Rio - Em meio à dor da despedida de um ente querido, um gesto de empatia e amor que se transforma em esperança para outras vidas. Na última quarta-feira (23), foi realizada a primeira captação de pulmão no Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), na Penha, Zona Norte do Rio. Na ocasião, também foram captados coração, fígado, rins e córneas.
A autorização para a doação dos órgãos foi dada pela família de uma jovem de 17 anos. A doadora teve a morte encefálica confirmada após um período internada na unidade. O transplante de pulmão foi realizado no mesmo dia, no Instituto Nacional de Cardiologia (INC), em Laranjeiras, Zona Sul da cidade.
"Ver uma unidade histórica como o Getúlio Vargas, que tem 83 anos de fundação, realizando um procedimento tão complexo e raro pela primeira vez, significa que o Programa Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro (PET) está em expansão e no caminho certo, de compromisso com a vida. Estamos muito felizes com este resultado e vamos seguir avançando", comemora Alexandre Chieppe, secretário de Estado de Saúde.
Transplantes como esses são possíveis devido às equipes das Comissões Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), que atuam em vários hospitais na captação de órgãos. A captação dos órgãos envolveu uma equipe de 22 profissionais de saúde.
"Para o estado, uma captação de pulmão mostra que, quando o hospital tem uma equipe dedicada e exclusiva para esse tipo de atividade, doações de órgãos tão delicados quanto o pulmão, acontecem de forma satisfatória", avalia Alexandre Cauduro, coordenador do Programa Estadual de Transplantes.
O coordenador do Programa explica que o HEGV é o terceiro maior hospital de doação de órgãos do Estado, ficando atrás somente do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, e do Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo.
"O Governo do Estado, olhando para estes hospitais estaduais, observou que quando se tem uma equipe dedicada para busca ativa de órgãos, isso faz com que os números de doações aumentem. Por isso, fizemos um estudo para identificar quais são os hospitais com maior capacidade para fazer a captação de órgãos e temos como meta fazer um processo de qualificação", explica.
Como fruto deste estudo, e visando expandir a possibilidade de maiores captações de órgãos, foi identificado que os hospitais municipais do Rio estão majoritariamente à frente. Alexandre diz que por este motivo o Programa iniciou um processo de capacitação para criar um CIHDOTT em cada uma dessas unidades.
O coordenador explica quais são as três fases de expansão da captação de órgãos no estado do Rio: "Primeiro queremos qualificar as unidades de diálise e depois aumentar o acesso para quem precisa de transplante, principalmente para pessoas com insuficiência renal crônica. Para isso, estamos regulando as vagas nas clínicas de diálises e promovendo o treinamento de profissionais", diz.
Como terceiro passo, o coordenador do Programa conta que é preciso fomentar os hospitais universitários que não fazem transplante atualmente. "Atualmente, quem mais faz transplante são os hospitais particulares contratados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A universidade é um lugar propício para isso. Durante a pandemia eles ficaram bastante ocupados atendendo pessoas com covid-19 e agora, com os números indicando baixo risco de contaminação, há hospitais que podem voltar a fazer transplante".
Criado em 2010, o Programa Estadual de Transplantes já renovou a vida de cerca de 7 mil pessoas por meio de transplantes de órgãos sólidos (categoria que engloba os transplantes de fígado, pulmão, intestino, rim, pâncreas e coração) e recuperou a saúde de inúmeros pacientes com transplantes de ossos, ligamentos e pele.
Para ser doador de órgãos basta avisar aos familiares que você tem a intenção de ajudar outras pessoas. O PET tem capacidade de realizar mais transplantes, mas necessita do "sim" das famílias.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.