Aurélio Alves Bezerra, militar da Marinha, vira réu por homicídio doloso por matar o vizinho Durval FilhoDivulgação

Rio - A Justiça do Rio negou, nesta segunda-feira, o pedido de liberdade feito pela defesa do sargento da Marinha, Aurélio Alves Bezerra, autor dos tiros que matou o vizinho Durval Teófilo Filho, em São Gonçalo. A solicitação foi feita durante uma audiência no Fórum Regional de Alcântara, no município, que tinha como objetivo ouvir testemunhas de acusação e de defesa do caso.
Durval: repositor foi morto pelo vizinho na porta de casa - Reprodução
Durval: repositor foi morto pelo vizinho na porta de casaReprodução
De acordo com o advogado da família de Durval, Luiz Carlos Aguiar, a próxima audiência está marcada para o dia 9 de abril, no período da tarde. A esposa da vítima, Luziane Ferreira Teófilo, esteve frente a frente com o vizinho pela primeira vez depois do crime. 
Familiares e amigos de Durval também estavam no local. Segundo Aurélio, ele confundiu Durval com um assaltante e teria disparado, de dentro do carro, quando ele colocou a mão na mochila, que estava na frente do peito, para pegar algo.

Foram ouvidas 11 testemunhas de acusação e de defesa. Luziane Teófilo, assistente de acusação, contou que escutou os tiros e depois conferiu pelo circuito interno de câmeras do condomínio, pelo celular, o que tinha acontecido. Porém, ela não sabia que era o marido. Um pouco depois, disse ter escutado Aurélio falar "cara, fiz uma merda", em uma conversa embaixo de sua casa.

Como a filha havia visto que Durval já tinha deixado a van e caminhava para casa, Luziane imaginou que o marido demorava a chegar pois estaria ajudando os outros vizinhos a socorrer a pessoa baleada na calçada. Apenas quando uma vizinha bateu em sua casa segurando a mochila e o chinelo sujo de sangue de Durval que ela soube o que tinha acontecido. Segundo a viúva, ele já chegou morto ao hospital e Aurélio não se aproximou ou tentou falar com ela.

Três moradores do condomínio, que depuseram como testemunhas de acusação, afirmaram que nunca souberam de nenhum assalto em frente ao condomínio.

Os policiais civis Mário e Karla afirmaram que, nas oitivas realizadas logo após a morte de Durval, nenhuma das testemunhas disse algo sobre questões raciais ou atitudes preconceituosas cometidas por Aurélio contra a vítima no cotidiano do condomínio.
O sargento da Marinha Aurélio Alves é réu por homicídio doloso (quando há intenção de matar), após a Justiça aceitar a denúncia do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), que alterou a tipificação do crime cometido por Aurélio. O militar foi indiciado inicialmente por homicídio culposo (sem intenção de matar), pela Polícia Civil. A pena pode variar de 6 a 20 anos em regime de reclusão.
Relembre o caso

Durval Teófilo Filho, tinha 38 anos, casado e pai de uma menina de 6 anos, foi assassinado pelo Militar Aurélio Alves Bezerra, seu vizinho, no estacionamento do condomínio onde moravam na Rua Capitão Juvenal Figueiredo, 1520, bairro Colubandê, por volta das 23h do dia 02/02. Preso em flagrante, após socorrer a vítima, na delegacia, Aurélio alegou ter confundido Durval com um bandido ao relatar que chegava em casa: "quando avistou um homem se aproximando de seu veículo, muito rápido e mexendo na bolsa". Aurélio afirmou ter atirado três vezes, tendo atingido a barriga de Durval.
Veja, nas imagens abaixo, gravadas pelas câmeras de segurança do condomínio, o momento em que o militar atira em Durval quando a vítima chegava em casa:
Acusação de racismo e comoção popular

O caso causou comoção popular e gerou muita revolta pela fala do militar da Marinha que disse ter atirado em Durval por achar que a vítima iria roubá-lo, já que segundo ele "a localidade é perigosa e costuma ter muitos assaltos".

Luziane Teófilo, mulher de Durval, inconsolável desabafou: "Eu escutei os tiros. A minha filha, que tem 6 anos, estava esperando o pai dela. Meu marido morreu porque era preto. E agora o que eu vou dizer pra ela?".