O delegado Maurício Demétrio está preso na Penitenciária Bandeira Stampa, no Complexo de Gericinó, em BanguReprodução

Rio - O delegado da Polícia Civil Maurício Demétrio não raspou a cabeça e nem usou o uniforme padrão na foto da ficha de ingresso no sistema penitenciário do Rio. Segundo as normas da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), ele deveria usar as roupas da prisão e cabelo raspado. O ex-titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) é suspeito de comandar um esquema que exigia propina de lojistas da Rua Teresa, em Petrópolis, para permitir a venda de roupas falsificadas. Ele também responde por lavagem de dinheiro, obstrução às investigações, abuso de autoridade, denunciação caluniosa e fraude processual.
Na imagem, Demétrio aparece com uma camisa social por baixo de um colete, usado como agasalho. O delegado está preso na Penitenciária Bandeira Stampa, no Complexo de Gericinó, em Bangu. A reportagem do DIA procurou a Seap para esclarecer os fatos.
"A Seap esclarece que atual gestão assumiu a pasta há apenas quatro dias e que o procedimento padrão deveria ter sido feito em junho do ano passado, quando o delegado foi preso", informou a secretaria em nota. 
Na última sexta-feira (8), o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou Demétrio por abuso de autoridade, denunciação caluniosa e fraude processual por causa da prisão de duas advogadas em falso flagrante.
De acordo com a 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Rio de Janeiro, em 2018, Demétrio e o policial Celso de Freitas Guimarães Junior efetuaram três prisões em flagrante ilegais, além de terem entrado na casa de uma das pessoas presas sem mandado de busca e apreensão.
Segundo a denúncia, em 2018, as advogadas Mariana Farias Sauwen de Almeida e Carolina Araújo Braga Miraglia de Andrade protocolaram na DRCPIM uma notícia de prática de infração penal. Elas denunciaram que o livro "Ágape", do Padre Marcelo Rossi", tinha um texto atribuído à Madre Tereza de Calcutá, sendo que, na verdade, seria de autoria de Izaura Garcia.
Após o inquérito, o Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional afirmou que a obra de Izaura não estava registrada na instituição. Meses após, Maurício Demétrio pediu que Izaura e as advogadas fossem até à especializada para um novo depoimento com uma documentação assinada, que ele sabia ser falso. No local, ele deu voz de prisão em flagrante às três.
Ele retirou os telefones das advogadas e as manteve incomunicáveis, impedindo que elas ligassem para familiares e para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Posteriormente, os telefones delas foram destruídos. Demétrio também manteve Izaura isolada das advogadas porque ele e Celso entraram na casa dela sem um mandado de busca e apreensão.
Demétrio também é apontado também como o mentor de uma operação falsa com a intenção de obstruir e enfraquecer investigações que já estavam em andamento contra ele e seu grupo. Ele chegou a envolver e prender em flagrante o delegado Marcelo Machado, quem justamente o investigava. Machado foi solto logo após pagar fiança.
As investigações que levaram à prisão de Demétrio começaram em 2019 com o depoimento de uma lojista de Petrópolis. Ele se recusou a pagar propina de R$ 250 por semana. Dias depois de se rebelar, sua loja foi alvo de operação da delegacia, comandada por Demétrio, com mais de 100 peças de roupas apreendidas. O delegado nega as acusações.