Mãe de cabeleireira morta é abraçada pelo neto durante sepultamento no cemitério do Caju, na Zona PortuáriaCleber Mendes/Agência O Dia

Rio - "Não quis e não quero saber da onde veio a bala". As palavras de Divone Ferreira, de 72 anos, marcaram a despedida da filha, a cabelereira Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos, morta durante confronto na Vila do Cruzeiro, na Penha, nesta terça-feira (24). A moradora da Chatuba, que está entre os 25 mortos da operação no complexo de favela da Zona Norte do Rio, foi enterrada sob forte comoção de parentes e amigos no início da tarde desta quarta-feira, no Cemitério do Caju, na Zona Portuária.
"Eu quero deixar para ela que ela foi muito amada, será lembrada. Lutarei para ninguém sujar a imagem dela, seu nome. Minha filha era uma pessoa muito trabalhadeira e alegre. Ajudava pessoas sem conhecer, dava de comer e fazia cabelo de vários moradores da comunidade de graça. Uma pessoa linda, amada e sensata", comentou dona Divone, que lembrou o desejo da filha de se tornar uma empresária bem sucedida.
"Ela chegou aos sonhos dela. Teve três ou quatro salões de beleza. Ela era linda, foi rainha do carnaval de 2002 de Petrópolis. Estava no Rio há 18 anos", afirmou.
Dona Divone, que segue morando em Petrópolis, de onde a filha saiu para empreender no Rio, contou que ficou sabendo da notícia da morte de Gabrielle pelo neto. "Meu neto estava lá no local, mas ficamos sabendo de tudo pelo Twitter", disse.
Apesar da perda da filha, Divone disse não querer saber da onde partiu o disparo que a atingiu. Segundo ela, nada vai trazer sua filha de volta. "Até hoje, não quis e não quero saber da onde veio a bala. O que não deveria acontecer aconteceu, foi minha filha morrer. Hoje estou aqui enterrando minha filha", lamentou. 
De acordo com o Corpo de Bombeiros, Gabrielle estava na Rua Dionísio, na Chatuba, na parte baixa do complexo, quando foi atingida por um disparo. Socorrida e levada para o Hospital Getúlio Vargas, a vítima de bala perdida não resistiu aos ferimentos e morreu na unidade de saúde. Viúva de um militar, Gabrielle deixa um filho de 17 anos.
Segunda operação mais letal do Rio
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que subiu para 25 o número de mortos na megaoperação na Vila Cruzeiro, na Penha, Zona Norte do Rio, nesta terça-feira, a segunda mais letal da história do Rio. De acordo com a pasta, dois suspeitos internados sob custódia no Hospital Estadual Getúlio Vargas, também na Penha, morreram durante a madrugada desta quarta-feira. A Secretaria Municipal de Saúde confirmou que um menor de idade, sem identificação, chegou morto à UPA do Alemão, na terça.