Familiares e amigos de Diego se reúnem em novo protestoMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - Familiares e amigos de Diego William da Silva Dias Lima, de 30 anos, morto durante a ação da Polícia Militar no Morro da Caixa D'água, em Queimados, na Baixada Fluminense, fizeram um novo protesto nesta quarta-feira (6), contra a morte do vassoureiro. Desta vez, a manifestação foi realizada na praça Dr. Rubens de Lima, conhecida como Praça dos Eucaliptos, na Vila do Tinguá, em Queimados.

A família de Diego William esteve na manhã desta quarta-feira no Instituto Médico Legal (IML) de Nova Iguaçu para fazer o reconhecimento do corpo do jovem. O enterro será realizado ainda hoje, no cemitério Vale da Saudade, na Jaqueira, também em Queimados, às 17h.

Diego, que trabalhava vendendo vassouras em diversos bairros do Rio, saía de casa pela manhã de terça-feira (5), de acordo com testemunhas, como fazia todos os dias, quando foi abordado por agentes do 24º BPM (Queimados), e acabou sendo baleado e morto sem algum motivo aparente. A Polícia Militar afirmou que houve confronto em um local próximo da comunidade. As armas utilizadas pelos PMs durante a ação foram apreendidas pela Polícia Civil, que instaurou um inquérito para apurar o caso.


Ana Cláudia da Silva Dias, de 50 anos, mãe de Diego William, afirmou que vai lutar por justiça pelo seu filho e que não acredita na versão dada pela polícia.

"A PM alega que houve confronto, mas que confronto? só o meu filho foi baleado, não apareceu mais ninguém. Cadê a arma que eles disseram que estava com meu filho? Cadê as drogas que eles disseram que estava com meu filho? Cadê a granada? Nem tinha jornal lá (em Queimados) e tem um jornal anunciando isso, porque foi eles (a polícia) mesmo que passaram, mas tudo está guardado, eu vou resolver tudo, mas primeiro vou enterrar meu filho".

Ana Cláudia se refere a publicações feitas por algumas páginas de notícias nas redes sociais que, incialmente, noticiaram que Diego faria parte do tráfico que atua na região. A família da vítima nega, enquanto busca provar que ele era trabalhador e não tinha mais envolvimento com o crime.

"Logo assim que ele saiu da prisão ele foi direto para a igreja e começou a trabalhar. Para esses policiais que atiraram no meu filho eu queria fazer uma pergunta: vassoura agora é arma?", expôs Ana Cláudia.

Ney Vitor da Silva Dias Pereira, de 26 anos, irmão de Diego, contou que ele era muito alegre e querido por todos.

"Meu irmão sempre foi muito alegre, sempre tirou sorrisos de quem estava ao seu redor, um jovem carismático, aonde ele passava todos o conhecia pela sua alegria pelo seu jeito de ser. O sonho dele era conseguir comprar uma casa para sair do perigo que existe na comunidade, ele estava muito feliz porque na semana passada ele conseguiu compra um tanquinho pra sua casa, muito feliz porque tinha dado entrada nos papéis para se casar com a sua esposa".

Figura essa que é reforçada pela mãe, dizendo que o filho cativava a todos na comunidade onde viviam. Segundo ela, a polícia sempre age com truculência contra os moradores do Morro da Caixa D'água.

"Ele era o cara mais querido, só vivia rindo, não tinha tristeza para ele, tudo era alegria, era um menino de ouro para todo mundo, a comunidade se reuniu porque eles não aceitaram covardia. É muita covardia, só quem vive lá em cima que sabe, os policiais sobem encapuzados porque já sobem na intenção de maltratar, e ali não mora só bandido, ali mora muita família, tem muita criança, tem muita gente querida, muita gente amada".

Nas redes sociais, Diego William parecia sempre animado com seus dias de trabalho e fazia publicações frequentes mostrando local onde estava e suas vassouras. Durante alguns vídeos, a vítima cantarolava músicas que utilizava para ajudar nas vendas. Um pouco antes de ser baleado, o vendedor publicou uma foto, às 7h da manhã, ao lado das vassouras.


Maria de Lourdes, esposa de Diego, disse que o marido estava em um período de muita felicidade, pois o casamento dos dois estava bem próximo.

"Há pouco tempo, ia fazer um ano, a gente se reconciliou, fomos morar juntos, eu trouxe ele para morar na minha casa e estava dando tudo certo. A gente ia casar agora, anteontem eu fui no cartório pegar os documentos e ele estava todo contente que ia casar, todo bobo que ia poder se batizar, estava comemorando horrores e aí do nada aconteceu isso. O meu relacionamento com ele era maravilhoso, eu não tenho do que reclamar, a vida dele era voltada a me agradar, tudo que ele fazia era para mim. Ele era maravilhoso e tiraram isso de mim, mas graças a Deus, ele era uma pessoa tão boa que me deixou tão bem amparada, me deixou com pessoas boas pessoas que estão cuidando de mim nesse momento".

O porta voz da Polícia Militar, o tenente-coronel Ivan Blaz afirmou, em entrevista do Bom Dia Rio, da TV Globo, que a ocorrência mostra participação de Diego no confronto contra os agentes.

"Nesse caso, os policiais do 24º batalhão (batalhão de Queimados), eles são categóricos em afirmar a participação de Diego, tanto que a ocorrência foi feita ali no ato".

Protesto gera confusão

No protesto realizado nesta terça, um policial do 24º BPM foi flagrado dando um tapa na cara de uma mulher em um vídeo. Além dela, outros moradores também foram agredidos pelos agentes com socos e cassetetes. Nas imagens em que o DIA teve acesso, logo após as agressões, a mulher aparece com o nariz sangrando. Um dos manifestantes foi detido pelos agentes.

De acordo com a Polícia Militar, agentes do 24º BPM utilizaram dos meios necessários para conter os envolvidos e a depredação. Informou ainda que o policiamento segue intensificado na região.


O que diz a Polícia Militar sobre a morte de Diego

Segundo policiais do 24°BPM (Queimados), criminosos armados atacaram as equipes na comunidade do São Simão, em Queimados, nesta terça. Um homem foi ferido e socorrido à UPA da região. Na ação, foram apreendidos um revólver, duas granadas, três rádios e drogas. A ocorrência foi apresentada na 55ª DP (Queimados). A Corregedoria da Corporação também acompanha o caso.

A Polícia Civil informou que instaurou um inquérito para apurar a morte de Diego. Os policiais militares que participaram da ação foram ouvidos e as armas foram apreendidas e encaminhadas para a perícia.