A vítima Sônia Maria da Costareprodução
Ex-funcionárias de golpista responsável pela morte de idosa entram na Justiça para receber atrasados
Manicures que trabalhavam para Andréa Cristina da Silva contaram que a acusada chegou a simular um furto ao salão para deixar de pagar as funcionárias
Rio - Apontada como uma das chefes da quadrilha que causou a morte da aposentada Sônia Maria da Costa, Andréa Cristina da Silva aplicou golpes em funcionárias do salão que foi responsável, o Espaço Pé e Mão, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Ao O DIA, manicures que trabalhavam no local contaram que a acusada chegou a simular um furto ao salão para deixar de pagar as funcionárias.
Para receber os valores atrasados, manicures que trabalharam no salão entraram com um processo na Justiça contra Andréa e a empresa Ep&m Copa Serviços De Estetica e Beleza Eireli. Apesar dela se apresentar para as funcionárias como a dona do salão de beleza, o único sócio da empresa se chama Antonio Azevedo Correa, que também responde processo.
Segundo X., uma das profissionais que não quis se identificar, o falso roubo aconteceu em um dia em que as funcionárias receberiam o pagamento pelo trabalho. Na ocasião, uma mulher, que seria comparsa de Andréa, fingiu que era cliente do salão para ir até o banheiro, que ficava perto do escritório. Assim que saiu do local, a acusada da morte da aposentada anunciou para as funcionárias que não teria como pagá-las por causa do furto. Após sofrer o suposto crime, ela proibiu que as funcionárias registrassem o caso na Polícia Civil.
"Depois, a Andréa veio dizer que ela tinha sido assaltada e que não poderia nos pagar. Isso foi um golpe. Ela não queria pagar a gente, e não pagou", lembrou a funcionária, que completou: "Ela começou a perder a mão totalmente. No dia dos pagamentos, ela não ia no salão e não mandava o dinheiro para nós".
Apesar de alegar falta de dinheiro para o pagamento, X. afirmou que Andréa costumava ostentar uma vida luxuosa. "Todo fim de semana ela servia champanhe, fazia buffet para chamar clientes. Ela chegou a oferecer um chá de bebê para uma delas. Ela tinha outras pessoas trabalhando com ela, carrão, mas essas coisas começaram a sumir", contou.
Antes de assumir o salão, Andréa era uma das clientes semanais de X. Depois de conquistar a confiança da antiga dona e das manicures, ela teria comprado a loja da antiga dona. Assim que assumiu o comando do local, ela revelou para as funcionárias que estava "tomando conta" de uma senhora, que também se chama Sônia. Andréa já responde a processo por se apropriar de R$ 1 milhão dessa idosa.
"Ela disse que estava cuidando de uma senhora chamada Sônia. Ela não falou o que ela fazia exatamente, só tomava conta dessa idosa, que não tinha família. Depois de um tempo, deu para ver que a vida dela começou a mudar por conta dessa senhora que ela nem conhecia e que não era da família dela", suspeitou.
Quando decidiu pedir as contas do salão, a mulher apontada como líder da quadrilha ameaçou X. e a nova chefe dela. "Ela é uma verdadeira golpista. Ela é muito perigosa. Quando eu pedi para sair, ela ficou com raiva. A Andréa foi no outro salão e me ameaçou. A princípio, ela me mandou uma mensagem dizendo que não poderia me perder. Em seguida, ela foi lá no outro salão para falar que não iria ficar 'assim'. Não foi a dona do salão que me chamou para trabalhar com ela, eu que quis porque vi tudo errado", relembrou.
Y., que também não quis se identificar, sentiu que havia algo errado com Andréa, que fingia ser advogada. "Fui checar se meu Fundo de Garantia pelo Tempo de Serviço (FGTS) estava sendo depositado, mas ela não tinha depositado nada. Consegui o CPF dela pelo sistema do salão e comecei a pesquisar para achar alguma coisa da vida dela. Sempre achei que tivesse algo muito esquisito nessa história. Procurei por tudo com o número de CPF dela, mas não consegui achar nada e descobri que ela não era advogada", contou.
Assim que entendeu que precisaria ficar atenta em relação aos pagamentos pelo trabalho, Y. avisou às outras colegas o que tinha acabado de descobrir sobre a ex-patroa. "Precisei ir até o salão para pegar alguns documentos. Quando cheguei lá, ela estava com o José Pinto, o advogado que ela dizia ser o tio dela", lembrou a manicure, que continuou: "Assim que peguei o documento, notei que tinham erros. Ela ficou dizendo que não sabia que estavam errados. Como não, se ela dizia que era advogada?".
Relembre o caso
A professora aposentada Sônia Maria da Costa, de 79 anos, foi vítima de uma quadrilha especializada em roubar idosos ricos. Moradora de Vila Isabel, dona Sônia levava uma vida simples, sem ostentação, mas era dona de mais de 20 imóveis na Zona Norte do Rio, herdeira de uma quinta, em Portugal, e tinha mais de R$ 5 milhões no banco. Enganada pelos golpistas, ficou em cárcere privado por pelo menos três semanas, sendo dopada diariamente até morrer. O crime aconteceu no final de 2020, mas foi revelado pelo Fantástico, na noite de domingo (15).
Segundo as investigações, uma inquilina nova começou a se aproximar, ganhar a confiança de dona Sônia e a frequentar a casa da idosa. Era Danielle Esteves de Pinho que, segundo a polícia, era uma das integrantes da quadrilha.
Para ter acesso ao dinheiro da vítima, Danielle e os outros integrantes da quadrilha especializada passaram a dopá-la e assim, conseguiram controlar e executar melhor o plano. Vários saques e transferências já estavam sendo feitos pelo bando. Havia saques de mais de R$ 800 mil nas contas da idosa. Em casa, o cofre que mantinha estava vazio.
De acordo com a polícia, os criminosos tiraram a vítima de casa e a levaram para um apartamento em Copacabana, onde foi dopada até a morte. Segundo os investigadores, a idosa não aguentou tantos remédios que a mantinham dopada e acabou morrendo. Para ocultar o corpo, os criminosos enterraram Sônia com outro nome, no Cemitério do Caju, Zona Norte do Rio. Após exumar o corpo, a polícia confirmou que o corpo enterrado com o nome de Aspásia Gomes era na verdade o de dona Sônia.
Segundo as investigações, Andréa Cristina é uma das chefes da quadrilha. Ela é dona da empresa que recebeu R$ 430 mil da idosa. Ela já responde a processo por se apropriar de R$ 1 milhão de uma outra idosa do Rio de janeiro, que também se chama Sônia. Danielle Esteves conseguiu na Justiça a revogação da prisão preventiva e está em liberdade. O advogado José Pinto já teria sido preso por tráfico internacional de drogas e responde a processos por estelionato, uso de documentos falsos e associação criminosa. Todos os envolvidos vão responder por extorsão com resultado em morte.
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