Nilza, jornalista, de 50 anos, denunciou caso de racismo no Norte ShoppingReprodução

Rio - A jornalista Nilza Valeria Zacarias, de 50 anos, vai procurar a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na manhã da próxima terça-feira (18), para registrar um caso de racismo do qual diz ter sido vítima, no último sábado (15), em uma joalheria do Norte Shopping, no Cachambi, Zona Norte do Rio. Ela denunciou que foi chamada de "pobre" e "favelada" por uma mulher que se disse proprietária da loja Olímpia, ao tentar entrar no estabelecimento, que estava com as portas fechadas, mas com luzes acesas.

Nilza está sendo assistida pelos advogados Nadine Borges, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e Djeff Amadeus, do Movimento Negro Unificado, que defendem causas raciais e estão estudando medidas a serem tomadas contra a agressora, a joalheira e o shopping. Segundo a jornalista, ela foi desrespeitada não só como mulher negra, mas também como consumidora.

"Eu gostaria de dizer que eu não sou a primeira, mas eu queria muito poder dizer que eu vou ser a última. Mas, eu sei que eu não fui a última e nem vou ser a última. De sábado à noite até agora, centenas de pessoas negras passaram por algo similar, estão passando por algo similar hoje. Tudo que eu quero é, de alguma forma, endossar cada vez mais a reflexão sobre isso, para que a gente chegue pelo menos no estado em que sejamos respeitados. Eu não fui sequer respeitada como consumidora. A gente não é respeitado em diversos espaços", desabafou Nilza.

A jornalista relatou que, na ocasião, perguntou se a loja estava aberta, mas não conseguiu ouvir a resposta e tentou abrir a porta, quando a proprietária reclamou, dizendo que ela a quebraria. Segundo ela, houve um breve desentendimento com a mulher, mas ela logo virou as costas para encontrar o marido e ir embora, quando disse ter ouvido a agressora chamá-la de favelada.

A discussão continuou e os seguranças do shoppings precisaram ser acionados. Eles esclareceram que joalherias e lojas de aparelhos celulares têm permissão para fechar antes das 22h. Nilza disse que os seguranças, ela e a suposta proprietária seguiram em uma discussão do lado de fora e, mais uma vez, ela foi ofendida pela lojista, que dessa vez a chamou de "pobre".

"Ninguém tem demérito por ser favelado ou pobre, mas, como mulher negra, eu sei que quando ela fala, ela queria me atacar racialmente e isso é muito subjetivo. Acho que perceber a subjetividade nas expressões que ela fala me deixou muito irritada, muito triste, muito zangada, porque ela não podia explicitar o que queria dizer, mas ficou nítido tanto para mim, quanto para ela", afirmou a jornalista, que disse ainda que a mulher, ao ser acusada de racista, se justificou dizendo ser esposa e mãe de negros.

"Nessa hora que eu desisto, eu saio de perto, porque me confirmou de fato esse racismo sistêmico estrutural que a gente tem, e que é muito natural que as pessoas se esquivem dele apresentando o seu "preto de estimação", que pode ser o seu marido e que, normalmente, é sempre o avô, o bisavô. As pessoas sacam um preto de estimação para mostrar que elas não são aquilo que elas revelam que são."

Em nota, o Norte Shopping afirmou que não concorda com ações que vão contra seus ideais e que já está em contato com a lojista para esclarecer o ocorrido. A reportagem do DIA tenta contato com a joalheria Olímpia. O espaço segue aberto para manifestações.