Alunos querem que caso seja investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) Google Street View

Rio - Após a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro (OAB-RJ) ter recebido denúncias de assédio sexual no mês de abril, de um grupo de alunas e ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga, na Ilha do Governador, na Zona Norte, que alegaram ter sido abusadas por dois professores da instituição que subordinada à Força Aérea Brasileira (FAB), o DIA ouviu uma das vítimas, que preferiu não ser identificada.
Você estudou no Colégio Brigadeiro Newton Braga em que período?
2001 até 2012, ou seja, da 1º série ao 3º ano do Ensino Médio (repeti o 1º ano do segundo grau).
E em quais anos sofreu esses abusos por parte dos professores?
O abuso que eu sofri foi pelo professor de história Eduardo Mistura. Ele foi meu professor em 2007, mas a aproximação aconteceu em 2008 quando ele também foi meu professor novamente. Ele se aproximou porque percebia em mim uma certa tristeza em algumas aulas, aí dizia que eu podia confiar nele. Me deu o e-mail dele e falava que eu podia me abrir e falar o que estava acontecendo. Na época, eu tinha um relacionamento abusivo e essa foi a brecha ideal que ele encontrou de me fazer confiar nele e se mostrar amigo. Eu enxergava que ele tentava me salvar desse relacionamento abusivo. Me dava conselhos, me mostrava que meu ex-namorado agia errado comigo e coisas assim.
Na época você ainda era menor de idade?
Sim. Na época eu tinha 15 anos, Isso aconteceu em 2008.
E como eram essas conversas? O que ele falava para você?
Começou com ele querendo ser meu amigo. Ele se aproximou uma vez dizendo que no fim da aula tinha notado que eu estava triste e perguntou se estava tudo bem. De início eu não quis falar muito sobre e foi quando ele me deu o e-mail dele falando que a gente podia conversar melhor e que eu podia contar pra ele qualquer coisa. Depois disso eu comecei me queixar pra ele sobre o meu relacionamento e ele me dava vários conselhos. Em outras aulas eu já percebi já que ele me tratava de uma forma diferente. As vezes eles me elogiava e meus amigos achavam esquisito. Ele falava coisas do tipo: 'você está linda hoje'.
Depois disso as conversas se intensificaram. Ele deixava muito claro sempre que gostava muito de mim, que gostava da minha companhia, que via muito potencial em mim. Do e-mail a gente passou a trocar mensagens por MSN. Falávamos de tudo. Até que um dia ele deixou claro que me queria, mas que não podia. Ele falava direto que sentia vontade de estar comigo, de transar, beijar.
E quando essas conversas começaram, para você era algo normal ou passou a te assustar?
Não me assustavam porque eu não tinha noção da gravidade. A única coisa que fazia eu me sentir mal era o fato de que ele era noivo. Nas aulas ele falava que tinha um relacionamento. Eu já estava apaixonada. A gente ficava juntos pessoalmente. Ele esperava minha condução chegar para eu ir para casa. Em 2008 também ele já chegou a ir até a vila onde eu morava. Nesses encontros não acontecia nada além de conversas inapropriadas e olhares. As vezes ele encostava na minha mão.
Uma vez aconteceu da gente dar selinho, mas ele falava que era sem querer. Ele era querido por todos da escola, então isso também inflava meu ego de alguma forma. Eram bom saber que eu era desejada por um professor.
Em 2009 ele já não me dava mais aula, calhava da gente se encontrar nos intervalos e ficávamos conversando. Ele sempre dizia que tinha medo do que podia acontecer se a gente ficasse juntinhos, de como eu iria interpretar isso.
Em que momento você percebeu que você estava sendo vítima de assédio?
Em 2008 ou 2009 ele falava que queria me raptar e fugir comigo. Já chegou me chamar pra ir na casa dele. Ele morava em São Gonçalo. Quando ele dava espaço, eu via que de fato ia rolar alguma coisa, me sentia segura, mas recuava. Nós chegamos a ficar [beijar] em 2014. Fomos para um motel e transamos. Nesse mesmo dia eu disse para ele que seria a primeira e última vez, que eu não queria mais estar nessa posição [de amante] na minha vida.
Com a terapia anos depois, em 2019 e 2020, foi quando a minha psicóloga me alertou que havia sido pedofilia, que eu era uma criança e que por mais que eu quisesse, ele já tinha 31 ou 32 anos na época eu só tinha 15. Eu já tinha achado que tinha sido errado, mas ainda assim tentava justificar que não. Agora eu vejo que além de mim, ele fazia isso com várias outras e inclusive falava as mesmas coisas que falava pra mim.
Quando soube do Exposed Newton, você chegou a ir até o colégio para corroborar com a denúncia de outras alunas?
Não! Quando eu soube do exposed, decidi não ir na escola porque foi algo que me abalou muito emocionalmente. Fiquei confusa, me sentindo culpada. Preferi não não levar para frente.
O que você mais deseja que seja feito agora, com uma maior exposição do caso e com a OAB de frente?
Eu não acredito que ele vá pagar devidamente pelo o que ele fez. Ele causou, não só em mim, como em outras vítimas que eu tive contato, muitos traumas que vamos carregar pelo resto da vida. Mas, o que eu desejo mesmo é que a verdade venha à tona e as vítimas percebam que elas não estão sozinhas e que não são culpadas pelo o que passaram. Além disso, o mais importante: que ele não faça de novo. Quero que o que aconteceu comigo não venha acontecer com outras meninas.