Maína Celidonio é secretária municipal de Transportes do RioCleber Mendes/Agência O Dia

Rio - Após encontrar resistência na reformulação do sistema no primeiro ano de governo, a secretária municipal de Transportes do Rio, Maína Celidonio, garante que as mudanças no modelo do BRT e da bilhetagem eletrônica de ônibus, vans e VLTs estarão nas ruas no segundo semestre deste ano.
Reformulado, o edital para escolher a empresa substituta da Riocard, que hoje controla o fluxo de passagens dos modais municipais, atrai empresas de outros setores, como varejo e finanças. Em uma avaliação do primeiro ano de governo e projeção para o próximo ano, Maína reconhece que a aplicação de multas nos ônibus comuns não resolveu o problema da falta de veículos nas linhas e defende que o modelo só vai funcionar com subsídio na passagem, que por sua vez depende da mudança na bilhetagem para conferir transparência ao processo.    
O segundo edital para o novo modelo de bilhetagem eletrônica de transportes da cidade do Rio está sendo reformulado e já tem data para abertura de envelopes, quando as empresas concorrentes apresentarão suas propostas: 26 de abril. A primeira tentativa foi frustrada em dezembro passado e não teve nenhuma empresa do setor de Transportes interessada. Agora, novos atores se atraíram pela licitação, como empresas dos setores de bancos e varejo.
A atual operadora dos cartões, a Riocard, está impedida judicialmente de participar da licitação. Com o objetivo de evitar conflitos de interesse, não podem participar do processo da bilhetagem empresas ligadas direta ou indiretamente aos operadores de serviços de transporte público coletivo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

A Secretaria Municipal de Transportes marcou para o próximo dia 27 uma audiência pública de formato virtual para apresentar a reformulação da licitação.
Maína assegura que não há previsão de reajuste de tarifas de ônibus ou BRT para este ano: “As tarifas estão congeladas por decisão judicial”.

A programação é de que o novo concessionário da bilhetagem, que opera os cartões do transporte na cidade, leve cerca de seis meses para começar e um ano para estar em plena atividade.

”O usuário já vai sentir essa mudança, esse novo cartão, esse novo serviço de bilhetagem. Ele vai estar sendo implantado ainda neste ano”, afirma a secretária.
O novo modelo é considerado fundamental para a Secretaria de Transportes abrir a chamada "caixa preta do Transporte". A prefeitura passará a ter acesso ao fluxo de caixa e de passageiros dos modais municipais.

A partir da mudança, o Poder Público poderá subsidiar as passagens e mudar, por exemplo, o modelo de operação dos ônibus comuns, remunerando as empresas por quilômetros rodados. Atualmente, as empresas são financiadas exclusivamente pelas tarifas dos passageiros, o que estimula a lotação de ônibus e desabastece rotas que têm menos fluxo de usuários.

A nova bilhetagem será implementada em todos os modais administrados pela Prefeitura do Rio: ônibus, BRTs, Vans, VLT. Entre as mudanças do novo modelo estão a possibilidade de diversos meios de pagamento, como cartão bancário, QR Code, celular e pix.

A abertura dos envelopes da primeira licitação, no dia 7 de dezembro, não teve nenhuma empresa interessada. Para Maína, o resultado mostrou que o setor de Transportes não está interessado na mudança no sistema. A secretária diz estar otimista com o próximo edital, mas afirma que "tem plano B, C e D". Caso nenhuma empresa se interesse pela atividade, a própria administração pública irá implementá-lo.

"A gente já tem Plano B, C e D. Se não tiver o interesse, a gente pode fazer uma contratação direta ou mesmo operar a bilhetagem diretamente via Mobi (recém-criada empresa pública de transporte). É importante que as pessoas entendam que isso é uma política que a gente acredita. É um caminho sem volta", garante.
Os novos atores externos, que não haviam se apresentado no primeiro edital, são de setores como finanças, comércio e varejo. A secretária acrescenta que algumas empresas do setor de Transportes, principalmente internacionais, reclamaram de que o tempo foi curto para a formulação da proposta e informa que esse prazo será estendido no novo edital.

"É um modelo novo, que tenta explorar muito mais recursos e serviços dentro dos serviços de bilhetagem. Acho que as empresas tradicionais preferem o mercado como está agora. Então a gente vai fazer algumas mudanças no edital tornar ele mais atrativo, com uma rentabilidade um pouco maior. E além disso, tentar trazer empresas que não sejam tradicionais de bilhetagem, mas se interessam por isso", afirma.

Mobi Rio vai operar BRT durante transição

Criada em dezembro de 2021, a Companhia Municipal de Transportes Coletivos, batizada de Mobi Rio, vai assumir a operação dos BRTs também neste ano. A prefeitura vai abrir licitação para que empresas privadas assumam os corredores do BRT, mas durante a transição a atividade será realizada pela empresa pública.

