Pastor Felippe Valadão durante apresentação em Itaboraí, nesta quinta-feiraReprodução

Rio - O relator da CPI da Intolerância Religiosa da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Átila Nunes (PSD) vai acionar o Ministério Público para que investigue o uso de dinheiro público pela Prefeitura de Itaboraí para realização de um show, onde houve incitação ao ódio contra adeptos de religiões de matriz africana.
Durante o evento, realizado na noite da última quinta-feira (19), em comemoração ao aniversário da cidade, o pastor Felippe Valadão ameaçou acabar com os terreiros de Umbanda do município e "converter" os dirigentes dos centros espíritas da região. O prefeito Marcelo Delaroli (PL) estava no palco, acompanhado de outras autoridades locais. Para o deputado Átila Nunes, o MP e a Decradi, delegacia especializada em crimes de intolerância religiosa, devem investigar o caso para que os responsáveis sejam punidos.
"O ódio religioso promovido e financiado por Itaboraí precisa ser investigado. Preparamos uma representação ao Ministério Público contra o autointitulado pastor e contra o prefeito de Itaboraí, que patrocinou o show de horrores com dinheiro público. Também vamos pedir que a Decradi entre no caso para que ameaças contra a liberdade de toda a diversidade não sejam banalizadas. Não vamos permitir que a violência volte a silenciar os cultos afro-brasileiros no Rio", afirmou Átila Nunes.

A vice-presidente da Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Alerj, a deputada estadual Mônica Francisco também propôs ao colegiado o envio de ofício à prefeitura de Itaboraí cobrando explicações sobre as declarações do pastor.

Assinado pelo presidente da comissão, o deputado estadual Carlos Minc, o ofício será enviado, nesta sexta-feira, ao prefeito Marcelo Delarole, questionando a intolerância religiosa em evento bancado por dinheiro público em um Estado laico. Apenas com o primeiro dia de eventos, que contou com a apresentação do pastor e de outros cantores de gospel, o município gastou R$145 mil.

"Essa atitude nos causa muita tristeza e indignação. Como vice-presidenta da comissão, considero este ato realmente violento, que deve ser alvo de condenação veemente por parte de amplos setores. Desejo que a gente não venha mais a tolerar esse tipo de postura por parte de quem quer que seja", disse Mônica.

Pastora evangélica progressista, Mônica Francisco repudiou as declarações do pastor e ressaltou que no Estado laico toda fé deve ser respeitada. "Xingar ou demonizar pessoas por conta de sua religião é contrário aos preceitos bíblicos. Quero reafirmar que a narrativa bíblica não orienta a violência contra quem quer que seja, muito pelo contrário. Na própria orientação da figura histórica de Jesus, enquanto profeta e mestre, ele dizia que era necessário amar ao próximo como a si mesmo e que não devemos fazer diferenças entre as pessoas", disse Mônica.
A Prefeitura de Itaboraí informou que declarações dos convidados e artistas para as apresentações são de inteira responsabilidade deles. "A Prefeitura destaca ainda que o governo é para todos e reitera que não apoia nenhum tipo de intolerância religiosa", disse em nota.