Ana Claudia, mãe do menino Kelvin, morto em Queimados, esteve no IML de Nova IguaçuMarcos Porto/Agencia O Dia

Rio - "Ninguém sabe a dor que estou passando". Em um choro de rasgar a alma, Ana Clara dos Santos, mãe do menino Kevin Lucas, de 6 anos, desabafou na manhã desta sexta-feira (7), quando foi ao Instituto Médico Legal de Nova Iguaçu fazer o reconhecimento do corpo do menino - o enterro será às 16h, no Cemitério Carlos Sampaio em Austin, Nova Iguaçu. Kevin morreu após ser baleado com um disparo no peito no fim da tarde de quinta, durante tiros no Morro da Torre, em Queimados.
Moradores acusam policiais militares, e a corporação afirma que a equipe não efetuou disparos. A babá de Kevin disse que os PMs não prestaram socorro por não terem visto a marca do tiro. A mãe do pequeno questionou a prática de confronto das polícias. "Presidente, cadê? Eu pago imposto para ver meu filho morto? Ninguém sabe a dor que estou passando. Só quero meu filho. Era uma criança tão saudável, tão esperta, tão inteligente. Não deixo meu filho largado, na mão de qualquer um. Só quero justiça. Sou trabalhadora como qualquer um", desabafou.
Kevin foi baleado no peito enquanto brincava na casa de uma vizinha, que fazia uma mudança. Outras duas meninas - Gabriela, de 13 anos, e Ludmila, de nove - também foram baleadas e seguem internadas em hospitais de Nova Iguaçu e Duque de Caxias. Elas foram socorridas pelos policiais militares ao hospital, mas Kevin não. Segundo a babá, as equipes não o socorreram porque não perceberam a marca do tiro, pois não havia sangue. Em nota, a PM afirmou que "os agentes foram informados que haviam 3 pessoas baleadas na Rua Colombo", e que os policiais apenas "localizaram uma adolescente e uma criança feridos, e os socorreram à Unidade de Pronto de Atendimento (UPA) de Queimados". Kevin foi levado pela família.
"Não aparentava marca de tiro porque não sangrou. Eu peguei ele no colo, entrei no carro da polícia e eles falaram que só iam socorrer quem tinha levado os tiros, e me tiraram do carro. Então saí e arrumei uma moto. Fomos à UPA, só que ele já chegou morto. Lá, a médica falou que ele tinha levado tiro no peito, direto no coração. Eu não acreditei. Pedi pra ver e, realmente, no mamilo dele havia uma bala certeira no coração", disse Maria Cláudia, emocionada.
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) já colheu depoimentos de familiares e dos policiais militares que participaram da ação. Uma perícia no local foi realizada, e a PM entregou à Polícia Civil as armas usadas na ação.
"Ele é uma criança especial que só estava brincando no portão de casa. Eu entrei no carro da polícia, mas como ele não estava com marca de tiro nenhum, ele parecia desmaiado. Até eu pensei isso. E aí, eles falaram que iam dar preferência a quem estava baleado", disse a babá, a quem Kevin chamava de 'vó'.
Meninas baleadas em Queimados seguem internadas
Seguem internadas as duas meninas que foram baleadas a tiros durante a ação policial no Morro da Torre, em Queimados. Gabriela, de 13 anos, está no Hospital Geral de Nova Iguaçu, com quadro estável após passar por cirurgia. Ludmila Teles, de 9 anos, está internada no Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, Duque de Caxias, e também tem quadro estável.
Ao DIA, a prefeitura de Nova Iguaçu informou que Gabriela deu entrada no Hospital Geral após ser baleada na perna direita, na região da coxa. Ela também sofreu uma lesão na bexiga, provocada pela perfuração. A adolescente foi submetida a uma cirurgia de emergência e está em pós-operatório no CTI (Centro de Terapia Intensiva). A menina Ludmila, no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, também foi baleada na região da perna.
Sobre o caso, a Polícia Militar informou que a equipe do 24º BPM (Queimados) estava em patrulhamento na Estrada do Riachão, um dos acessos à comunidade da Torre, quando foram atacados por criminosos da região. A corporação diz que os PMs desembarcaram da viatura, buscaram abrigo e não efetuaram disparos.