Nilza, jornalista, de 50 anos, denunciou caso de racismo no Norte ShoppingReprodução
Nilza está sendo assistida pelos advogados Nadine Borges, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e Djeff Amadeus, do Movimento Negro Unificado, que defendem causas raciais e estão estudando medidas a serem tomadas contra a agressora, a joalheira e o shopping. Segundo a jornalista, ela foi desrespeitada não só como mulher negra, mas também como consumidora.
"Eu gostaria de dizer que eu não sou a primeira, mas eu queria muito poder dizer que eu vou ser a última. Mas, eu sei que eu não fui a última e nem vou ser a última. De sábado à noite até agora, centenas de pessoas negras passaram por algo similar, estão passando por algo similar hoje. Tudo que eu quero é, de alguma forma, endossar cada vez mais a reflexão sobre isso, para que a gente chegue pelo menos no estado em que sejamos respeitados. Eu não fui sequer respeitada como consumidora. A gente não é respeitado em diversos espaços", desabafou Nilza.
A jornalista relatou que, na ocasião, perguntou se a loja estava aberta, mas não conseguiu ouvir a resposta e tentou abrir a porta, quando a proprietária reclamou, dizendo que ela a quebraria. Segundo ela, houve um breve desentendimento com a mulher, mas ela logo virou as costas para encontrar o marido e ir embora, quando disse ter ouvido a agressora chamá-la de favelada.
A discussão continuou e os seguranças do shoppings precisaram ser acionados. Eles esclareceram que joalherias e lojas de aparelhos celulares têm permissão para fechar antes das 22h. Nilza disse que os seguranças, ela e a suposta proprietária seguiram em uma discussão do lado de fora e, mais uma vez, ela foi ofendida pela lojista, que dessa vez a chamou de "pobre".
"Ninguém tem demérito por ser favelado ou pobre, mas, como mulher negra, eu sei que quando ela fala, ela queria me atacar racialmente e isso é muito subjetivo. Acho que perceber a subjetividade nas expressões que ela fala me deixou muito irritada, muito triste, muito zangada, porque ela não podia explicitar o que queria dizer, mas ficou nítido tanto para mim, quanto para ela", afirmou a jornalista, que disse ainda que a mulher, ao ser acusada de racista, se justificou dizendo ser esposa e mãe de negros.
"Nessa hora que eu desisto, eu saio de perto, porque me confirmou de fato esse racismo sistêmico estrutural que a gente tem, e que é muito natural que as pessoas se esquivem dele apresentando o seu "preto de estimação", que pode ser o seu marido e que, normalmente, é sempre o avô, o bisavô. As pessoas sacam um preto de estimação para mostrar que elas não são aquilo que elas revelam que são."
Em nota, o Norte Shopping afirmou que não concorda com ações que vão contra seus ideais e que já está em contato com a lojista para esclarecer o ocorrido. A reportagem do DIA tenta contato com a joalheria Olímpia. O espaço segue aberto para manifestações.
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