Rio - Milhares de pessoas protestaram, desde as 10h deste sábado (5), contra o assassinato brutal do congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos, em frente ao quiosque onde o jovem foi morto, na praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. A Polícia Militar informou que equipes do 31ºBPM (Recreio dos Bandeirantes), com apoio de outras unidades da Corporação, acompanharam a movimentação com o objetivo de manter a segurança da população e preservação da ordem pública durante o evento. Até às 15h, quando o ato já se dispersava, não houve incidentes.
Com faixas e cartazes, os manifestantes pedem justiça por Moïse, além da rápida e transparente apuração e punição dos envolvidos. "Parem de nos matar. Vidas negras importam", diz uma das faixas estendidas no local. "Enquanto houver racismo não haverá democracia ", diz outra.
"Agradeço a todos que estão aqui e ao amor que vocês demonstraram ao Moise. Só pedimos justiça", disse Yvana Lay, mãe de Moïse. O irmão do refugiado, Djodjo Magno, também esteve presente na manifestação: "Que todos os envolvidos paguem pelo que fizeram. Justiça por Moise. Justiça até o fim. É isso que queremos", disse.
O angolano Adelino Chipengue, 28 anos, falou que é como se tivessem matado um irmão. "Isso é revoltante. Que seja feita a justiça. Ele era um irmão africano, senti muito a morte dele. Ninguém merece ser tratado assim. Mexeram com o povo africano, precisamos nos manifestar, não vamos aceitar isso".
fotogaleria
Em um protesto emocionado e revoltado, Alex, 24, amigo que morava com Moïse, afirmou que ele era trabalhador. Em frente ao quiosque Tropicália onde o congolês foi morto, Alex pediu por justiça. "Ele estava trabalhando. Imigrante é trabalhador, Tropicália é assassino. Justiça para você, meu irmão".
Comunidade congolesa canta em ato contra morte de Moïse e pede justiça. #ODia
"É importante observar que este crime revela o quanto a sociedade brasileira sempre tratou os pretos, os africanos. Os congoleses foram os primeiros povos a chegar no Brasil, na escravidão, no século 16, e ainda hoje, no século 21, esta mentalidade permanece. O negro reivindica o salário e morre. Não podemos aceitar esta situação", disse o babalaô Ivanir dos Santos, que é interlocutor da CCIR – Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.
"Não quero uma guerra contra o Brasil, a gente ama esse país. Mas vocês mataram um irmão africano, um irmão congolês. Estamos contra o sistema brasileiro que nos discrimina. Não queremos ficar para trás", desabafou Mariama bah, refugiada da Gâmbia.
Além do ato no Rio, outras capitais também aderiram ao movimento, com manifestações organizadas em São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Belém, entre outras cidades.
Quiosques na Barra da Tijuca serão transformados em memorial a Moïse e à cultura africana
Os quiosques Tropicália e Birutas, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde o congolês Moïse Kabagambe foi espancado até a morte, no dia 24 de janeiro, vão ser transformados em um memorial em homenagem à cultura congolesa e africana. O projeto é da Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento, responsável pela gestão do contrato de concessão de quiosques da orla marítima do Rio, em parceria com a Orla Rio, concessionária que opera os estabelecimentos.
Segundo a secretaria, a iniciativa tem o objetivo de promover a integração social e econômica de refugiados africanos e reafirmar o compromisso da cidade com a promoção de oportunidades para todos. "O que aconteceu foi algo brutal, inaceitável e que não é da natureza do Rio. É nosso dever ser uma cidade antirracista, acolhedora e comprometida com a justiça social", disse o secretário Pedro Paulo.
Na versão dos presos, o espancamento ocorreu após Moïse tentar pegar cerveja do quiosque Tropicália, onde já havia trabalhado, e ameaçar um funcionário idoso, de nome Jaílson. No entanto, a família afirma que a briga teria começado após ele cobrar diárias atrasadas. A motivação para o crime ainda é apurada pela Polícia Civil.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.