A quadrilha de Boy utiliza um sistema sofisticado para simular atendimentos bancários e convencer as vítimas a repassar dados pelo celular Divulgação / Polícia Civil

Rio - Policiais da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) descobriram que Felipe Boloni Alves Rosa, conhecido como Boy ou Professor, lidera uma quadrilha composta por cerca de 20 criminosos. Segundo as investigações, o grupo, que é especialista em aplicar fraudes bancárias através de um sofisticado programa de computador, escolhe idosos com alto poder aquisitivo como vítimas em potencial. A especializada apurou que a organização criminosa já fez mais de 300 vítimas, contabilizando um faturamento ilícito de mais de R$ 6 milhões.

Professor foi preso, na noite de quinta feira, por agentes da DRF em uma mansão num luxuoso condomínio na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, cujo aluguel custa cerca de R$ 20 mil.

O apelido do criminoso seria uma referência ao personagem de La Casa de Papel, de acordo com a polícia. Assim como na série, Professor é apontado como o mentor intelectual do crime, que é praticado com a ajuda de um sofisticado programa de computador, o URA (Unidade de Resposta Audível). 
Felipe Boloni, o Boy ou Professor, realizou uma grande festa de aniversário no dia 20 de dezembro de 2021, com a presença de diversas atrações musicais, com o tema 'La Casa de Papel', no Parque União  - Divulgação
Felipe Boloni, o Boy ou Professor, realizou uma grande festa de aniversário no dia 20 de dezembro de 2021, com a presença de diversas atrações musicais, com o tema 'La Casa de Papel', no Parque União Divulgação


Aproximadamente 20 fraudadores integram a organização criminosa e cada um tem uma tarefa no esquema até o golpe ser aplicado. "O Felipe era o líder, mas o grupo tinha uma divisão de tarefas. Uns eram responsáveis por ligar para as vítimas e convencê-las, outro responsável por mandar o motoboy, outro que fazia os saques", descreveu o delegado Gustavo Castro, titular da DRF.

Fraude bancária era aplicada em etapas

Castro explica que o golpe começava com a escolha das vítimas. A seleção era feita com a ajuda do comércio ilegal de dados.

"Eles conseguem ter acesso a dados pessoais e bancários, e selecionam as vítimas que irão ligar para aplicar o golpe através dessas informações adquiridas em comércios ilegais de dados que existem. O perfil das vítimas são idosos com renda de R$ 30 mil, R$ 40 mil, muitos aposentados pensionistas. São pessoas que acabam acreditando com mais facilidade no que os fraudadores falam por telefone", explica o delegado.

Depois que a vítima em potencial era escolhida, os golpistas ligavam para ela, se identificavam como funcionários do banco, afirmando ter identificado uma compra suspeita no cartão da pessoa.

"Eles ligam para o telefone, se identificam como funcionário do banco, de um setor antifraude, e diziam que identificaram uma compra suspeita, e aí diziam o nome de uma loja e o valor que teria sido gasto. A vítima na hora reage dizendo que não fez compra nenhuma, que está em casa, por exemplo, e se assusta. Eles, então, orientavam a pessoa a ligar para a central do banco", contou Castro.

De acordo com o delegado, com o programa da URA, eles conseguiam se manter na linha, mesmo após a vítima, teoricamente, ter desligado o telefone, e davam prosseguimento ao golpe nesta segunda ligação. Era com o uso desse software também que os criminosos conseguiam ter acesso ao que a pessoa digitava, como senhas e códigos.

"Depois de fazer toda a engenharia social, eles usavam o software da URA para se manter nessa chamada. Quando a pessoa ligava para a central do banco, na verdade era um dos golpistas que atendia. A pessoa achando que estava num atendimento bancário, passava toda a situação e eles pediam para ela digitar os dados do cartão, a vítima digitava no telefone, e esses dados apareciam no programa da URA", disse.

Em seguida, os fraudadores diziam para a vítima que ela precisava entregar uma carta de contestação da compra que ela não reconhecia em um curto prazo de tempo na agência. Era então neste momento que os criminosos conseguiam pegar o cartão físico, para depois usá-lo.

"Eles falavam que a pessoa tinha que levar o cartão em 30, 50 minutos no banco. Muitas das vezes a pessoa não ia conseguir chegar a tempo e aí eles ofereciam serviço de motoboy para buscar o cartão de crédito e a carta de contestação. Com o cartão e as senhas, faziam saques e compras", narrou Castro.

Comando Vermelho apoiava fraudes e Professor se abrigava no Parque União

As investigações contra a maior organização criminosa de fraudes bancárias começou em novembro de 2020, após a prisão em flagrante de 12 mulheres, num condomínio na Zona Oeste do Rio. Segundo a polícia, essas mulheres eram comandadas por Professor e tinham a função de induzir as pessoas a passarem seus dados e entregar o cartão ao motoboy.

Após essa prisão, o grupo passou a atuar somente no interior da comunidade do Parque União, no Complexo da Maré, e Professor se mudou para o local com a autorização dos traficantes.

De acordo com a DRF, Professor teria assumido um papel de prestígio junto à facção criminosa e passado a participar de eventos com os traficantes.

Essa não seria a primeira vez que o fraudador se une a traficantes. A DRF apurou que Professor, que é paulista, já foi ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa predominante em São Paulo.

"Ele foi associado ao PCC até 2013, 2014, e, inclusive, foi preso em São Paulo. Em conversa informal ele confessou que pertenceu mesmo ao grupo e fazia a contabilidade", revelou Castro.

Discrição nas redes sociais e ostentação na vida real

Nas redes sociais, Professor era um cara discreto e pouco ostentava seus artigos de luxo financiados com seu lucro uma vida o ilegal. Mas foi seu gosto por uma vida luxuosa que facilitou a sua prisão. Mesmo morando no Parque União, o criminoso saia as vezes da comunidade para aproveitar a mansão que ele alugava por R$ 20 mil na Barra da Tijuca.

Professor foi capturado no imóvel e os policiais ainda apreenderam um veículo Porsche Taycan, avaliado em R$ 700 mil, uma moto elétrica, uma coleção de tênis e outros itens de luxo. 
No cumprimento do mandado de busca, foram apreendidos documentos, um telefone celular, um veículo elétrico estimado em R0 mil e uma moto elétrica, além de diversos itens de luxo - Divulgação - Polícia Civil
No cumprimento do mandado de busca, foram apreendidos documentos, um telefone celular, um veículo elétrico estimado em R0 mil e uma moto elétrica, além de diversos itens de luxoDivulgação - Polícia Civil
"Ele era um cara discreto, em rede social não ostentava muito, tinha poucas pessoas em seu Instagram. Mas todos do ciclo dele sabiam que ele vivia de golpes", finalizou o delegado da DRF. 
O suspeito ainda era formado em educação física e marketing esportivo.