mas não havia uma pergunta direta sobre o tema. O questionamento no formulário era "você concorda com a vacinação em crianças de 5 a 11 anos de forma não compulsória conforme propõe o Ministério da Saúde?", ou seja, só era possível dizer "sim" ou "não" a proposta do ministério, mas não afirmar efetivamente sobre a obrigatoriedade da vacinação. 
Depois do resultado da consulta e das exigências de cientistas e pais sobre a imunização, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou que a pasta vai apresentar, nesta quarta-feira, 5, um modelo de campanha para as crianças. 
Falas polêmicas do Governo
No mesmo dia do comunicado da Anvisa, o presidente Jair Bolsonaro fez uma live nas suas redes sociais advertindo sobre os "riscos" da vacinação nas crianças. Nela, ele ressaltou uma observação da própria agência sobre a imunização: é importante "que os pais sejam orientados a procurar um médico se a criança apresentar dores repentinas no peito, falta de ar ou palpitações após a vacina". Contudo, o presidente não incluiu a explicação da Anvisa de que os benefícios da vacinação superam quaisquer riscos e efeitos.
Em 19 de dezembro, Jair Bolsonaro reforçou a exigência de prescrição médica para vacinar as crianças, afirmando também que nada seria feito sem a autorização dos pais. Já no dia 27 de dezembro, ele disse, publicamente, que não vacinaria a sua filha de 11 anos. 
Já o ministro Marcelo Queiroga comunicou, antes do natal, que as 301 mortes de crianças brasileiras por covid-19 não implicavam em "decisões emergenciais", não havendo necessidade de aprovar ou exigir a vacinação por parte dos pais e responsáveis.
*Estagiária sob supervisão de Adriano Araújo