Vídeo mostra congolês sendo agredido em quiosque da Barra da Tijuca, na Zona OesteDivulgação

Rio - Para o secretário-geral e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Álvaro Quintão, as imagens das câmeras de segurança do quiosque Tropicália só confirmam a barbárie que foi o assassinato do jovem congolês Moïse Kabamgabe, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. "Foi uma morte brutal, uma barbárie, nada justifica uma pessoa ser agredida, espancada até a morte como o Moïse foi", diz Quintão.
A OAB-RJ já solicitou acesso a todo o inquérito e aos depoimentos de pelo menos dez pessoas. O advogado que está acompanhando o caso, Rodrigo Mondego, disse que a família de Moïse esteve nesta terça-feira na Prefeitura do Rio para receber encaminhamento da parte social, o que não havia acontecido até então, mais de uma semana depois do crime brutal. 
Rodrigo Mondego, vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Rio de Janeiro - Divulgação
Rodrigo Mondego, vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Rio de JaneiroDivulgação
Mondego também falou das imagens chocantes. "Ele já estava desacordado quando continua apanhando e recebendo paulada. É chocante ver que tinham pessoas no bar bebendo e assistindo aquilo como se fosse algo comum, normal, natural ver alguém apanhar e sofrer como o Moïse sofreu", pontuou.
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC) da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) também está acompanhando o caso juntamente com a OAB.
"Cuidaremos de providenciar suporte e apoio emocional e psicológico aos familiares, a OAB dará o apoio jurídico. Todos os nossos esforços serão para que essa família, desesperançosa e fragilizada nesse momento, tenha amparo e que os responsáveis por esse crime bárbaro não fiquem impunes. As providências práticas estão sendo tomadas, mas é preciso fazer a velha pergunta que nos persegue: até quando a sociedade brasileira conviverá com esse tipo de brutalidade contra pessoas negras, sejam elas nativas ou não. Quando vamos, enfim, lidar com essa chaga que carregamos e que tanto nos castiga? A pergunta é para todos, porque é definidora do que queremos ser", disse a deputada Dani Monteiro, presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj.
Moïse foi espancado até a morte
Imagens de câmeras do quiosque mostram que a discussão teve inicio às 22h25 do dia 24 de janeiro, quando Moïse abre a geladeira para pegar algo. Um outro funcionário tenta impedir com um pedaço de madeira e, o congolês se defende pegando uma cadeira.
Moïse retira a blusa e, novamente, tenta ir até a geladeira, sendo impedido por outros dois funcionários do local. A partir de então tem início uma série de agressões, com chutes e socos. Dez minutos depois, Moïse tem as mãos e pés amarrados por um fio e continua apanhando.
Os homens se alternam nas agressões. Em certo momento, dois deles conversam dentro do quiosque, trocam papéis, enquanto um terceiro volta a bater no estrangeiro com um pedaço de madeira.
Somente cerca de 30 minutos após as agressões é que o imigrante recebe uma massagem cardíaca, na tentativa de ser reanimado, mas não esboça reação.
Aviso: imagens fortes
Até o momento, um agressor se apresentou à polícia de forma espontânea, nesta terça-feira. O funcionário de um dos quiosques da orla se identificou como Helison Cristiano. "Não fomos pra matar, tanto que não batemos na cabeça, só demos uma 'porradas' nele e ele continuou falando, só que infelizmente não resistiu", disse em um áudio onde confessa participação no crime.