Pela primeira vez foram encontrando ossos maiores e com articulações intactas, o que evidencia, pela arqueologia, que se trata de uma necrópole e não apenas um depósito de ossosDivulgação

Rio - O Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN) reinaugura a exposição permanente do Museu Memorial Pretos Novos, nesta quinta-feira (8), às 18h, em sua sede, no bairro da Gamboa, na Região Central do Rio.
A exposição foi elaborada a partir de três importantes pontos: a Matriz Africana (melhor compreensão sobre as diferentes civilizações africanas antes de serem escravizadas e suas contribuições para as ciências, tecnologias e artes), o Mercado da escravidão no Brasil (desde a chegada dos primeiros grupos de escravizados ao Brasil, passando pela brutalidade a que eram submetidos até a constituição do Complexo do Valongo, considerado o ponto alto do tráfico escravagista no Rio) e a tentativa de apagamento da memória da escravidão na Pequena África (o descobrimento do sítio arqueológico pela família Guimarães dos Anjos e os seus desdobramentos).
"O sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos é uma ferida aberta na sociedade e se apresenta como testemunho de um genocídio africano em terras brasileiras. Esta falta de entendimento histórico fomenta a manutenção de uma sociedade brasileira racista e violenta", afirma Marco Antonio Teobaldo, curador do museu.

Programação tem também abertura de exposição ''Erva Santa''

O museu ainda apresentará ao público a exposição Erva Santa, do artista Geleia da Rocinha, nascido e criado na comunidade, que utiliza em suas obras ervas sagradas utilizadas nos ritos das religiões de matriz africana. 
''A exposição Erva Santa marca a reabertura da galeria de arte contemporânea e se apresenta como um instrumento de divulgação dos saberes das religiões de matriz africana e também como inspiração para o combate ao racismo religioso, que vem crescendo nos últimos anos, sobretudo no estado do Rio'', afirma Teobaldo.
Novas escavações e laboratório de arqueologia interativo

Cinco anos após a última escavação no sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, a equipe de arqueologia do Museu Nacional (UFRJ) volta a campo para realizar novas buscas. Sob o comando da professora Andrea Lessa, o início do trabalho está previsto para julho, exatamente no local destinado ao novo laboratório. Um dos principais objetivos é comparar os estudos já realizados nas escavações anteriores, com esta nova área que nunca foi tocada.
''Estou muito entusiasmada com essa nova etapa da pesquisa, uma vez que será escavada uma área diferente do cemitério, mais central. Assim, por um lado, será possível verificar se as informações inicialmente obtidas sobre a dinâmica de ocupação são válidas para todo o espaço; e ao mesmo tempo esperamos encontrar um número maior de estruturas funerárias intactas, o que será fundamental para ampliarmos o entendimento sobre as práticas funerárias e sobre os indivíduos ali enterrados'', diz Andrea.
''Após tanto tempo de esquecimento, reconhecer o Cemitério dos Pretos Novos Novos como um importante patrimônio nacional e como um local sagrado para a população afrodescendente representa um resgate histórico obrigatório e um meio eficaz de preservação da nossa memória'', completa a arqueóloga.
Além das informações atualizadas levantadas a partir das pesquisas arqueológicas, o espaço expositivo terá um laboratório arqueológico que vai permitir o público na galeria acompanhar ainda mais de perto o trabalho dos profissionais, através de uma janela.

Além do Museu Memorial e da Galeria de Arte Contemporânea, o IPN também conta com uma biblioteca e um auditório constantemente ocupado com a programação de oficinas ao longo de todo o ano. Após quase dois anos de distanciamento social, o museu funciona normalmente. As visitações gratuitas acontecem às terças-feiras, das 10h às 16h. As pagas são de quarta a sexta das 10h às 16h, e aos sábados das 10h às 13h, com ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).