Durante investigações da Desarme, ainda em 2018, fuzis com as mesmas características de falsificação foram identificados. Na época, a especializada era comandada pelo delegado Fabrício Oliveira, atual coordenador da Core. Na ocasião, um relatório foi elaborado sobre a apreensão de 31 fuzis confiscados em duas ocorrências. Desse total, 22 eram Colt falsificados, com os mesmos erros dos encontrados na Vila Cruzeiro.
"As características das gravações e inscrições nos fuzis de ambas as apreensões, possuem similaridades e características que permitem concluir que foram montados pela mesma pessoa ou organização", diz trecho do documento, assinado pelos policiais Manoel Lage e Luís Renato Campos.
Caveira e bandeira com desafios: outras marcas do armeiro
Tanto nas armas apreendidas em 2018, quanto nos fuzis de fevereiro deste ano, o símbolo de uma caveira foi encontrado, o que seria mais um indício de pertencer ao mesmo armeiro. Segundo a Desarme, o desenho deriva dos chamados ‘morale patches’, que são insígnias customizadas utilizadas por tropas norte americanas em combate e até mesmo no meio policial americano. No entanto, não são originais de fábrica.
Em um dos fuzis há uma bandeira americana desenhada com a inscrição ‘Come and take it’, que significa ‘Venha e pegue-o’, em tradução livre, sendo um “claro desafio às forças policiais”, de acordo com o documento da Desarme.
Em relação às primeiras apreensões, elas datam de 2018 e foram encontradas em um intervalo de pouco mais de um mês. A primeira apreensão ocorreu durante uma operação policial conjunta com PRF em 18 de janeiro daquele ano, na Rodovia Presidente Dutra. Na ocasião, foi preso um militar do Exército, identificado como Renato Borges Maciel, que fazia o transporte de 19 fuzis e 41 pistolas, da cidade de Foz de Iguaçu, fronteira com o Paraguai, até o Rio de Janeiro. Pouco mais de um mês depois, na mesma rodovia, foram apreendidas, em nova operação policial conjunta com a PRF, 12 fuzis e 33 pistolas.
Ainda de acordo com o relatório, o armeiro, apesar de falsificar os fuzis, grava números de séries diferentes a cada fabricação. E, assim, “é possível ter um indício de que 59 fuzis foram produzidos em um intervalo de tempo de 39 dias”.
O fato das armas serem falsificadas não diminui o poder bélico das mesmas, já que o armeiro faz customizações que tornam a arma até superior às utilizadas pela polícia. É o que aponta trecho de um
relatório da especializada. “(alguns fuzis) apresentam componentes e peças mais modernas e mais adequados a operações urbanas, além de dispararem em regime de tiro automático, gerando um previsível desequilíbrio de forças quando em confrontos com criminosos, em desfavor das forças públicas”.
As outras armas apreendidas na Vila Cruzeiro, de acordo com os laudos, também não são originais, mas foram feitas de peças diferentes de fuzis. Por isso, são apelidadas de armas ‘Frankenstein’. “Tem um AR que foi montado a partir de partes que podem ser encomendadas até por metalúrgicas. Há projetos disponíveis na internet”, analisou Vinícius Cavalcante, especialista em armas. A outra possibilidade, de acordo com a Polícia Civil, é da arma ter sido montada nos Estados Unidos, onde a compra de peças separadas é autorizada, e enviada ao Brasil.
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