Temporal provocou alagamentos e deslizamentos em diversos bairros de Petrópolis, na Região Serrana do Rio AFP

Rio - Após a tragédia que provocou a morte de mais de 130 pessoas e deixou 200 desaparecidas pelo temporal em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, os herdeiros de Dom Pedro II, que se intitulam "família real", escreveram uma carta em solidariedade às vítimas das enchentes e deslizamentos de terra, porém foram criticados nas redes sociais. Isso porque abriu-se um debate sobre o pagamento de um imposto destinado aos descendentes da família da antiga monarquia brasileira. Os moradores da cidade serrana são obrigados até os dias atuais a pagar uma taxa de 2,5% - o chamado laudêmio e popularmente conhecida como "taxa do príncipe" - sobre as transações imobiliárias.
Apesar do Brasil viver em uma República desde 1889, os moradores de Petrópolis precisam pagar um percentual de 2,5% para cada transação de imóvel feita na região da Fazenda do Córrego Seco, que atualmente engloba o Centro e os bairros ao entorno. 
Criada por Dom Pedro II, o laudêmio foi estabelecido após a coroa portuguesa distribuir lotes da Fazenda do Córrego Seca a imigrantes, que por sua vez deveriam pagar uma taxa se vendessem o imóvel. Por isso, quem vende imóveis e terrenos devem pagar um imposto sobre as transações imobiliárias até hoje nos bairros mais valorizados da cidade. 
Dessa forma, a pessoa só tem autorização para receber a escritura do imóvel após arcar com os custos do imposto. A quantia ainda deve ser paga à vista, sem a possibilidade de parcelamento. A taxa é destinada para a família Orleans e Bragança, que recolhe o imposto pela Companhia Imobiliária de Petrópolis, administrada por herdeiros da antiga família real.
A cidade serrana foi o refúgio de lazer de Dom Pedro II durante a monarquia e ficou conhecida popularmente como Cidade Imperial. O período monárquico no Brasil se deu entre 1822 e 1889, desde a Independência do Brasil até a destituição de Dom Pedro II.
Na quarta-feira, 16, os herdeiros da antiga família real emitiram uma nota de pesar pela tragédia em Petrópolis. "Quero manifestar nossa profunda consternação com os terríveis danos causados pelas fortes chuvas em Petrópolis, que deixaram numerosos mortos e desabrigados. A Família Imperial, tão estreitamente ligada a Petrópolis, encontra-se sempre disposta a servir ao seu povo, oferecendo ainda nossas orações e solidariedade a todos os que vêm sofrendo", diz a nota assinada pelo príncipe imperial, Dom Bertrand de Orleans e Bragança.
Nas redes sociais, usuários criticaram tanto a carta quanto a taxa ainda paga aos herdeiros da antiga família real. "1. A República Federativa do Brasil, por ser república, não tem príncipe imperial 2. A única manifestação possível nesse momento seria a doação integral do laudêmio que a família Orleans e Bragança recebe dos petropolitanos para ajudar as vítimas", disse um usuário.
"A família real (sic), que recebe laudêmio dos compradores de imóveis em Petrópolis, quer ajudar a população afetada pelas chuvas colocando à disposição.. suas orações. Pessoas minúsculas", disse outro. 
Em uma rede social, o autointitulado príncipe imperial do Brasil Dom Bertrand de Orleans e Bragança negou que a sua família mais próxima receba laudêmio. "Em virtude de comentários recentes, esclareço que minha Família imediata (meus irmãos, sobrinhos e eu) não recebe quaisquer quantias referentes ao laudêmio percebido pela Companhia Imobiliária de Petrópolis", começou ele.
Em seguida, ele disse que o seu pai, o "príncipe" Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, chefe da "Casa Imperial do Brasil" entre 1921 e 1981, vendeu todas as suas ações da Companhia Imobiliária ainda na década de 1940. 
"Esclareço ainda que nossas orações (obrigação de todo católico) são acompanhadas de esforços para a arrecadação de doações. Agimos, pois, como tantos brasileiros de boa vontade, com vistas a ajudar as vítimas da tragédia na querida Petrópolis", disse ele.