Sargento Manoel foi o primeiro a confessar: ele saiu da delegacia segurando uma bíbliaMarcos Porto/Agencia O Dia

Rio - Morando de aluguel, o papislocopista Renato Couto, 41, tinha um sonho: construir uma casa para morar com a família, onde faria uma loja na parte superior, na rua General Canabarro, no Maracanã, Zona Norte do Rio. No entanto, os roubos de metais da obra por usuários de drogas passaram a ser tão frequentes, que o policial tomou uma medida drástica: dormir na construção para evitar o crime. 
Foi assim que, em uma madrugada, ele flagrou viciados invadindo o local. "Ele rendeu os furtadores, que apontaram dois locais onde vendiam os metais: um na Mangueira e outro na Praça da Bandeira, perto do prédio do INSS", disse um investigador à reportagem. 
Somente na 18ªDP (Praça da Bandeira), desde setembro de 2020, Couto fez nove registros na delegacia. Somente em 2022, os furtos ocorreram nos dias 07 de fevereiro; 09 de fevereiro; 22 de março; 29 de março; e 11 de maio. 
Os registros eram tantos que Couto se tornou até amigo dos agentes da delegacia, e passou a almoçar com eles. Após investigação, a distrital fez uma operação no ferro-velho da Mangueira, interditando o local. Para tentar ganhar dinheiro extra e continuar a obra, Couto passou a fazer hora extra no Instituto de Identificação Félix Pacheco (IIFP), onde era lotado. No entanto, os furtos da obra continuaram. Uma janela, que custou R$ 1.500, foi levada.
Foi então que Couto resolveu ir até o ferro-velho da Praça da Bandeira, tentar recuperar parte do material perdido. Lá, levou notas fiscais para mostrar que o material era dele. O dono, Lourival Ferreira de Lima, 65 anos, disse para ele retornar horas depois, que iria ressarcir o material. 
Ao retornar, no entanto, caiu em uma emboscada: em um beco, próximo à Avenida Radial Oeste, foi rendido por três militares da Marinha do Brasil, e o idoso. A polícia identificou o grupo como sendo os sargentos Bruno Santos de Lima e Manoel Vitor Silva Soares, além do cabo Daris Fidelis Motta. O pai do sargento Bruno, Lourival, também estava no grupo. Pai e filho eram donos do ferro-velho, que receptava o material roubado. Todos foram presos, no sábado. Eles afirmaram que jogaram o corpo do agente no Rio Guandu.
"Ele foi vítima três vezes: dos furtos, da receptação e do homicídio", afirmou outro investigador. 
Uma testemunha viu o momento em que Couto foi rendido na rua.  "Enquanto três, um por trás, aplicando uma gravata, e dois pelos lados, seguravam a vítima, o quarto apontava uma pistola para ele, de frente, sendo ele mais alto, magro, careca, vestindo um colete balístico". O colete, dos fuzileiros navais, era vestido por Bruno, que fez três disparos em Couto, às 14h30, da última sexta-feira. 
O outro sargento, Manoel, afirmou na delegacia que Bruno era violento e, por ser seu subordinado, ficou com medo de morrer também. Aos investigadores, disse que Bruno havia acabado de matar um homem na frente dele e, por isso, teve receio de denunciar. Ele foi o primeiro a confessar o crime, e segurava uma bíblia nas mãos.