Contraventor foi preso durante operação da Delegacia de Homicídios e MPRJReprodução/Redes Sociais

Rio - Uma operação da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) junto com o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ) prendeu, nesta terça-feira (24), o contraventor José Caruzzo Escafura, conhecido como Piruinha, de 93 anos, em sua casa, no bairro da Abolição, na Zona Norte do Rio. A prisão aconteceu por volta das 6h. O bicheiro é apontado como mandante de um assassinato que aconteceu no ano passado. Equipes da Corregedoria Geral da Polícia Militar (CGPM) também participam da ação. 
O segurança de Piruinha, o policial militar Jeckson Lima Pereira, o "Jeck", lotado no 15º BPM (Duque de Caxias), também foi preso nesta terça-feira. Ambos foram levados para a sede da especializada, na Barra da Tijuca. A ação de hoje pretende cumprir três mandados de prisão e 20 de busca e apreensão. A filha do contraventor, Monalliza Neves Escafura, também é procurada. Em um dos locais de busca, um homem foi preso em flagrante com uma arma. Um carro roubado foi recuperado. 
Os mandados foram expedidos pelo III Tribunal do Júri da Comarca da Capital, a partir de denúncia do Gaeco pelo homicídio de Natalino José do Nascimento Espíndola, conhecido como Neto. De acordo com as investigações, no dia 23 de julho de 2021, Jeck matou o homem a tiros. O militar estava em um carro preto, com placa adulterada, que foi visto circulando pela região por vários dias.
Segundo a denúncia, o crime foi praticado por motivo torpe, já que a vítima foi morta por não ter pago uma dívida em dinheiro que tinha com contraventores da cidade. A família de Piruinha teria sofrido prejuízos milionários com o empreendimento de Natalino José em uma construtora. Atual "gestora" dos negócios da família Escafura, Monaliza passou a buscar, sem sucesso, o ressarcimento dos prejuízos.
Neto sofreu uma emboscada quando seguia a pé para a sua loja de veículos, a Auto Mix Veículos, na Estrada Intendente Magalhães, próximo a Rua Nova do Amorim, em Vila Valqueire, na Zona Oeste. Natalino era neto de Natal da Portela, patrono da escola de samba de Oswaldo Cruz, e ganhou o mesmo nome do avô. Ele era também sobrinho de Nezio Nascimento, presidente de honra da Escola de Samba Tradição. O morto era alvo de 14 processos na Justiça.
"Bastam estes argumentos para, em meu sentir e de forma concreta, dar como certo o risco à garantia da ordem pública, pois a forma como a ação foi executada prova que os envolvidos são pessoas altamente ousadas e aptas a reiterar ações semelhantes pelas vias públicas da cidade, sacrificando, inclusive, o que não seria novidade, as testemunhas", alegou o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, titular da 3ª Vara Criminal da Capital, em sua decisão. 
'Notório contraventor', descreve MPRJ
Piruinha exerce, há décadas, o domínio do jogo do bicho em diversas regiões da capital fluminense, em especial nos bairros de Madureira, Abolição, Cascadura, Maria da Graça, Piedade e Inhaúma. José Caruzzo ainda arrenda outras áreas para exploração de jogos de azar para outros contraventores, como as divisas com os bairros de Cascadura, Piedade, Pilares, Abolição, Quintino, Campinho e Praça Seca. Pelo Ministério Público, ele é descrito como um "notório contraventor".

Em 21 de maio de 1993, José e os outros 13 maiores contraventores do Rio, à época, foram condenados a seis anos de prisão, pena máxima para o crime de formação de quadrilha ou bando armado. Por estratégia da juíza Denise Frossard, a prisão dos bicheiros aconteceu uma semana antes da sentença ser proferida, para evitar que eles fugissem.
Os bicheiros compareceram à audiência escoltados por diversos seguranças armados. Entretanto, a pena foi modificada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e acabou sendo reduzida para a metade. Os advogados dos contraventores ainda conseguiram, por meio de recursos, excluir o crime de bando armado e, quase cinco anos depois, todos os condenados já estavam em liberdade.

No ano de 2014, Piruinha chegou a ser investigado por uma suposta ligação com uma quadrilha de abortos clandestinos, após escutas telefônicas da Polícia Civil terem revelado que ele convidou para sua casa em Búzios, na Região dos Lagos, Iracema Ferreira Piske, apontada como chefe de uma quadrilha que fazia as cirurgias nas gestantes, em Bonsucesso, na Zona Norte. 

Também envolvido com a contravenção, um dos filhos de Piruinha, Haylton Carlos Gomes Escafura, foi assassinado, dentro do Hotel Transamérica, na Barra da Tijuca. O crime aconteceu em 14 de junho de 2017. Ele estava acompanhado da policial militar Franciene Soares. Ambos foram encontrados no banheiro e atingidos por, ao menos, dez disparos. Na ocasião, diversas cápsulas de fuzil e pistola foram deixadas no local.

Haylton foi preso pela Polícia Federal em junho de 2012, em um cerco a 31 suspeitos de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis, após ficar oito meses foragido da Justiça. Ele foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão. Segundo o Tribunal de Justiça, ele cumpria liberdade condicional. Durante o regime semiaberto, ele voltou a ser preso, em 2015, após ser descoberto que o contraventor burlava o benefício.

Outro filho de José Caruzzo, Luiz Carlos Escafura, foi presidente da Portela, entre os anos de 1995 a 1997. Ele morreu em fevereiro de 2010, após complicações causadas pelo diabetes. Em março de 1994, um neto de Piruinha, André, à época com 15 anos, foi sequestrado. Um ano antes, em abril de 1993, outra neta, Renata, 6, e a avó da menina, Elenyr Amaral, também foram reféns de criminosos.