Débora Couto de Mendonça disse que Lourival Ferreira de Lima, um dos quatro presos pelo crime, receptou materiais furtados de uma obra do irmãoMarcos Porto / Agência O Dia

Rio - A irmã do perito Renato Couto Mendonça, de 41 anos, morto por três militares da Marinha do Brasil, pediu justiça após ter reconhecido o corpo do papiloscopista ainda às margens do Rio Guandu, em Japeri, na Baixada Fluminense, nesta segunda-feira. No IML, a fisioterapeuta Débora Couto de Mendonça, de 38 anos, disse que Lourival Ferreira de Lima, um dos quatro presos pelo crime, receptou materiais furtados de uma obra do irmão.
"A gente já sabia dos furtos porque era uma coisa frequente. Tem 18 boletins de ocorrência. Ele era um policial civil, poderia ter ido de primeira, discutido e ter usado a força dele como policial, mas ele não fez isso. No dia da sua morte, ele estava com as notas fiscais das janelas que estavam no ferro-velho do seu Lourival no bolso, porque o seu Lourival mandou ele voltar e que se ele apresentasse as notas, ele iria devolver as janelas ao meu irmão", disse.
Débora contou que o irmão era o pilar de sua família e ele só entrou na Polícia Civil para ficar próximo deles.
"Meu irmão era minha outra metade. Ele era família 24 horas, era o pilar da nossa família, era ele quem dava o sustento para a minha mãe. Eu falava com ele no telefone todos os dias. A minha filha mais velha é afilhada dele. Ele só entrou para a Polícia Civil para estar próximo da gente, porque quando ele foi da Marinha, ele ficou em Fortaleza, e quando era do Exército, em Curitiba. E aí quando ele fez prova para a Polícia Civil e para a PRF, mas não abriu vaga para a PRF no Rio, então ele preferiu a Civil justamente para ficar perto da família. Agora é enterrar e fazer todas as homenagens que ele merecia e merece. Meu irmão era um cara incrível".
O enterro está previsto para acontecer nesta terça-feira, no Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio. O horário ainda não foi informado.
Entenda o crime
Renato Couto foi assassinado por três militares da Marinha depois de uma discussão em um ferro-velho, na Praça da Bandeira, na Zona Norte, na última sexta-feira. Após ser baleado, ele teria sido colocado dentro de uma van da força militar e seu corpo jogado no Rio Guandu. O perito teria sido arremessado de uma ponte, próximo ao bairro de Engenheiro Pedreira.
Um vídeo feito pela perícia mostra que a ponte ficou manchada de sangue; amostras foram coletadas.
Três militares da Marinha foram presos, na noite deste sábado, acusados da morte do papiloscopista da Polícia Civil. Eles foram identificados como sendo os sargentos Manoel Vitor Silva Soares e Bruno Santos de Lima, além do cabo Daris Fidelis Motta. O pai do sargento Bruno, Lourival Ferreira de Lima, também foi preso. Pai e filho eram donos do ferro-velho. Todos foram indiciados por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
Na delegacia, na manhã deste domingo, o sargento Bruno tentou cortar os pulsos após quebrar as lentes dos óculos que usava. Socorrido para o hospital, ele recebeu tratamento médico e retornou para a sede policial.
Durante a transferência para uma prisão da Marinha, no início da tarde deste domingo, os três militares usaram capacetes e coletes de fuzileiros navais, em cima da roupa civil, além de algemas. De acordo com os investigadores, o procedimento é um padrão da Força Armada para a transferência.
Entenda o caso
De acordo com um familiar do policial morto, Renato foi até o local após saber que objetos de metal dele, que fazia uma obra na Mangueira, tinham sido furtados por usuários de crack e vendidos para esse ferro-velho. Ele teria sido instruído pelo dono do local a retornar em outro horário, ocasião em que foi baleado e colocado dentro de uma van. O veículo pertencia à Marinha, e teria sido levado para um quartel após a desova do corpo. Dentro da unidade militar, a van teria sido ainda lavada.
Investigação conjunta das equipes das Delegacias de Homicídios, 18ªDP (Praça da Bandeira) e IIFP (onde o agente era lotado) constatou que o policial teve uma desavença dentro do estabelecimento. Pai e filho, donos do ferro-velho, com os outros dois comparsas, utilizaram a viatura oficial militar para raptar e matar o policial. A polícia ainda não forneceu mais detalhes sobre a dinâmica do crime.
Em nota, a Marinha se solidarizou com os familiares do policial e informou que abriu um inquérito militar para apurar as circunstâncias do crime. Durante o crime, uma van da MB foi usada, inclusive que teria sido lavada dentro de um quartel da força.