Defensora pública aposentada é investigada após chamar entregadores de ’macacos’Foto: Reprodução / Redes Sociais

Rio - Pela segunda vez consecutiva, a defensora pública aposentada Cláudia Alvarim Barrozo, que agrediu verbalmente dois entregadores em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, não compareceu à delegacia para prestar depoimento sobre o caso.

Acusada de injúria racial, a mulher já havia sido chamada até a 81ª DP (Itaipu) na semana passada, quando o caso foi registrado, mas disse aos investigadores que não poderia ir até o local por conta de problemas pessoais.

O delegado responsável pelo caso, Carlos César Santos, informou que caso Cláudia não vá prestar esclarecimentos até às 18h desta terça, ela será intimada mais uma vez, para comparecer na sexta-feira (13) e, se a mulher optar por não contar sua versão novamente, o inquérito será fechado somente com o depoimento das vítimas.

"Ela (Cláudia) estava marcada para às 10h de hoje, mas por enquanto ainda não compareceu. Nós queremos ouvir a versão dela acerca desse fato, saber o que ela alega em relação a acusação feita pelas vítimas. Estamos aguardando para que ela seja ouvida, se ela não comparecer, nós temos um prazo para concluir o inquérito e eu vou fazer isso sem a oitiva dela. Eu vou ficar só com a versão das vítimas e vou basear meu relatórios nessas oitivas e nas imagens das câmeras", declarou.

Carlos César também afirmou que a declaração da defensora seria importante para que os investigadores entendam o que a levou a proferir os xingamentos contra os entregadores. "Seria importante se ela falasse, até para que apresentasse as razões dela de ter ofendido os entregadores", disse.

Até o momento, a polícia tem o depoimento das duas vítimas, o vídeo gravado por um deles e as imagens das câmeras dos condomínios, que serão usadas para confrontar o vídeo das vítimas e excluir qualquer hipótese de edições de imagens.

O advogado de defesa dos entregadores, Joab Gama, informou que o secretário de Direitos Humanos de Niterói, Raphael Costa, marcou uma reunião com as vítimas e com a OAB-RJ, nesta quarta-feira (11), às 18h20, para conversar sobre o caso, além de ter oficiado a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

Com o ofício, o caso pode deixar de ser investigado pela 81ªDP (Itaipu) e seria encaminhado à Decradi, que é especializada em crimes de cunho racial.

Acusada tem outras quatro anotações criminais

Cláudia Alvarim Barrozo aparece em mais quatro anotações criminais como autora, sendo três por injúria racial e uma por lesão corporal. Segundo o delegado, com o andamento das investigações, ela pode pegar até três anos de prisão somente por esse caso, já os outros quatro seguem na Justiça.

"A pena desse crime é de um a três anos de prisão. Casos de preconceito hoje em dias estão mais comuns do que a gente imagina, porque as pessoas estão denunciando, estão falando", explicou.

Um dos casos onde Cláudia aparece sendo acusada de injúria aconteceu em 2014. Na ocasião, ela teria ofendido uma funcionária de uma empresa de plano de saúde. Segundo os registros, ela teria a chamado de "enfermeira de m*erda, muda, infeliz". No mesmo ano, a defensora foi acusada de ofender uma menor de idade que desistiu de participar de uma festa de debutante.

Relembre o caso

No dia 30 de abril, os dois entregadores, Jonathas Souza e Eduardo Peçanha, ambos de 31 anos, foram até um condomínio no bairro Itaipu, em Niterói, para realizar uma entrega de encomendas. Um pouco depois, ao ver o carro das vítimas estacionado próximo a sua garagem, a mulher começou a agredi-los verbalmente.

Na ocasião, Cláudia chegou a atirar pedras e latas de refrigerante contra o veículo. A cena foi gravada em um vídeo, que viralizou nas redes sociais, por uma das vítimas. Além de xingá-los, a mulher questionou se eles sabiam "quem ela era" e o que ela "poderia fazer".

Eduardo contou que no momento em que estavam sendo alvos de inúmeras ofensas, ele se sentiu totalmente humilhado, pois nunca havia passado por uma situação parecida antes.

"Tanto eu quanto o Jonathan, a gente cultivou do mesmo sentimento. Sentimento de humilhação, da pessoa querer ser maior do que nós ou nos colocar para baixo, também pode ser dito dessa forma, porque o tom de pele é diferente do nosso. A gente se sentiu como se estivesse um filme, como se aquilo não se não tivesse acontecido conosco, porque ver pela televisão é uma coisa, mas sentir na pele é totalmente diferente", desabafou.