Solange Rolando (camisa cinza) aguarda na fila para realizar o cadastro de DNA. Ela perdeu irmã e sobrinha na tragédia de PetrópolisMARCO ANTONIO PEREIRA/AGÊNCIA O DIA

Rio - A agonia é tripla para parte da população de Petrópolis: além de sentir a dor da perda de familiares, muitos ainda não sabem onde estão os corpos e aguardam na fila do Instituto Médico Legal para fornecer dados e só então identificar os cadáveres, muitos encontrados já em estado de decomposição. Nesta segunda-feira (21), a Polícia Civil começou a convocar familiares para coletar amostras de DNA e cruzar os dados com os corpos que forem encontrados.
Solange Rolando de Oliveira, 52 anos, tem irmã e sobrinha adolescente desaparecidas desde as chuvas da terça-feira passada (15). No domingo (20), o corpo de uma mulher jovem foi encontrado no Morro da Oficina, na mesma localidade onde a família morava. Solange tem esperanças de que seja o de Giovanna de Oliveira, a sobrinha de 13 anos. Mas o DNA de Solange, coletado pela Polícia Civil, só poderá servir caso encontrem o corpo de Gleicy Rolando de Oliveira, a irmã. É que as amostras seguem uma ordem definida de prioridade: pai e mãe; filhos; o genitor do filho da pessoa desaparecida; e irmãos.
"Minha filha é quem está correndo atrás das identificações, nos hospitais, abrigos, na polícia. No domingo, ela foi com a Defesa Civil no Morro da Oficina. Estamos com 'esperança' porque lá foi encontrada uma menina possivelmente onde era a casa da minha irmã. Não podemos ter certeza, mas todas as características indicam que é ela, sim. Temos que esperar. O corpo está em decomposição e veio para cá, mas o processo é muito demorado e é o pai dela quem deve fazer a coleta. No caso da minha irmã, eu sou a familiar mais próxima, e a perita pediu para aguardar para fazer o cadastro e o DNA", disse Solange, ainda profundamente abalada com a tragédia.
"Foram tantos sonhos interrompidos. A Gleicy era uma pessoa guerreira, que lutou desde criança pelos sonhos. Fez curso de Pedagogia, trabalhava de merendeira, tinha muitos planos para a filha. A gente não entende o que acontece, mas os planos de Deus são dele. O que queremos é a solução", completa.
Até o início da tarde desta segunda-feira (21), a Polícia Civil havia confirmado 181 mortes, com 165 corpos identificados. Outras 89 pessoas seguem desaparecidas.