"A gente precisa dessa empresa pública interinamente para sair de um modelo do BRT e caminhar para outro. Nessa transição, a empresa vai ser importante para operar o sistema enquanto não tem um novo operador privado. O objetivo é conceder. A gente não vai ficar operando diretamente, mas vimos que há necessidade dessa transição”, afirma. 

Maína explica que a Mobi Rio foi criada para focar na regulação do transporte público municipal, já que a reformulação do sistema dá mais controle ao Poder Público em detrimento das empresas de ônibus.

"A gente entende que há uma necessidade de ter uma empresa pública dedicada ao transporte público. Você tem a Cet-Rio que é dedicada ao trânsito e você precisa de uma empresa pública dedicada ao transporte público. Se a gente fala em reformular um sistema de transporte, precisa de um órgão que esteja completamente dedicado a isso”, explica.

No novo modelo de operação do BRT, haverá três empresas, cada uma responsável por um corredor. A ideia é que o sistema não fique refém de apenas uma concessionária caso esta não esteja prestando o serviço com qualidade. A mudança também exige que as empresas que operem os ônibus sejam diferentes das que controlam a bilhetagem eletrônica.

“O poder público vai fazer o plano operacional. Isso é uma coisa que não existia antes. Você vai ter três operadores exatamente para a gente não ficar refém de um único operador que possa ter problemas”, acrescenta Maína.

Multas não resolvem falta de ônibus nas linhas

Apesar de ter sido implementado um sistema de fiscalização automática das linhas, Maína reconhece que as 19 mil multas aplicadas em 2021 não resolveram a falta de ônibus em determinados trajetos. Para a secretária, o problema só poderá ser resolvido com o novo modelo de bilhetagem.

"A gente vê uma preocupação das empresas de prestar um melhor serviço, de não serem multadas, mas diante do prejuízo que é rodar certas linhas, mesmo com a aplicação da multa, a operação não volta. Por isso, a gente acredita que é preciso ter um novo modelo. O que temos hoje está esgotado" reforça.
Nova frota do BRT

Para 2022, também haverá a compra da nova frota do BRT, com abertura de envelopes prevista para 26 de abril, mesma data da bilhetagem. A primeira leva dos 556 novos ônibus deve chegar em outubro será destinada aos corredores Transolímpica e Transcarioca.

Para os corredores da Transbrasil, que está em obras, e Transoeste, que vai passar por repavimentação, os ônibus só vêm em 2023. A licitação desses veículos será aberta no segundo semestre deste ano.

A secretária de Transportes reconhece que as condições da frota do BRT atualmente são ruins. Maína afirma que o município investiu em manutenção, recuperou articulados, mas que a frota antiga precisa ser renovada.

"Infelizmente, não tem uma solução imediata porque a gente não consegue comprar nem alugar ônibus articulado de um dia para o outro. A gente está lutando para os primeiros ônibus chegarem o mais rápido possível, mas é uma fabricação. Então a gente esbarra nessa dificuldade”, afirma.

Estações reformadas

Para o segundo ano à frente da pasta, a secretária afirma que vai reformar todas as estações de BRT. Em 2021, todas as unidades que estavam fechadas foram reabertas, já reformadas. Agora, a prefeitura passa a reformar as que não chegaram a fechar.

"A gente reabriu 1/3 do sistema que estava fechado. Reformou e reabriu. Esse ano, a gente vai reformar o restante dos dois terços das estações. Por exemplo, Madureira, a gente vai reformar e vai ficar com todas as portas no novo formato, que são de metal furadinhas, no padrão da Transbrasil, que é muito melhor para o usuário”, explica.

A secretária municipal de Transportes também informa que espera fazer uma operação teste na Transbrasil este ano, mas ainda não há data prevista.

Em uma avaliação do primeiro ano da nova gestão, Maína considera como principal conquista a reabertura do corredor da Avenida Cesário de Melo. "Era uma área que as pessoas não tinham acesso a nenhum transporte. Tinha que pegar dois ou três ônibus para chegar ou ficavam ilhadas”, avalia.

A economista, que deixou a carreira acadêmica para comandar a secretaria avalia que o maior desafio de estar do outro lado, no governo, é entender que para alcançar melhorias são necessárias reformas estruturais no sistema.

“Minha tese de doutorado foi exatamente o impacto da expansão do transporte do BRT, do VLT. O maior desafio é que para fazer melhorias, a gente tem que fazer reformas estruturais. Eu sei que a população está passando dificuldades, sente falta de ônibus na rua. Pessoalmente, é muitas vezes pesado ter que falar: eu não consigo atender isso agora. Mas, é importante que a população saiba que a gente está criando uma mudança que vai ser muito positiva”, finaliza.