Draco cumpriu 79 mandados de busca e apreensão a partir de celular de miliciano apreendido. Investigações continuam para desarticular quadrilhaMarcos Porto

Um celular encontrado com Jocemir de Santana Souza, vulgo Cemir, foi o pontapé para uma operação que visou 79 mandados de busca e apreensão nessa semana desencadeada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). O aparelho estava com o miliciano preso em 2021 pela mesma especializada. O DIA teve acesso às conversas do celular do criminoso. Em um aplicativo em que trocava mensagens com outros integrantes da quadrilha, Cemir criou o chamado 'Só Trabalho', dedicado a monitorar moradores de Rio das Pedras e Muzema. Nas mensagens, eles combinavam serviços ilegais e contabilizavam o lucro com a exploração de correios, luz, transportes alternativos e, mais recentemente, taxas a catadores de material de reciclagem.
Em uma das mensagens no celular, o miliciano João Henrique Pedro da Silva, conhecido como Pezão, e já preso pela Draco, e Cemir conversam sobre os lucros da quadrilha."(...) Me mostrou quanto deu de lucro; e tinha sobrado mil e cento e pouco para cada", diz.
No grupo 'Só trabalho', eles também falavam sobre possíveis movimentações policiais. Em um das conversas, pedem para ter atenção a um grupo de homens. "Rapaziada, atividade que um amigo me passou aqui agora que tem uns caras (...) tudo de cintura grossa, parados em frente a (...)", escreveu um integrante. Prontamente, um grupo foi ao local mencionado na mensagem verificar se eram policiais.
Atualmente, a Draco investiga se os milicianos tentam concentrar todo o serviço postal da região: a intenção seria colocar pontos únicos de entrega de correspondências e cobrar uma taxa de R$ 15 para cada retirada feita por um morador.
Além disso, contam com ex-funcionários de concessionárias de energia para instalação de pontos de luz clandestinos. Eles obrigariam os moradores a desligarem os marcadores de energia elétrica da Light, colocam os próprios relógios e cobram uma taxa mensal pelo gasto de energia desviada.
Além disso, os criminosos também explorariam serviços de transportes alternativos, como as balsas que fazem a ligação entre Rio das Pedras e Barra da Tijuca. Uma outra modalidade que ainda está sob investigação é a de uma empresa de aplicativo que atua somente naquela região.
Na página do App, um usuário que fez queixa do aplicativo escreveu: "O desenvolvedor respondeu ao meu comentário tentando me intimidar! Pois saiba que existem conversas gravadas de milicianos ameaçando outros motoristas de aplicativos para monopolizar a região. Se o aplicativo fosse tão bom, isso não seria necessário". Em seguida, um administrador responde: "Por que denunciar um App que ajuda a comunidade e área de Jacarepaguá?". A conversa cessa.
A Polícia Civil continua a investigação sobre a atuação de milicianos na região.