Membros de terreiro de candomblé dizem ter sido impedidos de fazer ritual em cemitérioReprodução de vídeo

Rio - A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) está investigando a denúncia de intolerância religiosa feita pelo babalorixá Pedro Chagas nesta quarta-feira (6). O ato de preconceito ocorreu durante um sepultamento no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio, nesta segunda-feira (4).

Segundo o babalorixá, funcionários da empresas RioPax, responsável pela administração do local, o perseguiram desde sua entrada no cemitério e o impediram de realizar o abate de um animal, conforme é previsto na ritualística, e só permitiram a prática com a presença de agentes da Decradi.

"O ritual foi comprometido para o resto da vida. Eu não consegui fazer da maneira que ele deveria ser feito. Eu tive que parar para discutir. Desestabiliza o chefe religioso num momento de tamanha dor. Eu cheguei lá muito cedo justamente para que o ritual não fosse visto por ninguém, mas nos impediram fazer. Eu cheguei lá às 9h, mas só consegui a autorização por volta das 13h para fazer o ritual (...). É um absurdo o que a RioPax está fazendo com o povo de santo", contou o babalorixá.

O líder religioso registrou o caso na delegacia nesta quarta. No próximo domingo (10), lideranças religiosas farão um ato de repúdio no cemitério. No mesmo dia à tarde, os religiosos pretendem também fazer um protesto no Sambódromo.


A Decradi informou que foram requisitadas as imagens das câmeras de segurança do cemitério para dar andamento as investigações.

O Deputado Estadual Atila Nunes, relator da CPI contra intolerância, se manifestou sobre o caso. "Se o Babalorixá queria fazer seu ritual dentro da capela, sem prejudicar terceiros ou trazer qualquer constrangimento, realmente está caracterizado como um caso de preconceito religioso, haja vista que não é um funcionário que determina o que determinada religião pode ou não pode em seu ritual, até porque se foi feito dentro da capela, foi circunscrito apenas aos membros da religião", expôs.

A Concessionária Reviver, responsável por sete cemitérios públicos na cidade do Rio de Janeiro, afirmou, por meio de nota, que "cumpre o previsto nas disposições gerais do Decreto 39.094, considerando a laicidade do Estado, o respeito à dignidade da pessoa humana viva ou morta, vedando qualquer discriminação fundada em religiosidade, raça, sexo, cor, trabalho ou convicções políticas, não permitindo, qualquer ato que perturbe a ordem e a tranquilidade ou desrespeito aos sentimentos alheios e convicções religiosas".

Procurada pelo DIA, a Rio Pax disse que é contrária a qualquer tipo de ato de intolerância religiosa contra toda e qualquer religião, e reconhece a legitimidade de todas elas.

"Esclarecemos ainda que não houve qualquer ato de intolerância praticado pelos colaboradores da Concessionária Rio Pax mas tão somente um comunicado aos participantes sobre os impedimentos dispostos na legislação Federal, Estadual e Municipal sobre o tratamento dispensado aos animais. Por fim, a Concessionária Rio Pax S/A informa que seus colaboradores cumprem o disposto na legislação vigente".